terça-feira, 30 de setembro de 2008


Apresento certos dados estatísticos e falo-vos da abstenção, o todo poderoso obstáculo, o inimigo público, número um das democracias.

Aponto, por ordem cronológica, as Legislativas de 1999 (1); as autárquicas de 2001 (2); as Presidenciais de 2001 (3); as Legislativas de 2002 (4); as Legislativas de 2005 (5); as autárquicas de 2005 (6); as Presidenciais de 2006 (7); o Referendo de 2007 (8).
1- 38%(mau); 2- 40%(pior); 3-49%(.....); 4- 38%(melhor); 5-35%(fico mais feliz); 6- 39% (voltou a piorar); 7- 38%(menos mal); 8-57% (só me vêm palavrões). Estas são as percentagens de cidadãos inscritos não votantes, de cidadaõs que conscientes dos seus deveres e direitos (então de direitos acérrimos defensores!),preferem não levantar o rabo (perdão pela palavra usada) do sofá para decidir o futuro do seu país, região, seja o que for, etc. Cidadãos que preferem criticar o famoso e gasto "estado das coisas" a fazer um mínimo esforço por mudá-las, por lutar por uma boa e melhor situação. Bem sei que estatísticas de nada servem e que são elas uma das três formas de se não dizer a verdade como disse Keynes (penso não estar errado no autor), mas para este importante aspecto anti democratico parecem me salutares.

Ou seja, estes mal fadados portugueses, vítimas das más opções (indiscutíveis) dos seus representantes por si eleitos, simplesmente preferem o pior caminho de todos.... a preguiça (sexto pecado capital).

A meu ver, não tenho outra forma de definir tal acção ( aqui inacção) com palavras que não cobardia, inconsciência e muitos vitupérios que de bom grado lançaria.

Pois eu acrescento vos mais, aquilo que eu entendo destes cidadãos abstencionistas (para alguns o novo poder): que não são, precisamente, cidadãos.
" É cidadão aquele que, no país em que vive, é admitido na jurisdição e na deliberação... Segundo a nossa definição, o problema é simples. Se participam no poder político, são cidadãos." Tais dóceis e deveras educativas palavras pertencem a Aristóteles. Claro que para aqui as usar tenho que considerar o evolucionismo secular entretanto volvido, mas penso que não o insulto a ele, em primeiro lugar, nem que cometo um erro tão grave que justificasse a não inscrição aqui destas palavras. Pois bem, a questão é esta mesma. Estes indivíduos, já despromovidos, não devem ser, efectivamente considerados cidadãos.

Exemplifico o caso português com uma pérola, vinda directamente do líder da bancada laranjinha: "o psd terá uma posição de abstenção construtiva"; contextualizando isto na votação na generalidade do novo código de trabalho. Eu o que me pergunto, e a vós também, é que vergonha é esta?! Então o maior partido da oposição não vota e diz que ainda é construtiva a abstenção! Só espero não os ver a apelar ao voto no proximo acto eleitoral.
É verdade, estes também não são cidadãos.

Mas permito me ainda adicionar uns mais pontos que me suscitam particular interesse:
1) Até que ponto se justifica a regionalização nos seus moldes actuais
2) Qual o papel que o referendo deve ter nas democracias actuais, de individuos abstencionistas
3) Porque motivo recorrem certas vezes os líderes político- estaduais ao referendo - a meu ver, não se trata de quererem uma democracia "mais exigente", mas sim uma questão de medo e de descompromisso pessoal.

últimos ensaios sobre o pânico e o medo induzido às massas

Paulo Pinto Mascarenhas no Jornal de Negócios

Convenhamos que se trata de um sério avanço para a esquerda não acreditar que, tal como nos finais do século XX caiu o muro socialista de Berlim, poderão agora ruir as paredes capitalistas de Wall Street, a caminho de uma sociedade sem classes ou sem "exploradores e explorados". Mas não se duvide que a esquerda viu na intervenção do governo federal norte-americano nos mercados, assim como no "plano Paulson", a vingança que aguardava desde 1989. Não me parece, porém, que a vingança venha a ser servida, quente ou fria. O capitalismo, como no passado, será capaz de se regenerar.


Para retirar lições da crise – e no lugar do "plano Paulson" – proponho um "Plano Paulo Pinto Mascarenhas" (PPPM).


Primeira e principal lição: nunca tirar conclusões ou procurar soluções apressadas. Ensina-nos o passado que as crises do capitalismo são cíclicas. Só nas economias socialistas é que não há ciclos, porque a recessão é permanente. Os decisores políticos têm de contar sempre com as crises e, por isso, devem actuar com a racionalidade da formiga em tempos de crescimento económico e incentivar mais a poupança do que o crédito. Para não acabarmos como a cigarra quando chega o Inverno, tal como acontece na actual crise financeira, o Inverno do descontentamento ocidental.


