sábado, 31 de maio de 2008

hoc est bellum

De forma a responder ao Francisco no que toca ao repto lançado por ele no seu último texto (a propósito, pedia-te Francisco que lhe desses um título, para depois ser mais fácil "linka-lo"), queria focar o aspecto "liberal" no que toca às políticas seguidas pelos liberais em relação a esse assunto, a educação.
Diz-nos o Francisco que "Todavia, creio que o investimento educativo nos cidadãos pelo Estado é um dever(...) Pôr em causa esse dever é, a meu vêr, pôr em causa o Estado" (adaptação minha, creio que não faz falta as partes que eu cortei, e mesmo assim o texto do Francisco encontra-se mesmo aqui perto). Depois disso, considera isto algo incompreensivel aos ditos liberais, porque este parecer seria o de "um Estado presente, solidário e promotor de um desenvolvimento sustentado e em plena igualdade de oportunidades para todos." (mais uma vez, adaptação minha, sem prejudicar integralmente o texto).Ora, eu penso que não há nada nas políticas liberais que ponha em causa esse dever de estado, aliás, os liberais são pródigos em aceitar deveres do Estado, é complicado é quando lhes vêm falar de Direitos do Estado oponentes aos Direitos do Cidadão.
De facto, numa sociedade moderna, não faz sentido idealizar um sistema de ensino que não seja gratuito, ou tendencialmente gratuito, dependendo das infra-estruturas e meios dos Estados. A verdade é que esta mentalidade não tem exclusivismos de Esquerda, não é sequer uma exclusividade deste século. Um liberal considera que, de forma a que cada cidadão possa ser livre, deve ter acesso a uma educação completa, suficientemente enriquecedora para o formar, enquanto animal político e social, nas gastas palavras do Grego.
Melhor, um liberal acredita, faz questão, que um cidadão possa ter acesso a uma educação sem restringimentos económicos, e ainda que tenha a liberdade de escolher onde a quer! Mais importante do talvez ter acesso a ela, o cidadão deve poder escolher educar-se como e onde quer, e o Estado assegura-lhe assim um Direito Fundamental(que não o é na nossa constituição, mas que está de certa forma implícito como tal). Para esta questão ler o "Estudo de Direitos Fundamentais" do Gomes Canotilho, na parte dos direitos sociais e económicos.
Daí tem o liberal que aceitar que os meios do Estado não são ilimitados(pelo menos na maioria dos Estados, em Portugal desde 1974 os recursos assim o são). Ora nesse caso, há que apostar numa certa descentralização e democratização do ensino. Há que colaborar com as escolas privadas, que mesmo não sendo organismos públicos, funcionam em prole de um interesse comunitário, exemplo das escola privadas católicas, que fornecem um ensino religioso a todos os que estiverem interessados a aliar o seu ensino ou dos seus filhos à prática da religião, e eu excluo deste exemplo as que se remetem à prática exclusiva da religião, porque seminários e bar mitzvahs podem muito bem pagar-se a si mesmos.. Isto tudo vai no interesse máximo de uma das normas constitucionais mais bonitas da nossa constituição, essa mulher que nunca pára de me impressionar à medida que a vou conhecendo, sendo essa norma a seguinte:
Artigo 43.º
Liberdade de aprender e ensinar

1. É garantida a liberdade de aprender e ensinar.

2. O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.

3. O ensino público não será confessional.

4. É garantido o direito de criação de escolas particulares e cooperativas.

Ora, isto é lindo. Isto é mesmo muito bonito, principalmente aquele segundo artigozinho, que está mesmo a calhar. Isto é uma medida de influência liberal, é um travão aos condicionalismos de ensino que alguns partidos ditos democráticos queriam criar no pós-25 de Abril, para contrapor aos condicionalismos do ensino da era anterior.
De facto, o dever do Estado é, pura e simplesmente, assegurar o acesso de todos a uma educação livremente escolhida, independente de condição económica ou geográfica.
Ora isto, meus senhores,só isto, meus caros cavalheiros e senhoras, custa muito dinheiro.
Daí o liberal afirmar que o Estado deve incentivar à concorrência entre estabelecimentos de ensino superior e de 3º ciclo, num objectivo de fornecer ao aluno um vasto leque de escolha de estabelecimentos de ensino com disciplinas que lhe interessem, e assim desenvolver e especializar certos focos de cultura e tecnologia.
A verdade é que as escolas precisam de mais autonomia, precisam de mais contacto com as comunidades, precisam de uma abordagem realista para com o mercado de trabalho. Queria focar-me em duas alíneas do artigo 74º, anteriormente previsto pelo Francisco Noronha:


e) Estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino;
f) Inserir as escolas nas comunidades que servem e estabelecer a interligação do ensino e das actividades económicas, sociais e culturais;


Muitos liberais conservadores acusam o carácter extremamente programista da nossa constituição, no entanto neste ponto tal não pode ser observado.
Tudo o que aqui se prevê é a simples regulação estadual no que toca à adaptabilidade das escolas no seu meio, na f), e na e) prevê-se a progressiva gratuitidade.
Estes pontos foram abordados, recentemente, pela Direita portuguesa, num projecto-lei apresentado pelo CDS, para que houvesse mais facilidade aos pais para escolher o sítio onde os filhos estudassem, muitas vezes tratando-se de escolas privadas por razões de proximidade!
Um liberal não vê o ensino comparticipado pelo Estado como necessariamente público. O Cidadão tem tanto direito a aprender como a ensinar. E tem tanto direito a ensinar, como a aprender aquilo que ele quer.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

No seguimento do post do Nélson sobre o ensino e dos comentários a ele adjacentes, lembrei-me de uma aula da Professora Anabela Leão e por isso pensei: "vou (tentar) lançar uma guerrinha!".
Assim sendo:

Quando a CRP nos diz, na alínea a) do nº 2 do artigo 64º, que o serviço nacional de saúde nacional é "universal e tendencialmente gratuito", o termo "tendencialmente" significa exactamente o quê? Aqui não há exegese ou hermenêutica possível. Porque a letra não é efectivamente clara. "Tendencialmente" significa a tender para 0 e por isso no futuro totalmente gratuita? Ou significa o mais universalmente acessível a todos, especialmente aos mais carenciados, o que implicará sempre um mínimo monetário?
Ora na Educação, na teoria, o problema não se coloca. Pois que a alínea e) do nº2 do artigo 74º assevera “Estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino”. O advérbio aqui tem uma conotação completamente diferente do anterior. Parece-me aqui claro a intenção prático-normativa do legislador: com o tempo, fazer de todos os graus de ensino livres de encargo financeiro por parte dos utentes. Ainda assim, recorrendo ao clássico "espírito" da lei romano (teleológico, histórico e sistemático), e tendo em conta que:
a) Teleológico - a finalidade é uma e única: garantir a todos educação, cultura e todos as demais condições para um futuro próspero;
b) Histórico – num contexto de um Estado Social (e num momento como é o 25 de Abril), em que se quer que a socialidade passe de uma esfera jurídico-positiva para uma esfera material, real;
c) Sistemático – a CRP apresenta um fortíssimo pendor humanista e social (são tantos os artigos que não vale a pena transcrevê-los);
Eu creio que o ensino deve ser gratuito, sem reservas ou atenuações. Universal e gratuito. Confesso que a ideia do Tiago Ramalho é sedutora. Todavia, creio que o investimento educativo nos cidadãos pelo Estado é um dever e não um direito relativo ou de crédito. Um direito que implica um retorno ou uma compensação. Pôr em causa esse dever é, a meu vêr, pôr em causa o Estado. Evidente que isto não fará sentido nenhum para os ditos “liberais”, mas fala-vos um acérrimo apologista de um Estado presente, solidário e promotor de um desenvolvimento sustentado e em plena igualdade de oportunidades para todos. O que depois vamos ou não fazer para o bem comum é outra coisa. E, no limite, ninguém tem a obrigação de o fazer, por mais que eu ache que o deva, de forma a contribuir para um presente harmonioso e um futuro ainda mais próspero e solidário.
Tiago, não sei se o modelo que referiste é o inglês ou, segundo o Manel, o nórdico. Todavia, entre os nórdicos, pelo menos o finlandês não encaixa nesse modelo. E não deixa de ser um sistema universalista e gratuito. E de excelente qualidade. Se vos contasse pormenorizadamnte os meandos do sistema vocês achariam ridículo o que aqui temos vindo a discutir sobre a gratuidade ou não do ensino.
Gostava de desenvolver um pouco mais esta exposição mas o estudo, neste momento, afirma-se castrador.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

