sábado, 31 de maio de 2008

hoc est bellum

De forma a responder ao Francisco no que toca ao repto lançado por ele no seu último texto (a propósito, pedia-te Francisco que lhe desses um título, para depois ser mais fácil "linka-lo"), queria focar o aspecto "liberal" no que toca às políticas seguidas pelos liberais em relação a esse assunto, a educação.
Diz-nos o Francisco que "Todavia, creio que o investimento educativo nos cidadãos pelo Estado é um dever(...) Pôr em causa esse dever é, a meu vêr, pôr em causa o Estado" (adaptação minha, creio que não faz falta as partes que eu cortei, e mesmo assim o texto do Francisco encontra-se mesmo aqui perto). Depois disso, considera isto algo incompreensivel aos ditos liberais, porque este parecer seria o de "um Estado presente, solidário e promotor de um desenvolvimento sustentado e em plena igualdade de oportunidades para todos." (mais uma vez, adaptação minha, sem prejudicar integralmente o texto).Ora, eu penso que não há nada nas políticas liberais que ponha em causa esse dever de estado, aliás, os liberais são pródigos em aceitar deveres do Estado, é complicado é quando lhes vêm falar de Direitos do Estado oponentes aos Direitos do Cidadão.
De facto, numa sociedade moderna, não faz sentido idealizar um sistema de ensino que não seja gratuito, ou tendencialmente gratuito, dependendo das infra-estruturas e meios dos Estados. A verdade é que esta mentalidade não tem exclusivismos de Esquerda, não é sequer uma exclusividade deste século. Um liberal considera que, de forma a que cada cidadão possa ser livre, deve ter acesso a uma educação completa, suficientemente enriquecedora para o formar, enquanto animal político e social, nas gastas palavras do Grego.
Melhor, um liberal acredita, faz questão, que um cidadão possa ter acesso a uma educação sem restringimentos económicos, e ainda que tenha a liberdade de escolher onde a quer! Mais importante do talvez ter acesso a ela, o cidadão deve poder escolher educar-se como e onde quer, e o Estado assegura-lhe assim um Direito Fundamental(que não o é na nossa constituição, mas que está de certa forma implícito como tal). Para esta questão ler o "Estudo de Direitos Fundamentais" do Gomes Canotilho, na parte dos direitos sociais e económicos.
Daí tem o liberal que aceitar que os meios do Estado não são ilimitados(pelo menos na maioria dos Estados, em Portugal desde 1974 os recursos assim o são). Ora nesse caso, há que apostar numa certa descentralização e democratização do ensino. Há que colaborar com as escolas privadas, que mesmo não sendo organismos públicos, funcionam em prole de um interesse comunitário, exemplo das escola privadas católicas, que fornecem um ensino religioso a todos os que estiverem interessados a aliar o seu ensino ou dos seus filhos à prática da religião, e eu excluo deste exemplo as que se remetem à prática exclusiva da religião, porque seminários e bar mitzvahs podem muito bem pagar-se a si mesmos.. Isto tudo vai no interesse máximo de uma das normas constitucionais mais bonitas da nossa constituição, essa mulher que nunca pára de me impressionar à medida que a vou conhecendo, sendo essa norma a seguinte:
Artigo 43.º
Liberdade de aprender e ensinar

1. É garantida a liberdade de aprender e ensinar.

2. O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.

3. O ensino público não será confessional.

4. É garantido o direito de criação de escolas particulares e cooperativas.

Ora, isto é lindo. Isto é mesmo muito bonito, principalmente aquele segundo artigozinho, que está mesmo a calhar. Isto é uma medida de influência liberal, é um travão aos condicionalismos de ensino que alguns partidos ditos democráticos queriam criar no pós-25 de Abril, para contrapor aos condicionalismos do ensino da era anterior.
De facto, o dever do Estado é, pura e simplesmente, assegurar o acesso de todos a uma educação livremente escolhida, independente de condição económica ou geográfica.
Ora isto, meus senhores,só isto, meus caros cavalheiros e senhoras, custa muito dinheiro.
Daí o liberal afirmar que o Estado deve incentivar à concorrência entre estabelecimentos de ensino superior e de 3º ciclo, num objectivo de fornecer ao aluno um vasto leque de escolha de estabelecimentos de ensino com disciplinas que lhe interessem, e assim desenvolver e especializar certos focos de cultura e tecnologia.
A verdade é que as escolas precisam de mais autonomia, precisam de mais contacto com as comunidades, precisam de uma abordagem realista para com o mercado de trabalho. Queria focar-me em duas alíneas do artigo 74º, anteriormente previsto pelo Francisco Noronha:


e) Estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino;
f) Inserir as escolas nas comunidades que servem e estabelecer a interligação do ensino e das actividades económicas, sociais e culturais;