Segunda lição no "Plano PPPM": para quem não é de esquerda e se considere liberal-conservador, o Estado deve ser pequeno, ágil e forte - e todas as três características são essenciais para conjunturas difíceis como a que enfrentamos. As "nacionalizações" de que se fala poderiam ser evitadas, mas aconteceram em grande medida por incompetência dos agentes de regulação. As soluções estáveis e duradouras continuam a encontrar-se no mercado – e não no Estado. Como pudemos assistir ainda há poucos dias, numa notícia aliás publicada no Negócios, das ruínas verdes do Lehman Brothers nasceram as cores azuis do Barclays. Falta saber o que irá acontecer aos cerca de 10 mil trabalhadores da empresa falida, mas o mais certo é que as vítimas sejam os principais responsáveis pela má gestão e consequente desaparecimento do Lehman. Ou seja, os "capitalistas" que dão mau nome ao capitalismo.


Terceiro e último ponto: nem todas as ilações que se podem retirar da crise financeira servem para economias e sociedades onde o Estado é gordo e omnipresente, como acontece em Portugal. A propósito das falências da Fannie Mae e da Freddie Mac – instituições que, atenção, foram criadas pelo Estado e só mais tarde foram privatizadas, depois de se tornarem num encargo incomportável para o orçamento federal norte-americano –, alguma esquerda afirmou-se satisfeita por os portugueses continuarem a ser obrigados a descontar para um sistema público de segurança social. Esta seria a única forma de contarem com reformas garantidas. A miopia ideológica é grave e perigosa. Num país onde se morre mais do que se nasce, a segurança social pública não tem dinheiro para pagar as reformas de todos. Confiar nas promessas do Estado será penhorar a vida dos nossos filhos.


O plano da esquerda, que devemos evitar, é propor um capitalismo socialista planificado, regulamentado e taxado. Tudo para que não possa causar mais surpresas. Como resultado teríamos a estagnação económica, a redução de capitais disponíveis para novos investimentos e um acréscimo da corrupção na busca de favores estatais. A emissão de moeda e a concessão de crédito pelos bancos centrais seria o meio por excelência para estimular a economia, produzindo mais inflação, instabilidade cambial e, claro está, insegurança acrescida. A tal insegurança que acredito todos queremos evitar – à esquerda ou à direita – e que serão os nossos filhos que terão de pagar.

Nova Vaga

Boa tarde a todos, o blogue cresce a olhos vistos. Cheguei com malas e bagagens a esta que me parece uma casa de bem, fica também uma palavra de agradecimento ao Manel por me ter convidado.

Abraço a todos

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Complexo de prepotência


Pior que criticar a prepotência dos outros, é adoptar a mesma atitude, achando que podemos decidir quem é o novo senhor prepotente americano. Sim, refiro-me ao futuro presidente estadunidense.

Não vejo outra opinião, impressa ou electrónica, considerando apenas o espaço europeu, que contrarie este facto: Nós sabemos quem é melhor para vocês! Nós é que sabemos! Mais do que isso até, nós é que vamos decidir com quem queremos lidar daqui para a frente nas relações internacionais!

De facto, os opinistas de plantão europeus, e em especial os nacionais, não dizem outra coisa quando analisam os dois candidatos á casa branca, que não seja a sua decisão do melhor futuro presidente norte americano. Pior de tudo, é que estes comentários e textos de opinião, regra geral da dita esquerda moderna (que tanto está na berra e eu não sei o que seja), aquela mesma que não se abstém de duras críticas á acção imperialista norte americana nas ultimas décadas; aquela que os culpa de toda a crise que hoje atravessamos e não é capaz de reconhecer a sua quota parte; aquela que se diz democrática mas se acha no direito de poder decidir quem é o melhor digno sucessor de Bush.

Digno? sim, claro. Meus caros, queiramos ou não, o novo presidente vai acima de tudo defender os interesses capitalistas e mesmo imperialistas dos norte americanos, não vai andar preocupado com a nossa posição nas relações internacionais (nossa posição, aqui, diga-se europeia).

Saber quem quer saúde para os americanos ou não, saber quem é pro aborto ou não, saber quem ama Darwin ou não, saber quem vê a Russia do Alasca ou não, saber qual é o candidato de esquerda ou de direita, são análises que a nós, portugueses e a todos europeus não devem, não podem interessar. O que é mister para nós, é perceber quem dá mais preponderância á acção dos estados europeus em particular e da UE nas relações internacionais, num contexto interrelacional cada vez com mais parceiros, da optica económica, monstruosamente mais fortes que nós.