o Há Discussão resume o debate PSD na SIC

Manuela Ferreira Leite, Santana Lopes, Pedro Passos Coelho e o outro falaram praticamente do mesmo, e têm basicamente as mesmas ideias.
Os rapazes estavam todos com gravatas horrorosas, excepto Manuela Ferreira Leite, que usou um singelo colar azul.

o Nepal é livre


já vi este filme muitas vezes, e acaba sempre da mesma forma...

terça-feira, 27 de maio de 2008

A gota de água

Bush afirma que a América «é a última grande esperança para a Humanidade».

Mussolini, Hitler e todos os nacionalistas brutos, xenófobos e racistas disseram coisas como estas.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Se dúvidas existiam (obrigado, caro anónimo)

Jimmy Carter: Israel tem pelo menos 150 armas nucleares.

Tratado de Não-Proliferação? Lixo com ele! Ou então faz-se outro para acalmar as massas. Eliminamos alguma coisa, melhoramos o que temos e ajudamos os amigos. Mas só os amigos!

Volto a lembrar, para os mais apegados à hermenêutica jurídica, que quer no Preâmbulo, quer no artigo VI do TNP, se preconiza o desarmamento total nuclear "the earliest possible". Já para não falar da não proliferação e da proibição de difusão de conhecimento tecnológico para fins nucleares militares a outros estados.
Já lá vão 41 anos...

domingo, 25 de maio de 2008

Era uma dose de ensino gratuito se faz favor!


Vivemos uma sociedade estranha. Marcada por estranhos comportamentos e estranhos costumes. Todos os dias constatamos o pouco altruísmo que existe entre nós. A amizade cada vez mais é só um conceito para unir grupos e estereótipos.

Eu tenho uma teoria, e sublinho, teoria, pois ainda não foi posta em prática e não tenho maneira de a equacionar no mundo real. Mas numa perspectiva teórica o facto de pagarmos para estudar é, do meu ponto de vista, ultrajante. Porque em primeiro lugar é uma redundância recheada de injustiça, no cerne da questão está o facto de nós estarmos a aprender algo para mais tarde o pormos em prática, tanto ao serviço do Estado como, e acima de tudo, para mantermos o tipo de sociedade vigente – (de facto também podemos usar os conhecimentos para a desafiar, mas o preceito é usa-los para nela nos integrarmos e alguns usam os conhecimentos adquiridos para a melhorar.) Sendo assim, e estando nós em controlo subjectivo da educação, e digo isto porque reparem, se todos nós estudantes congelasse-mos o ensino, isto é simplesmente não estudássemos ou fizéssemos algo útil para a Sociedade, passaríamos os dias na praia a comer areia e a beber agua salgada, quando chovesse ou fizesse frio íamos todos para de baixo de umas rochas. Nalgum momento durante este revolução se a adesão fosse 100% iria começar a existir falta médicos, enfermeiros, advogados, engenheiros (…) Infra-estruturas existiriam muitas: consultórios para serem arrendados, litígios para serem resolvidos, pessoas para serem curadas iriam existir uma massa enorme de assuntos e casos relacionados com estes sectores, no entanto os profissionais iriam começar a ser poucos, visto estarem na praia. (Peço desculpa pela leviandade.)
Passo a passo os efeitos iriam sentir-se, e a nossa falta nesta sociedade iria ser sentida, iríamos mudá-la e talvez as nossas pretensões conquistadas.
Sendo assim, se nós estamos a ser preparados para em princípio actuarmos de modo a proteger uma maneira de vida, uma forma de sociedade, por que temos que pagar pela nossa formação?