Muitos liberais conservadores acusam o carácter extremamente programista da nossa constituição, no entanto neste ponto tal não pode ser observado.
Tudo o que aqui se prevê é a simples regulação estadual no que toca à adaptabilidade das escolas no seu meio, na f), e na e) prevê-se a progressiva gratuitidade.
Estes pontos foram abordados, recentemente, pela Direita portuguesa, num projecto-lei apresentado pelo CDS, para que houvesse mais facilidade aos pais para escolher o sítio onde os filhos estudassem, muitas vezes tratando-se de escolas privadas por razões de proximidade!
Um liberal não vê o ensino comparticipado pelo Estado como necessariamente público. O Cidadão tem tanto direito a aprender como a ensinar. E tem tanto direito a ensinar, como a aprender aquilo que ele quer.

26 comentários:

Francisco disse...

Manel,

Como vem sendo hábito, confundes a tua concepção muito própria de "liberalismo" com o pensamento liberal propriamente dito. Especialmente o português. Aconselho-te que, a propósito do ensino, visites alguns blogs da dita "direita liberal": o insurgente, o blasfemias ou o portugal contemporaneo. Verás como a perspectiva liberal não é a tua, por mais que o tentes fazer parecer. Dá uma olhadela particular sobre a ideia do "cheque ensino". E depois compara-a com a visão da esquerda (os blogs são muitos, tira links do meu). Quando te oiço a falar em "liberalismo" vem-me sempre à ideia alguém que não se sabe bem onde situar, que mistura muitas coisas, e que depois tenta aproximar a sua concepção difusa à que mais lhe agrada. Mas que, infelizmente, se distancia.
Quanto ao num. 2 do artigo 43º, finalmente brilhaste como "liberal". Pelos piores motivos, infelizmente. Quero pois que me dês provas disto: "Isto é uma medida de influência liberal, é um travão aos condicionalismos de ensino que alguns partidos ditos democráticos queriam criar no pós-25 de Abril, para contrapor aos condicionalismos do ensino da era anterior". Que leviandade.
Curioso, a propósito destes "condicionalismos" de que falas, que te esqueças que a nova versão do manual de história do ensino secundário, dedica 4/5 incipientes páginas ao 25 de Abril...

Um abraço

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

a minha concepção própria de liberalismo não é assim tão própria francisco.

vou deixar aqui um link ácerca desta questão para tu veres,s e te interessares, que subscreve o meu texto:
http://www.liberal-social.org/educacao

e uma definição do mesmo site:

O liberalismo é uma corrente política que abrange diversas ideologias históricas e presentes, que proclama como devendo ser o único objectivo do governo a preservação da liberdade individual. Tipicamente, o liberalismo favorece também o direito à discordância dos credos ortodoxos e das autoridades estabelecidas em termos políticos ou religiosos. Neste aspecto é o oposto do conservadorismo.

A palavra "liberal" deriva do Latino "liber" ("livre") e os liberais, de todas as correntes, tendem a ver-se a si mesmos como os amigos da liberdade, particularmente liberdade relativamente às amarras da tradição. As origens do liberalismo na era do Iluminismo colocam esta filosofia em contraste com o feudalismo e o mercantilismo. Posteriormente, à medida que filosofias mais radicais se articulavam no decurso da Revolução Francesa e através do século XIX, o liberalismo definiu-se também em contraste com o socialismo e o comunismo, se bem que alguns aderentes do liberalismo (os liberais sociais) simpatizem com alguns dos objectivos e métodos da democracia social.

A classificação do liberalismo de uma forma consistente é complicada, pela tendência da facção dominante do liberalismo, numa determinada região, referir-se a si mesma simplesmente como "liberalismo" e rejeitar esta identificação a outras facções minoritárias. Dado que a palavra "liberalismo" varia desde ser um elogio em algumas partes do globo a ser usada como uma forma de agressão verbal noutras, as conotações da palavra nas várias línguas podem ser tremendamente diferentes.