Mas só nos deve interessar, não pode nunca levar a dizer quem queremos como chefe de um Estado que não é o nosso... é complexo de prepotência.

JPP e o Grande Medo Liberal

retirado do blogue Abrupto

O desastre ocorrido na banca de investimento americana, da crise do subprime à falência do Lehman Brothers, passando pelas sucessivas intervenções sobre os gigantes do crédito hipotecário, a Fannie Mae e a Freddie Mac, e pela seguradora AIG, associado às crises bolsistas, tem sido pasto para inúmeros comentários. Estes são distribuídos por todo o espectro político, mas mais estridentes à medida que se caminha para a esquerda, para a esquerda socialista, já que a comunista e a extrema-esquerda alter-mundialista sempre disseram o mesmo, contra a "economia do casino", a "loucura do neoliberalismo", a "ganância das grandes empresas", a crise da regulação, a falta de intervenção do Estado no mercado, as "imperfeições do mercado", a necessidade de subordinação da "economia" à "política". E é decretado o "fim duma época", aquela em que supostamente o "neoliberalismo" triunfou impante e a abertura de outra, em que a mão pesada do Estado e dos governos vai "controlar" os mercados para lhes dar a "perfeição" que eles não têm naturalmente.
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Naturalmente, como muita gente acha, os "mercados" são maus e injustos, esquecendo-se que são os mercados que estão a acabar com o Lehman Brothers e bem, que são os mercados que estão a fazer aquilo que autores clássicos da economia liberal como Schumpeter sempre disseram que faziam, destruir, que a destruição provocada pelas crises é um mecanismo fundamental de crescimento e de inovação, de pujança do modelo económico do capitalismo. A "crise" não é o sinal da crise do liberalismo, mas sim do seu normal funcionamento, em sociedades e economias que incorporam o risco e os custos como parte do seu funcionamento normal, das regras do jogo dessa mão que Adam Smith dizia ser "invisível".
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O que para mim é estranho é que nunca vi essa coisa do liberalismo, agora apodado sempre de "neo" para o separar pela palavrinha da sua tradição clássica e lhe dar os tons arrivistas da moda, ser o vencedor, o ganhador, o hegemónico, que os seus adversários dizem que foi ou que ainda é. Nunca vi o liberalismo, como ideia e como prática, ser dominante, a não ser na imaginação dos seus adversários, muito menos ter o papel de hegemonia intelectual e política que se lhe atribui. Na verdade, basta ir aos filmes de Hollywood, cheios de vilões "neoliberais", os yuppies corretores de bolsa, os inside traders, os que controlam as bolsas de mercadorias, seja do porco ou do sumo de laranja, até com Eddie Murphy, para perceber que esse período de glória do "neoliberalismo" deve ter passado ao lado da imaginação popular a não ser como prefiguração do Mal. Hollywood não fez outra coisa nestes anos de suposto apogeu "neoliberal" senão dar-nos Tio Patinhas cada vez piores.
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É, nestas alturas de "crise do liberalismo", que eu me sinto mais liberal, que eu tenho mais aguda percepção de como na crítica socialista à "economia do casino" vai um preocupante pacote de restrição de liberdade para as pessoas e para as empresas, de fechamento do mundo, de paroquialismo e intervencionismo e, a prazo, muito maior mediocridade e pobreza remediada do que aquela que a queda do Lehman Brothers e dos seus parentes causa ou pode causar.
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No caso português, a coisa é ainda mais alarmante, porque se mistura com o ciclo eleitoral. O que se está a passar com o "conflito" entre o Governo e as "gasolineiras", com o conveniente atiçar do "povo" contra os ricos e poderosos que lhe sugam milhões de euros para viver em plena mordomia, é, para além da encenação, um precedente perigoso para a nossa vida económica e política.
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O que se passa é que o Governo do PS convive muito mal com a existência de entidades reguladoras, em particular quando elas lhe retiram a possibilidade de manipular os preços em períodos pré-eleitorais. E este "conflito" do ministro da Economia com as "gasolineiras" faz-se sob o pano de fundo ancestral da demagogia, da inveja social, o mais poderoso lubrificante do ódio popular, como se sabe. O que o ministro faz é claramente dizer que há cartel, ou conspiração para maximizar os lucros, essa tenebrosa coisa do capitalismo, e que ele e o Governo socialista nunca o permitirão. E ameaça as "gasolineiras" da fazer qualquer coisa que não se sabe o que é.

sábado, 27 de setembro de 2008

Estes Bons Otomanos


A História oferece-nos optimos campos experimentais, laboratórios completíssimos para físicos, químicos, médicos malditos, filósofos e políticos. Nesta óptica de ideias a Nação turca representa um excelente osciloscópio. Resistiu à cisão romana; bastião do Império Bizantino (que viria a cair aos pés dos turcos otomanos); e pedra preciosa do Império Otomano. Ofereceu a basílica de Santa Sofia ao deus cristão e remodelou-a (os quatro minaretes foram então inseridos) num ósculo islâmico. Após o termo do Império Otomano surge a República da Turquia. Todavia, os turcos não se entregaram à monotonia, fabricaram um regime autoritário, sobreviveram a várias revoluções e, actualmente, erguem-se de uma forma salutar e irrepreensível.