Sinceramente, compreendo muitas das questões de bastidores. E compreendo a necessidade das Instituições da Educação em sobreviverem com os parcos orçamentos dispensados pelo Estado, no entanto o mais importante aqui, e sem tirar relevância à questão prévia, é a outra face da moeda – quantos milhares de jovens com enorme potencial para enriquecer determinadas áreas, talento tanto de potencial cognitivo mas também de, como se diz na gíria, de terem queda para, ora devido aos elevados custos da educação, à necessidade de muitas vezes terem que mudar de cidade, entre outros problemas ficam sem hipóteses de uma educação superior. É um desperdício de potencial, logo nesta altura que o país precisa de todas as cabeças a pensar juntas na resolução dos mesmos problemas. Essas cabeças acabam por ser desperdiçadas em trabalhos de enorme valor mas que no entanto não são nada adequadas para o potencial deles.

Também tenho consciência do bónus que as bolsas fornecem, tanto as de mérito como as de necessidade. No entanto, essas nunca cobrem a totalidade dos custos, além de que a corrupção do sistema social é um facto abrangente, assim como a duvidosa seriedade das pessoas que têm rendimentos por baixo da mesa e não os declaram ou só declaram parte o que leva a um sem número de verdadeiros necessitados desse pequeno suplemento que no entanto dão por si privados de bolsa.

Como já dei a entender defendo avidamente um ensino público grátis. Alguns dirão que um ensino público grátis iria cultivar a malandrice, e a preguiça nos estudantes. Eu respondo que a par com um ensino de graça também pretendo um que valorize quem se esforce e demonstre mérito, pois aquele que por motivos inadequados falhar, deverá pagar por essa educação, porque não demonstra o mérito necessário. Elitismo? Não, penso que não. Mas de facto não é, dentro do que eu penso, um suposto dever de outros pagar a malandrice de alguns. Por outro lado, também não defendo que um aluno só por apresentar notas negativas deva ser logo excluído, uma comissão de pessoas capazes, inteligentes, compreensivas, e acima de tudo justas e dotadas de bons princípios morais deve observar o caso, e se por acaso, a conclusão for que houve algum factor externo ao aluno que tenha levado a um período de clara irresponsabilidade ou loucura, bem deve ser compreendido.

Não estará na altura de exigir um compromisso em que o «Estado assumisse plena responsabilidade pelo financiamento integral do subsistema de ensino superior público, concretizando a progressiva gratuitidade que a Constituição da República consagra, eliminando o sistema de restrições quantitativas globais no acesso, abrangendo a generalidade dos domínios do conhecimento, satisfazendo as necessidades sociais e as aspirações pessoais, e cobrindo equilibradamente o território nacional?»

Não será altura de surgirem orçamentos em que a educação seja realmente privilegiada, em que o aluno, o estudante, o futuro governante, o futuro membro da sociedade seja protegido, e porque não dizê-lo ajudado. Afinal de contas nós somos o futuro, tudo depende nós, e muitos dos anciões dão pouco por esta geração, mas quem está cá, passo a passo sente a responsabilidade e sente a verdade, que nós iremos fazer a diferença. Mudar um pouco, por mais ínfimo que seja o mundo à nossa volta.

Sou alguém pacífico, o mais violento que posso ser é agarrar-me ao PC por 19 horas a jogar Unreal. No entanto é altura de mexer algo, de gritar algo, o ano que vem talvez seja o ano daquele oásis. Agora que o rumor , cada vez mais vernáculo se ouve, captamo-lo a cada esquina o som do aumento da propina. Protegido pelo do empréstimo protector. Que parceria, que duo, que dependência, que entrada no mercado de trabalho. Aos meus olhos e citando a gíria, parecem-me desculpas de mau pagador!

«Nós queremos ensino gratuito», por que nós «temos um sonho.» Unidos sem preconceitos, sem diferenças, se não for pedir muito sem pretensões de catilinários. Que o grito pacifista despolete. E que algo mude!

Eu quero que mude, e vocês?

quinta-feira, 22 de maio de 2008

"Uma moedinha para a GALP."

Foi com um sorriso irónico que me deliciei com esta pequena crónica de Manuel António Pina publicada no Jornal de Notícias.