No entanto, uma excelente definição é a de Fernando Pessoa, que definiu o liberalismo como:

a doutrina que mantém que o indivíduo tem o direito de pensar o que quiser, de exprimir o que pensa como quiser, e de pôr em prática o que pensa como quiser, desde que essa expressão ou essa prática não infrinja directamente a igual liberdade de qualquer outro indivíduo.

Quanto ao Liberalismo Social, a definição oficial adoptada pelo Movimento Liberal Social é:

O Liberalismo Social, tal como outras formas de Liberalismo, vê a liberdade individual como um objectivo central - mas defende que a falta de oportunidades económicas, educação, saúde, etc., podem ser tão prejudiciais para a liberdade como um Estado opressor. Derivado disto, os liberais sociais estão entre os mais fortes defensores dos direitos humanos e das liberdades civis, combinando esta vertente com o apoio a uma economia em que o Estado desempenha essencialmente um papel de regulador e de garantidor que todos têm acesso, independentemente da sua capacidade económica, a serviços públicos que asseguram os direitos sociais fundamentais.

Francisco disse...

Três observações:

a) Curioso, fui dar uma vista de olhos pelo propalado "Movimento Liberal Social". Ora logo no display do site encontramos: "Mais liberdade, menos Estado". Ora no actual estado das coisas, isto é uma paradoxo gritante. Por inúmeras questões que me levariam a perder um dia para aqui as expôr. Deixo só a ressalva que liberdade não significa apenas nascer livre com igual dignidade, etc etc. É muito mais que isso na minha opinião. Liberdade implica também a realização das condições cívicas, económicas e culturais para que um Homem possa justamente ser... livre. Sobre isto, recomendo que leias o comentário do Ary sobre a política do Ron Paulo. Na sociedadededebates.blogspot.com E também, a quem quiser, "Estudos sobre Igualdade" de Maria Glória Garcia.
O único objectivo de um governo, ao contrário do que afirmaste, não é a meu a ver somente garantir a liberdade individual. É a mesma linha de raciocínio que tentei rebater acima.

b) A citação do Pessoa que transcreveste está situadá no plano intelectual e cívico. Na relação entre homens. Parece-me que transpô-la directamente para o campo político é distorcê-la e descaracterizá-la.

c) Peço outra vez que me dês provas de que "(...) condicionalismos de ensino que alguns partidos ditos democráticos queriam criar no pós-25 de Abril, para contrapor aos condicionalismos do ensino da era anterior".

Um abraço

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

resposta às observações:

a) este assunto é, como tu disseste, mesmo muito longo e profundo, e já estou há 2 dias a deixar DIP marinar em banho maria, tenho mesmo de lhe dar uma revisão profunda.
de concluir que a questão dos limites de intervencionismo de Estado e as obrigações de Estado enquanto preservador das liberdades e garantias não foram exaustivamente expostas por mim, devido à imensa falta de tempo, e ao facto de que num blogue o objectivo é expor pequenas fracções de cada vez, senão acabámos por escrever um livro.

b) o liberalismo ultrapassa a questão política, é também um plano sociológico e cultural, é perfeitamente legítima esta citação de fernando pessoa. esta definição de fp é a indicada para o liberalismo, é este o objectivo máximo do liberal, logo não há nela nada de desconcertante ou inapropriado, não digo que é uma grande jogada política usar definições deste grande poeta, que por muito bom que seja não é dono da verdade universal. até porque constatar isso seria bacoco.

c) não tinha percebido que querias exemplos dos condicionalismos. a grande razão de ser deste artigo prende-se com a questão das "depurações", dos "saneamentos" de funcionários públicos e privados levada a cabo por elementos da esquerda revolucionária. essas pequenas "purgas" eram feitas usando como critério a colaboração de funcionários com o regime anterior ou simplesmente por demonstrarem conflituosidade para com as ideologias comunistas.
este factor foi muito importante no ensino, aliás, foi o sector mais relevante no que toca a esta "condicionalização", que levou a muitos professores do ensino superior e, secundário e primário a refugiarem-se em instituições privadas, levando a um fosso ainda existente entre a qualidade do ensino privado e ensino público.