A Turquia é um Estado dinâmico, empenhado no desenvolvimento económico e, por isso, surpreendentemente produtivo (exportou, por exemplo, para a Rússia no ano anterior bens no valor de 27 milhões de dólares), e domina a diplomacia de uma forma exemplar (estabelece boas relações com a Rússia, Estados Unidos, Geórgia, Israel). Tayyip Erdogan, primeiro-ministro turco, operou progressos significativos no reconhecimento de Direitos Fundamentais a que a Nação permanecia alheia; e da sua luta, assumidamente pró-europeia, resulta uma Turquia capaz de despertar a cobiça da União Europeia (e de muitas multinacionais, que se acotovelam para conquistar a sua quota de mercado), cada vez mais sedutora e difícil de resistir, aliás, resistir seria uma péssima escolha. Se dúvidas houvessem quanto à sua legitimidade, a deliberação do Tribunal Constitucional turco (não exonerou Erdogan), tal como o apoio da maioria da população, incluindo os empresários mais empreendedores (Associação dos Empresários e Homens de Negócios Turcos), não deixariam margem para suspeições.

Contudo, o bom trabalho de Erdogan encontra muitíssimos entraves no plano interno. O chefe do executivo pertence ao AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), e não fosse a matriz islâmica do partido, sem dúvida seria transportado numa liteira de ouro. Ora, o governo a certa altura da trama decide retirar a proibição do uso do véu, TRAGÉDIA!, os laicos sentiram a sua pureza maculada! Inverte-se o sentido da corrente e não mais param de chover acusações: o AKP, qual demónio, tenta islamizar o bom povo turco, porca miséria!

Tais acusações merecem uma demorada reflexão, bem à medida da sua complexidade, pois, o epíteto LAICIDADE não legitima resoluções extremistas. O radicalismo laico é tão pernicioso quanto o extremismo religioso. Seguindo as directivas dos nobres laicos turcos (a elite) correríamos o risco de desculturar a Nação turca, ou seja, destruir esta Nação, e convenhamos, um Estado sem Nação não é um Estado, é quanto muito, uma cooperativa de indivíduos previamente esterilizados. Será o uso do véu um atentado assim tão grave? Se o é então acabemos também com o juramento dos presidentes e réus nos Estados Unidos (mão sobre a Bíblia); acabemos com o perigosíssimo “God save the Queen”; e, já que estamos para trabalhar, sigamos os ensinamentos orleanistas e queimemos todas as igrejas, mesquitas, e sinagogas!

A maior riqueza turca é a sua cultura feita de um sacrifício tremendo, uma intrincada e magnífica miscelânea que, ao invés de ser submetida a uma limpeza clínica, deveria ser louvada. A Europa certamente não receia o Estado turco (nem o separatismo do PKK é uma razão válida), e não virá mal nenhum à sua integração (hipotética) na UE se mantiver algumas das suas tradições. Quanto aos laicos, mais do que a esquizofrenia acusatória, têm medo que Erdogan continue a vasculhar os seus telhados de vidro, e a revelar, num exercício suave de prestidigitador, as suas verdadeiras motivações (recentemente foram considerados culpados por corrupção e tentativa de golpe de estado várias personalidades turcas consideradas intocáveis). A laicidade é uma característica estruturante do Estado, e isso é indiscutível, porém, não significa uma premissa para extremismos; os lápis azuis, qualquer que seja a sua forma, devem ser denunciados.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

já se falou de regulações por aqui?


publicado a 20 de Setembro n'O Terceiro Anónimo, adaptado para o Há Discussão


Como muitos já terão ouvido na TV, ou terão o prazer de ficar a saber pelo serviço informativo do Terceiro Anónimo, os genéricos vão baixar cerca de 33%, por deliberação governamental.
A grande ideia é diminuir os encargos com a saúde dos cidadãos e aumentar a quota de mercado dos genéricos, que levam assim um empurrãozinho jeitoso por parte dos socialistas.Esta notícia, no entanto, não está a ser acompanhada com o mesmo tipo de positivismo e contentamento pelas próprias empresas farmacêuticas que se dedicam à produção destes mesmos genéricos.

Para continuar este tema, vale a pena aprofundar um pouco a questão dos genéricos.