"A GALP está inconsolável. No primeiro trimestre deste ano teve menos 8.4% de lucros que no mesmo período do ano passado, e agora só está a ganhar 1.2 milhões de euros por dia. O que é isso comparada com mais 2 ou 3 cêntimos nos preços da gasolina e do gasóleo? Os portugueses sãos uns queixinhas. (...) A culpa da extrema pobreza da GALP (um dia destes haveremos de ver o dr. Ferreira de Oliveira e outros administradores da GALP a pedir à porta da igreja dos congregados) é o aumento do preço do petróleo. É certo que entre Dezembro de 2006 e Dezembro de 2007, o preço da gasolina aumentou em Portugal 11% e o do gasóleo 17.2%, enquanto o preço médio do petróleo em euros, subiu apenas um 1.5%. Mas a Galp tem muitas despesas; ainda há dias por exemplo, teve que comprar a Esso. Por isso, o dr Ferreira de Oliveira vê «com profunda tristeza a especulação incompetente». (Não a especulação financeira, que é, como se tem visto, particularmente competente a fazer subir preços, mas a dos consumidores que acusam a GALP e demais petrolíferas de cartelização, quando se sabe que os aumentos simultâneos dos preços de combustíveis são mera coincidência).
Por que não fazer um peditório nacional a favor da GALP?"



De: Manuel António Pina in Jornal de Notícias (22 de Maio 2008)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

a política vista por um liberal

Depois de Maquiavel o poder passou a ser visto pelo realismo político como uma potência neutra. Isto é, não há «bom» ou «mau» poder, mas sim muito ou pouco poder. Não sendo possível antever quem o vai manusear, é todavia razoável admitir que o seu uso deficientemente tutelado, sobretudo se em quantidades excessivas, conduzirá sempre ao mau governo e ao abuso. Por essa razão, John Emerich Edward Dalberg, mais conhecido por Lord Acton, em carta remetida ao Bispo Creighton, no ano distante de 1887, advertia que: «quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, frequentemente homens com mentalidade de gangsters detêm o controlo. A história provou isso. Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente.» Por essa mesmíssima razão, o efeito corruptor do poder, Gandalf advertiu Frodo que nunca, nunca em alguma circunstância, ele deveria usar o anel do poder, aquele que lançara a Terra Média nas trevas, e que o deveria destruir quando o conseguisse encontrar na demanda para que fora escolhido. O Senhor dos Anéis é a mais moderna fábula sobre o poder e a soberania. Muito boa, por sinal.

Numa versão benévola do funcionamento de um mercado político, os políticos, especificamente os que detêm o governo, cumprem razoavelmente os objectivos para que foram eleitos e evitam, até por razões de interesse pessoal (não serem afastados do poder por meios violentos ou pelo exercício do voto), situações incómodas, de difícil explicação pública, sobretudo as que se prendem com a aquisição ilegítima de recursos públicos. Todavia, não é necessário ser um político corrupto para ter a busca de renda como objecto prioritário da actividade política. De facto, ela permite aos seus executores uma mais fácil obtenção de riqueza e rendimento através da utilização de esquemas e favores próprios de quem detém poder soberano, que não existem na economia privada. Os economistas da Public Choice chamam a este procedimento típico dos actores políticos «rent seeking» e ele justifica muito da sua acção. Através dele, transferem-se para os agentes políticos, para os burocratas e, sobretudo, para os grupos de interesses próximos do poder rendimentos públicos que são verdadeiramente colectados na economia privada, aos quais não teriam fácil acesso fora da política. Uma análise, ainda que linear, da realidade portuguesa, demonstra-o facilmente.

África rica e África xenófoba

A África do Sul tem tido uma década de grande crescimento enquanto o vizinho Zimbabwe de Robert Mugabe está no desespero e, diz William Gumede ainda no Guardian, "nestes dez anos houve a maior emigração em massa num curto período na história moderna do país". O que leva a que os sul-africanos "achem que os imigrantes africanos estão a tirar- -lhes empregos e casas. Ainda por cima, no meio do 'boom' económico, os serviços fornecidos pelo Governo aos negros dos bairros pobres têm sido desesperadamente desadequados". Há uma nova classe média negra, mas a desigualdade tem crescido nesses bairros pobres.

no seguimento dos posts da Daniela.