D. disse...

vou começar pelo fosso entre ensino privado e ensino público: é muito fácil, o ensino público é muito melhor a todos os níveis do que o privado, não vejo qual o mal que daqui possa surgir. mas sobre a dinâmica do ensino já conhecem a minha opinião.
quanto ao resto. O expoente do liberalismo são actualmente os estados unidos. e toda a gente sabe qual a realidade do ensino e da saúde. é o liberalismo puro em acção. quem pode paga e estuda ou tem acesso a cuidados de saúde. quem não pode frequenta escolas totalmente abandonadas e sem a mínima credibilidade no mundo do trabalho, ou mesmo para aceder às faculdades. o que acontece? poucos que nascem em meios desfavorecidos conseguem alguma vez quebrar o ciclo. é o liberalismo no seu dever de criar exclusão e manter as classes tal como estão, para que os grandes fiquem cada vez maiores.
quando falavas, manel, de que o Estado deve intervir no ensino privado apoiando-o (penso que era isto que querias dizer, se não foi corrige-me), tal é totalmente descabido. se há pessoas que querem ter os filhos no ensino privados, para que os meninos possam ter regalias por baixo da mesa, porque é que o Estado tem de colaborar com tal fraude?

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

sinceramente Daniela, essa ideia do ensino privado ser mau e corrupto e o ensino publico ser santificadamente funcional e avançado é estranha...
portanto, um cidadão que tenha um estabelecimento privado é necessariamente corrupto?
e os funcionários do público são todos vestais virgens e honradas, incorruptíveis. muitas vezes, minha querida Daniela, essa tua incorruptibilidade e confiança no burocrata público lembra-me um pouco Robespierre, não sei se conheces, hás-de gostar do senhor.

essa ideia do ensino privado é deplorável. é a mesma coisa que dizer que à lojas que vendem bons produtos, e outras que não. não é por isso que se vai fechar todo o tipo de lojas, e obrigar o Estado a distribuir senhas de alimentação pelos cidadãos, não é? (porra, estou com aquela azeda sensação de que estou a dar ideias)
por isso, até te vou dar umas novidades giras. há estabelecimentos privados de ensino bons. muitos desses são bem mais exigentes que os do estado, por várias razões, o facto de saberem que têm de concorrer com estabelecimentos nacionais que não fecham nem de longe nem de perto tão facilmente como eles, e o facto de saberem que têm que arregaçar as manguinhas para atrair o mercado de trabalho porque isto da empregabilidade é a menina dos olhos das faculdades.
quanto ao "sistema liberal" dos EUA, é engraçado falares nisso, quando eles têm muito menos desemprego que nós, quando eles têm muito mais inovação tecnológica que nós, quando eles têm mais oportunidades que nós, mais flexibilidade, mais e melhor ensino, muito melhor do que há por cá.
não faz parte da liberdade de um cidadão ter o filho a aprender onde ele quer? ou vais-me dizer que o Estado vai tratar de criar escolas católicas ou judaicas ou muçulmanas para complementar as necessidades desses cidadãos? parece-me utópico, e até repressivo.

ASL disse...

Daniela, temo não ter percebido o que querias dizer com as "regalias por baixo da mesa" que "os meninos possam ter" no ensino privado... Se pudesses concretizar um bocadinho mais, agradecia...
E já agora: referes-te quer às escolas quer às universidades ou apenas a uma delas?

D. disse...

ASL,
falo especificamente das escolas. pelos visto o Manel nunca ouviu a célebre frase "vou para o colégio tal para subir as notas e entrar na faculdade". é algo muito comum. algo que me dá vómitos, mas que parece ser encarado com naturalidade pelo resto da população. são opções dos pais, como diz o manel, de facto, cada um sabe aquilo que educa e como quer educar. para mim e inaceitável e se recuares uns bons textos antes poderás ver todas as razões, que não vou repetir de novo.
Manel,
nos estados unidos há menos desemprego. é pena serem empregos que empregam as pessoas a curto prazo e que não lhes garantem grande protecção social, sendo mal pagos e afins. chama-se criar empregos sem estabilidade, não sei se sabes, mas fazer uma vida assim é complicado...