Quando um laboratório descobre a fórmula de um novo medicamento, detém direitos sobre essa fórmula (obtém, assim, uma patente). Os direitos do laboratório sobre esse produto duram cerca de 20 anos, nos casos mais comuns. Ou seja, mais nenhum órgão oficial ou empresa pode fabricar esse medicamento ou fornece-lo no mercado, pois a fórmula que o constitui pertence, a título de exclusividade, ao laboratório que primeiro o criou.Findo o período de patente, é a vez de a fórmula entrar no mercado, e passar a ser domínio público. Assim, começam outros laboratórios a fabricar esse mesmo produto, com as mesmas máquinas, com os mesmos métodos, com os mesmos produtos. No entanto, e vá-se lá saber bem o porquê, esses medicamentos não são reconhecidos como originais, mas antes como genéricos. Esses genéricos têm a sua situação regulada pelo Estado (em alguns países de forma mais leve, noutros mais pesada).

No caso português, até dia 1 de Outubro deste ano, os genéricos devem custar, no mínimo, 35% em relação ao custo do medicamento anterior. Agora, os 33% vão ser acrescentados a este valor.Os genéricos possuem, no nosso mercado, uma quota de pouco mais de 13% (e não 17% como se tem dito).A ideia do Governo do Partido Socialista é aumentar esta quota, para a fazer acompanhar as de outros países mais ricos e menos despesistas em relação à saúde, como o caso do Reino Unido, cujos genéricos já controlam 65% do mercado.No entanto, quais pobres e mal agradecidas, as empresas de genéricos queixam-se da nova regulamentação, e dizem que todo o desenrolar desta questão é ilegal.De facto, não podemos ser muito cruéis com as farmacêuticas, essas empresas capitalistas selvagens e comedoras de bebés.O que os Socialistas se parecem esquecer a toda a hora é do sentido de compromisso de Governo, que é um dos fundamentos da ética republicana que qualquer Executivo deve ter. É o chamado princípio da segurança.

E essa segurança foi prometida, anteriormente, pelo Governo de Sócrates que acordou com as empresas não baixar os preços e agora resolveu dar às de "daqui dEl-Rei" e frustrar todas as promessas à indústria farmacêutica, que vai ter de suportar os custos do esforço para manter a viabilidade económica, e vai fazer-lo à custa do emprego de muitos e do investimento que mantém o emprego de outros muitos. A única forma de isto não acontecer, é levarmos esta "regulamentação" um pouco mais avante, e nacionalizar as empresas de genéricos (ironia, ironia).No entanto, após a intervenção desajeitada do Estado, mais um mal se levantou daquele pântano de sanguessugas que nós temos apelidado, erroneamente, de Ministério da Saúde.

E esse mal é o Proteccionismo. O proteccionismo, arma favorita dos governos em desespero, revela-se quando o governo afirma que os valores da comparticipação de medicamentos se manterão inalterados para os medicamentos originais (ou seja, não vão acompanhar a descida dos genéricos).Ou seja, apesar do preço de referência dizer respeito ao genérico mais caro, este genérico baixou 30% mas o preço que serve de referência para o originador mantém-se, não perdendo este a comparticipação do Estado. Mais uma vez, puro proteccionismo aos medicamentos mais caros.Num país onde os genéricos lutam contra o império inegável dos grandes laboratórios, onde se procura aumentar as quotas, dá-se este fenómeno. Dificulta-se o trabalho dos laboratórios de genéricos, e protege-se os rapazolas grandes.

É o Socialismo dos Ricos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Porque fala Lula?


"Tem homem morando com homem, mulher morando com mulher e muitas vezes vivem bem, de forma extraordinária. Constroem uma vida juntos, trabalham juntos e por isso eu sou favorável".

Tal afirmação vem do pouco eloquente, nada académico, pouco instruído, mas sempre populista Lula da Silva. Vários são os motivos por que poderíamos criticar este chefe de Estado, mas certamente que a frontalidade e o jeito simples constituem suas virtudes. As largas e duras críticas podem esperar.

Isto tudo tem uma pequena intenção, e aqui procuro transpo-la para o caso português. Ao passo que Sócrates, líder bem dotado de oratória e com avançados estudos académicos (?)prefere optar por não discutir o tema do Casamento gay, proposto pelo PEV e Bloco, já que não se inclui no programa, Lula não deixa de se manifestar. E fá-lo nas palavras transcritas, sem medos por razões eleitorais, culturais, etc, nem qualquer hipocrisia argumentativamente justificativa.

Onde está a obediência de Sócrates quanto ás suas promessas eleitorais de pré-campanha de 2005?
Coerência, respeito e vergonha fazem-lhe falta.

Ou será que é caso para nos questionarmos porque fala Lula fora do programa?

