domingo, 14 de setembro de 2008

O bom marxista, peronista, bolivarista, guevarista, e o diabo a sete


Ninguém duvida que Hugo Chávez é uma pessoa de bem, alguém verdadeiramente empenhado na democracia venezuelana. Se ainda sobrarem algumas almas reticente façam o favor de atentar ao seguinte trecho de um dos seus acicatados discursos: Hay que ser radicales... Porque tenemos que ir a nuestras propias raíces, radicales. Esa palabra la han satanizado: “…este es un radical”, y la han asimilado como el “loco”, no, no, radical no es loco, yo soy un radical, radical, vamos a ser radicales, radicales en nuestros principios, bien enraizados, de ahí viene la palabra, de la raíz: radical, ¡radicalmente revolucionario! ¡Radicalmente humanista! ¡Radicalmente patriotas, de la Patria grande! ¡Radicalmente comprometidos con la vida y con los pueblos!, ¡cada día más radicale!”. Palavras peculiares, humanista e preocupado com a vida e com os povos, bem, analisemos tal humanismo.

Hugo Chávez, auto-intitulado herdeiro de Bolívar, marxista, peronista, afilhado de Castro e possuidor de um incontestável mau gosto para camisas. Do padrinho herdou a apetência para discursos intermináveis, uma oitava acima deste por sinal, cadenciados pelos seus soldadinhos de chumbo socialistas favoritos. Actualmente no segundo mandato, Chávez tem arquitectado a sua política em torno das colossais jazidas de petróleo que possui, o que se tem revelado desastroso! Para além da inflação ser elevadíssima (30% ao ano; dados oficiais, 10% ao ano), nenhum empresário empreendedor com o mínimo de bom senso quer investir na Venezuela com receio, mais do que justificado, de no dia seguinte acordar debaixo da ponte. Dito isto, as empresas lucrativas correm em debandada do país, ficam aquelas que não dispõem de condições para sair, e estas provavelmente serão nacionalizadas num futuro próximo, tal como foi, cirurgicamente, nacionalizado um canal televisivo conflituante com o regime.

Há custa de subsídios vai conquistando o gáudio das camadas mais baixas da sociedade (bem ao jeito de Lula, de quem nem é grande compincha), mas nem assim obteve a aprovação popular no referendo que pretendia alterar quase todos os artigos da actual constituição (esta entrou em vigor no seu primeiro mandato). Falando em referendos, não nos esqueçamos das perseguições por parte de milícias paramilitares a estudantes de Direito que discordavam das boas intenções da revisão constitucional de El Comandante; lembremos os jornalistas perseguidos, e a lista Tascón (opositores perseguidos por assinarem uma petição de referendo para demitir o Senhor Presidente). Porém, o herdeiro de Bolívar é um homem honesto que, apesar do habitual chorrilho de grosserias (“Mr. Danger”; “El diablo”; “yankees de mierda”), sente-se terrivelmente ofendido quando, APÓS INSULTAR Juan Carlos, este o manda calar.

Findemos com um merecido elogio, Chávez é generoso, por uns quantos bacalhaus juntamente com a receita da especialidade à Zé do Pito, aceitou enviar-nos uma dúzia garrafões de petróleo.

3 comentários:

João Pedro disse...

Ao menos foi eleito democraticamente e com maior número de votos que o adversário...

D. disse...

tenho de subscrever o joao pedro xD

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

também o foi o presidente américo tomás, meu caro.

e, sinceramente, é muito ingénuo pensar que a escolha popular é sinal de óbvia qualificação para o cargo de um chefe de estado.
caso fosse assim, george bush não teria sido um idiota.
caso fosse assim, o próximo presidente dos eua não seria um idiota.
caso fosse assim as monarquias europeias estariam no fundo das tabelas, em vez de ocuparem o topo.

um país onde 32% não tem sanitariamento básico, apenas 3% dos esgotos são tratados,onde o petróleo é 80% das exportações, de facto a escolha popular têm, de facto, sido a melhor.
talvez o facto de a sociedade ser governada totalitariamente e a propaganda chavista presente 24h na educação dos cidadãos e na sua vida pública possa, de alguma forma, influenciar as escolhas eleitorais, em nada condicionadas, dos venezuelanos.