O dilema da selecção

Com uma selecção treinada por um brasileiro e com jogadores naturalizados, será que os nacionalistas portugueses torcem pela selecção? Apenas pelos golos e jogadas feitos pelos portugueses de gema? Mas e as jogadas, serão válidas porque são feitas por um brasileiro? Não está fácil ser nacionalista dos dias de hoje, já nem a selecção é pura.

O ciclo da violência ou o estúpido sentimento de vingança

O ser humano está estranhamente talhado para esquecer rapidamente aquilo que lhe fizeram. Ou pelo menos alguns seres humanos assim estão talhados. Outros, não esquecendo aquilo que sofreram, aquilo que lhes infligiram, decidem fazer aos outros aquilo que durante anos os castraram e os fizeram sofrer. Por vários motivos isto sucede na Palestina. Sucede com um Estado de Israel que perpetua uma espécie de eugenia contra um território e um povo esquecendo que foram vítimas do massacre mais vergonhoso da história. Do lado Palestiniano as respostas são dadas sob a forma de terrorismo (porque quem ataca é terrorista; quando eles atacam estão a defender a integridade do território), e num ciclo imparável de violência, as novas crianças vão crescer entre fanatismos e terror e perpetuar a violência. Qualquer um de nós mataria se visse os seus serem mortos de forma cruel, em prol de algo que nem tem sentido de existência, e se fosse educado na base do ódio aos outros (os israelitas). Misturando-se religião e formas deturpadas de a entender, o ódio torna-se ainda mais grave. Possivelmente nunca algum de nós irá perceber porque existem bombistas suicidas: está demasiado fora do nosso alcance e da nossa realidade.
Outro dos acontecimentos mais vergonhosos da história terá sido em meu ver o Apartheid. De forma alguma é aceitável que nos tratem abaixo de cão, nos separem e nos usem como meros objectos de pancada e como meros “animais” de carga ou escravos de mão-de-obra. Mas, a queda do Apartheid trouxe um novo “Apartheid”. Aqueles que durante anos foram oprimidos e mortos de forma cruel, decidiram começar a matar. O alvo: aqueles que durante anos os fizeram sofrer, o opressor. Consequência? Ao invés de tentarem construir um novo país e os pilares para uma nova democracia com uma justiça eficaz, empenharam-se na vingança. É simples, todos os seres humanos são sedentos de vingança. É absolutamente primitivo e irracional. Mais uma vez, nunca poderíamos entender o que leva um ser humano a matar uma família inteira ou a queimar outros seres humanos vivos. A vítima de crimes de ódio passa a ser um criminoso que age por ódio a um grupo, a uma raça, a uma etnia. Infelizmente, a África do Sul não tem conseguido superar os danos de anos de Apartheid. Entristece-me por motivos pessoais e por motivos que vão para lá disso. Para os brancos que acreditam na sua superioridade, a culpa é dos pretos que efectivamente não sabem ser civilizados nem auto-governar-se, esquecem-se que escravatura é a forma mais clara de mostrar que alguém é incivilizado. O próprio racismo é primitivo e mostra as quão desprovidas de conhecimento e esclarecimento estão as mentes humanas. Hoje, enquanto escrevo este texto, na África do Sul muitos que apenas queriam uma nova oportunidade de construir uma vida, estão a ser perseguidos, chacinados, mortos. Queimados vivos ou espancados até à morte. Tudo porque apenas queriam começar num outro país uma vida que no seu não conseguiram ter. E o mesmo sentimento de ódio criado pela falta de estruturas sociais e pela falsa ideia, que sempre consegue revoltar e manipular as massas, de que a culpa quando as coisas estão mal é dos emigrantes, vai espalhando-se com uma violência espantosa. E enquanto que algum dos brancos que se sentam confortáveis nos seus sofás deste lado do planeta pensam que a culpa é dos pretos que não sabem ser civilizados, esquecem-se todas as suas formas de fazer o mesmo que todos os dias acontecem: quando olhamos de lado, quando fugimos, quando deitámos a culpa da nossa inércia e falta de vontade de procurar um emprego ou suportar um trabalho para os emigrantes.
Fica no ar a ideia de que apenas se pode mudar o rumo da África do Sul através da educação. Durante gerações a educação falhou e o sentimento de vingança foi perpetuado, agora é preciso corrigir os erros de muitos anos de colonização. Como em todos os outros lugares de África.