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O Regresso de Jedi


Há muito tempo que a Polónia não vivia um Verão tão quente, tão quente que causou um notório eczema por toda a União Europeia. Em cima da mesa está o projecto de defesa norte-americano Star Wars (George Bush, não Lucas) que pretende a instalação de uma bateria anti-míssil (10 mísseis interceptores) na Polónia e um radar de ponta na República Checa, encerrando a, há muito almejada, rede balística dos Estados Unidos (Alasca, Califórnia, Grã-Bretanha e Gronelândia, actualmente). Ora, até aqui tudo muito bem, um belo sistema defensivo (sublinhe-se defensivo) que protegerá não só a Terra dos Sonhos (custeado inteiramente por esta) mas também a Europa (excluindo metade da península apenina). Todavia, há que escalpelizar o assunto com mais afinco: existe um Estado de nome Rússia, e esse Estado não acha muita piada à possibilidade de ter uma bateria antiaérea voltada Moscovo, capaz de interceptar qualquer míssil, até os mais sofisticados; a própria localização do engenho é-lhes um pouco aziaga (fronteira com a Ucrânia que, como lembrava numa crónica o embaixador José Cutileiro, é o berço da Nação russa). Bem, mas chega de falar da intrincada psique russa, tão repleta de neuroses, bem ao jeito das personagens de Dostoiévski.

Lembremos que a negociação foi bilateral, nenhum Estado europeu, nem mesmo os que possuem assento na NATO, teve voto na matéria. Logo aqui surgem algumas dúvidas relativas à estrutura da União Europeia, lançando a discussão das modificações que lhe deverão ser induzidas rapidamente (note-se que, após o Não irlandês, a Polónia foi o primeiro Estado a abandonar o Tratado de Lisboa). Contudo, o assunto não encerra aqui, e o Direito Internacional pede a palavra: o tratado INF (Tratado sobre a eliminação dos mísseis de alcance intermédio) que vigora desde 1991 poderá ser um entrave; o Tratado AMB (anti-mísseis balísticos) foi abandonado oportunamente pela administração Bush.

O braço de ferro Santa Mãe Rússia/Abençoados Estados Unidos da América encontra-se em igualdade pontual (Kosovo e Geórgia), e o despique promete ser vagaroso, porém, de uma coisa podemos estar certos, vodka e marshmallows são uma combinação pouco saudável.

sábado, 20 de setembro de 2008

vamos estudar o artigo 43º?


Aquilo que se pode ler no manual de História do 12º ano, editado pela ASA:

“Qualquer que seja o modo como se encare a filosofia comunista, a verdade é que devem ser-lhe creditadas realizações positivas na economia: uma acentuada melhoria dos métodos agrícolas e do rendimento do solo, expansão considerável da industrialização; introdução da planificação que tem, pelo menos, a vantagem de evitar a superprodução”

de facto, nem se percebe muito bem porque é que a coisa correu mal.

E, claro, o Maoísmo não é mais do que "uma longa luta revolucionária apoiada, sobretudo, pelos camponeses"

e McCarthy foi tão mau, ou pior, que Estaline:

“Se, na URSS, a acção de Estaline provocou milhares de mortos e a deportação de milhões de pessoas para campos de trabalho forçado na Sibéria, nos EUA a perseguição ao suspeitos de simpatizarem com o comunismo e de promoverem actividades antiamericanas transformou-se numa verdadeira “caça às bruxas” que ficou conhecida por maccarthismo.”

De facto, é impressionante o facto de só terem ardido bruxas na URSS...

e viva Fidel, que foi uma vítima das circunstâncias:
“A princípio tratava-se de uma revolução democrática e nacional. A opção socialista só foi tomada após o bloqueio económico imposto pelos EUA a Cuba. Fidel Castro aproximou-se então, estrategicamente, da URSS e do modelo socialista soviético. O socialismo cubano apostou, sobretudo, no desenvolvimento agrícola e nos domínios da saúde e do ensino, sectores onde atingiu bons resultados. Actualmente, Fidel Castro continua a ser o dirigente de Cuba. O país atravessa sérias dificuldades devido à continuação do bloqueio e tenta ultrapassá-lo através de uma aproximação à Europa.”

Caros senhores, agora a sério, têm mesmo a certeza que esta educação não segue "directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas?"

para ver aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, na Voz Portalegrense, que um dia destes ainda é encerrada...

PS: já agora, deixem-me acrescentar mais uma última pérola:
“As novas tecnologias nos domínios do tratamento da informação e da comunicação aceleram a mundialização da economia e promovem a globalização: ‘O mundo converteu-se num vasto casino, onde as mesas de jogo estão repartidas em todas as longitudes e latitudes’ (Maurice Aliais).” Caminhos da História, ASA, volume III

terça-feira, 16 de setembro de 2008

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Berlusconi al dente


A imprensa portuguesa (entre ela a boa imprensa portuguesa, que existe, mesmo sendo moda dizer que não) noticiou num tom indignado que faria antever algo verdadeiramente hediondo, o triunfo do carreirismo sob o beneplácito de uma Europa autista. Refiro-me à revisão da legislação concernente à responsabilidade criminal do presidente do Conselho de Ministros italiano, que o tornou inimputável quanto a crimes estranhos ao exercício das suas funções durante o lapso temporal das mesmas. Quanto a este assunto quedo-me por citar uns quantos artigos da Constituição da República Portuguesa:

· Art 157º nº3 – “nenhum Deputado pode ser detido ou preso sem autorização da Assembleia, salvo por crime doloso a que corresponda a pena de prisão referida no número anterior e em flagrante delito”.

· Art. 196º nº1 – “nenhum membro do governo pode ser detido ou preso sem autorização da Assembleia, salvo por crime doloso a que corresponda a pena de prisão referida no número anterior e em flagrante delito”.

· Art. 196º nº4 – “por crimes estranhos ao exercício das suas funções o Presidente da República responde depois de findo o mandato perante os tribunais comuns”.

Posto isto, não parece assim tão insultuosa a tal ininputabilidade, todavia, a vontade de apelidar fascista o primeiro-ministro italiano tornou-se crónica.

Recentemente, Berlusconi foi também protagonista de uma proposta de lei absolutamente descabida e xenófoba que espantou todo o espectro político. Esta visava a criação de uma base de dados, de onde constariam as impressões digitais de todos os ciganos residentes em Itália. Ora, como se já não bastasse verem os seus acampamentos incendiados, os seus pertences pilhados, sofrerem espancamentos bárbaros, ainda têm de se sujeitar à humilhação de se deixarem catalogar por um governo que nunca intentou ajudá-los nestes incidentes.

Notemos, por fim, a artificialidade das duríssimas críticas que lhe têm sido dirigidas em relação às restrições na entrada de imigrantes em território Italiano, uma vez que estas em pouco diferem das adoptadas por Zapatero (socialista), Sarkozy, e Angela Merkl, aliás, em paridade harmónica com as actuais directivas comunitárias.

Nota: Não concordo com o endurecimento das medidas restritivas à imigração.

domingo, 14 de setembro de 2008

ai que bom, ai-que-bom-ai-que-bom-ai-que-bom


O Glorioso Governo do Partido Socialista veio a Chaves, cidade medieval e histórica do nosso interior, para inaugurar um progressista e revolucionário Casino.
A ideia do nosso Glorioso Primeiro-Ministro (que é injustamente apelidado de ignorante acéfalo e hipócrita rançoso pelo capitalista autor deste blogue) em assinalar com o seu importante cunho de Chefe de Executivo da República Portuguesa este investimento privado (pensámos nós) foi de não deixar passar ao lado esta oportunidade de mostrar aos portugueses (que precisam de perceber que tudo o que o Governo faz é para o bem deles e que eles vão merecendo se se portarem bem) como tem vindo a progredir o investimento neste país.
Alguns grupos de associações de reaccionários criticam esta nobre iniciativa dizendo que o Primeiro-Ministro expõe-se de forma indigna para o cargo que desempenha, principalmente os ditos liberais, que são justamente acusados pelos nossos camaradas de ter definições muito próprias de liberalismo, pois toda a gente sabe que o liberalismo é uma prática reaccionária que intende ferir os direitos atingidos pela classe trabalhadora, que agora rege este saudável país, e pretende permitir aos patrões dominar, para todo o sempre, a vida sexual dos seus empregados. Entre outras coisas.
O Casino de Chaves irá atrair a nata do turismo espanhol vindo da Galiza, e enriquecerá a cidade de forma tão exponencial que se crê que, em 2015, todos os habitantes de Chaves vão usufruir do uso de aviões Setna atribuídos pela enriquecida autarquia para circular pela estrada e pelos ares à volta de Chaves. Tal será o progresso trazido pelo Casino, que fontes estatísticas do Nosso Glorioso Partido afirmam que a cidade mudará de nome, e passar-se-à a chamar Socratópolis. Com toda a Justiça, digamos. Viva o nosso Primeiro-Ministro, Viva o Partido, viva o Socialismo! Morra o Presidente reaccionário e metam-se os criminosos fascistas no Campo Alegre!

também publicado aqui

O bom marxista, peronista, bolivarista, guevarista, e o diabo a sete


Ninguém duvida que Hugo Chávez é uma pessoa de bem, alguém verdadeiramente empenhado na democracia venezuelana. Se ainda sobrarem algumas almas reticente façam o favor de atentar ao seguinte trecho de um dos seus acicatados discursos: Hay que ser radicales... Porque tenemos que ir a nuestras propias raíces, radicales. Esa palabra la han satanizado: “…este es un radical”, y la han asimilado como el “loco”, no, no, radical no es loco, yo soy un radical, radical, vamos a ser radicales, radicales en nuestros principios, bien enraizados, de ahí viene la palabra, de la raíz: radical, ¡radicalmente revolucionario! ¡Radicalmente humanista! ¡Radicalmente patriotas, de la Patria grande! ¡Radicalmente comprometidos con la vida y con los pueblos!, ¡cada día más radicale!”. Palavras peculiares, humanista e preocupado com a vida e com os povos, bem, analisemos tal humanismo.