sábado, 17 de maio de 2008

umas merecidas férias

para a Daniela e o Francisco, umas merecidas férias num parque temático do agrado deles, na Estónia.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

um obrigado

muito, muito obrigado, à esquerda portuguesa, por manter o ensino deste país exactamente no ponto em que deve estar: o marasmo de sempre

fome

destruindo clichés.

terça-feira, 13 de maio de 2008

E para finalizar o debate desta tarde

Deixando de lado papéis desempenhados e porque a arte é nómada:

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazón
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel

Pa' una ciudad del norte
Yo me fui a trabajar
Mi vida la dej
Entre Ceuta y Gibraltar
Soy una raya en el mar
Fantasma en la ciudad
Mi vida va prohibida
Dice la autoridad

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Por no llevar papel
Perdido en el corazón
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Yo soy el quiebra ley

Mano Negra clandestina
Peruano clandestino
Africano clandestino
Marijuana illegal

Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazn
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel

Argelino, Clandestino!
Nigeriano, Clandestino!
Boliviano, Clandestino!
Mano Negra, Ilegal!

Manu Chao, Clandestino


segunda-feira, 12 de maio de 2008

juntem-se à causa


aqui podem encontrar 6 causas cujo valor humanitário interessam a qualquer um que tenha mínimo de sentido de dever cívico. não dispensem uma visita.

terça-feira, 6 de maio de 2008

nota editorial:

devido a causas relativas à vida estudantil, os autores deste espaço blogosférico abstêm-se de comentários quanto à ausência de textos que vai acometer este estaminé para as próximas semanas, talvez meses se mais do que 3 dos presentes autores atingirem o estado de sobrelotação de álcool no sangue, necessitando de ajuda médica para restabelecer o nefasto equilíbrio biológico.

até lá, sugiro que leiam os arquivos aí à vossa esquerda, logo em baixo da secção de autores. obrigado

sábado, 3 de maio de 2008

serviço em prol de uma queima bem engravatada

quinta-feira, 1 de maio de 2008

ode à democracia

Mário Soares não diminuiu o seu lugar na História com a desastrada aventura presidencial em que se meteu no final do Verão de 2005, aos oitenta anos de idade. Quando muito, a sua biografia terminará com uma nota melancólica ou até soturna, em dissonância com uma vida cheia de luz, grandeza e sucesso, em que os ocasionais revezes devem ser levados à conta do que por vezes inevitavelmente perde quem muito arrisca e luta. Era, e continua a ser, um “pai da Pátria”. Entre os seus muitos êxitos, avulta aquele que recolhe a gratidão e o louvor unânime dos Portugueses. Foi entre 1974 e 1976. Quando os comunistas se preparavam para confiscar a revolução de Abril e submeter Portugal a uma nova ditadura, e quando Cunhal planeava fazer de Soares um Kerensky português, Soares furtou-se a esse destino e liderou uma contra-revolução democrática triunfal: nem conduziu a uma “restauração” revanchista, nem ao aniquilamento dos adversários à sua esquerda. Conduziu, muito simples e precisamente, à Democracia. Soares cometeu um dos feitos mais difíceis da História: travar a revolução, sem cair na reacção.

E mais nada fica por dizer.

horrível 1º de Maio

Albert Hofmann, o pai acidental da droga psicadélica mais potente do mundo, morreu ontem de ataque cardíaco na sua casa perto de Basileia, na Suíça, aos 102 anos de idade. O anúncio foi feito no site da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicadélicos, entidade californiana que promove a investigação médica de substâncias como o LSD e a marijuana e que reeditou o livro de Hofmann em 2005. Terá morrido “feliz e satisfeito” por ter visto “a renovação da investigação científica da psicoterapia à base de LSD”.

Só se safa o feriado...