Hugo Chávez, auto-intitulado herdeiro de Bolívar, marxista, peronista, afilhado de Castro e possuidor de um incontestável mau gosto para camisas. Do padrinho herdou a apetência para discursos intermináveis, uma oitava acima deste por sinal, cadenciados pelos seus soldadinhos de chumbo socialistas favoritos. Actualmente no segundo mandato, Chávez tem arquitectado a sua política em torno das colossais jazidas de petróleo que possui, o que se tem revelado desastroso! Para além da inflação ser elevadíssima (30% ao ano; dados oficiais, 10% ao ano), nenhum empresário empreendedor com o mínimo de bom senso quer investir na Venezuela com receio, mais do que justificado, de no dia seguinte acordar debaixo da ponte. Dito isto, as empresas lucrativas correm em debandada do país, ficam aquelas que não dispõem de condições para sair, e estas provavelmente serão nacionalizadas num futuro próximo, tal como foi, cirurgicamente, nacionalizado um canal televisivo conflituante com o regime.

Há custa de subsídios vai conquistando o gáudio das camadas mais baixas da sociedade (bem ao jeito de Lula, de quem nem é grande compincha), mas nem assim obteve a aprovação popular no referendo que pretendia alterar quase todos os artigos da actual constituição (esta entrou em vigor no seu primeiro mandato). Falando em referendos, não nos esqueçamos das perseguições por parte de milícias paramilitares a estudantes de Direito que discordavam das boas intenções da revisão constitucional de El Comandante; lembremos os jornalistas perseguidos, e a lista Tascón (opositores perseguidos por assinarem uma petição de referendo para demitir o Senhor Presidente). Porém, o herdeiro de Bolívar é um homem honesto que, apesar do habitual chorrilho de grosserias (“Mr. Danger”; “El diablo”; “yankees de mierda”), sente-se terrivelmente ofendido quando, APÓS INSULTAR Juan Carlos, este o manda calar.

Findemos com um merecido elogio, Chávez é generoso, por uns quantos bacalhaus juntamente com a receita da especialidade à Zé do Pito, aceitou enviar-nos uma dúzia garrafões de petróleo.

sábado, 13 de setembro de 2008

querem ver um macaco a dizer "Mierda"?


aqui está

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Convite


Caso algum de vocês queira amanhã comparecer, mandem-me mensagem e se eu estiver por Ermesinde faço questão de vos acompanhar.

A terra que Moisés não quereria


O povo da Terra Prometida parece não ter sossego, o leite azedou e o mel tem edulcorantes. O panorama político de Israel agita-se num sem fim de acusações pouco dignas e salvadores da pátria emoldurados pelo esquecimento colectivo. Foi inegável a dificuldade da transmissão do testemunho de Ariel Sharon (declarado apreciador de Big Mac, figura de peso na definição do Estado judaico tal como se nos apresenta hoje), visível na crescente animosidade que percorre todos os sectores da sociedade bem como grande parte da comunidade internacional contra Ehud Olmert, constantemente rotulado de grosseiro, novo-rico, intrujão e, a mais movediça acusação que lhe pode, e certamente, vai custar-lhe o mandato: CORRUPTO.
Abafado, momentaneamente, este assunto delicado da ordem do dia israelita devido a uma recente vaga de infanticídios, Olmert pode recobrar o fôlego, nem que seja a custa de criancinhas afogadas pelos pais. Todavia, o actual primeiro-ministro há muito perdeu a serenidade à medida que as suas declarações caíam em saco-roto e os holofotes se voltavam para a sua ministra dos negócios estrangeiros, Tzipi Livni. Perante uma judia loira, de olhos azuis, e apoiada interna e externamente, Olmert bem tem de se conformar.
Veremos, então, se Tzipi Livni alcançara o poder, se tem coragem política para revitalizar Israel, coragem essa que será necessária se pretender atenuar a componente bélica da Terra Prometida; também se poderá dar o caso de não passar de mais uma burocrata, uma oportunista empenhada em enriquecer (a título de exemplo Ehud Barak, Benjamin Netanyahu e Olmert).