depois, para terminar, não entendo porque é que quando uma pessoa tem de ir à escola, tem de ter a religião atrás. não são coisas distintas? não é suposto meninos cristãos, muçulmanos, budistas e ateus estudarem todos juntos? para que é necessário ter uma escola muçulmana, ou católica ou seja o que for? não acho que o estado deva promover tal segregação, mas se és apoiantes dos papás que querem educar os filhos entre quatro paredes, força que o façam.
depois, nas escolas públicas pode não ser perfeito, pessoalmente ao longo de 13 anos a estudar no público, nunca vi nada que fosse injusto nem nunca ouvi falar de alunos que comprassem as notas. aliás, até no dia dos próprios exames, nunca vi facilidades para copiar. ora, isto é bem distinto dos relatos do que se passa no privado que venho ouvindo ao longo dos anos. muitos em primeira mão...
P. S - ao nível das faculdades, acho pessoalmente que em Portugal apenas há uma Universidade que consegue ombrear com as públicas. não vou dizer nomes, tal como nunca discriminei os nomes dos colégios onde toda a gente sabe que se compram notas.mas acho que não é difícil adivinhar.

Francisco disse...

Daniela,

Relativamente à questão das escolas privadas, manifesto mais uma vez a minha absoluta discordância. É estranho que não consigas compreender que há escolas públicas excelentes e escolas privadas excelentes. Como há esclas públicas péssimas e escolas privadas péssimas.
Parece-me a mim um sintoma de "vista curta". Já discuti isto contigo vezes sem conta pelo que me vou ficar por aqui. Mas chega a ser paranóica essa ideia de que todas as escolas privadas são um antro de facilitismo e servem apenas para subir notas. Porque isso é pura e simplesmente... falso. E revela uma falta de conhecimento de causa profundo.
Em relação a colégios católicos, é igualmente estranha a tua posição. Percebo a diversidade de que falas. Eu também a defendo. Mas cada um tem o direito de escolher que tipo de instituição o filho deve frequentar. Creio que não tens qualquer legitimidade para pôr em causa esse direito. Nenhuma.

Um abraço

ASL disse...

Daniela,

Percebo o teu ponto em relação ao ensino privado. Mas, devo dizer, “quem não sente não é filho de boa gente”.

Se conheço que haja colégios para onde as pessoas vão para subir as notas, também conheço escolas para onde as pessoas vão porque o nível de exigência é tão medíocre que também lhes permitirá subir as notas! Uma vez mais, percebo o teu ponto, mas incorre no perigo de qualquer generalização! E devo dizer que aqui concordo com aquilo que o Francisco diz.

Devo ainda dizer que sou oriundo de um colégio e, agora na Faculdade, no ensino público, noto claramente que são inúmeras as pessoas que vêm do ensino público e que se chocam com o ritmo de estudo, com a exigência, com todo o rigor. Como é óbvio, também as haverá vindas do público e cuja adaptação ao trabalho não foi tão drástica como acontece com a maioria, e também as haverá vindas do privado que estão completamente “perdidas”… Há de tudo!

Quanto aos colégios católicos (ou muçulmanos, ou hindus, whatever), não querendo repetir aquilo que anteriormente já aqui foi dito, é óbvio que a convivência inter-religiosa é muito saudável… mas sejamos realistas e não meros utópicos e teóricos alheios da realidade: quando se quer que a educação de um filho se paute por uma vivência de uma dada religião, será viável haver um colégio que procure ter actividades simultaneamente católicas, ortodoxas, muçulmanas, budistas, hindus, etc? E antes disso: qual é o problema em haver colégios católicos?

E se tenho os conhecimentos que tenho (que, modéstia à parte, me parecem ser privilegiados) em relação às várias religiões do mundo, não é por os ter adquirido em casa, em pesquisas. Foi no Colégio de São João de Brito, nas aulas de religião. É muito fácil criar preconceitos (tão comummente atribuídos à Direita conservadora e retrógrada) em relação a tudo e mais alguma coisa. Sem dúvida que a Igreja e o sector privado são os mais apetecíveis, mas se quisermos primar pela Justiça, então será conveniente ter uma maior conhecimento daquilo que falamos. Jamais poderei dizer que por ter estado num colégio católico me foram vedadas as portas ao conhecimento de outras religiões. Aliás: no meu ano, tinha uma colega hindu; no ano abaixo, um judeu!

É errado e injusto colar os colégios, por serem privados, a um grupo de gente incapaz de trabalhar por si só e de obter bons resultados no sector público; bem como injusto também é, em relação aos católicos, conotá-los como um meio fechado, como se fosse uma seita.

Não sei que interpretação da forma como escrevo estas linhas está a ser feita, mas quero esclarecer que não tomo as tuas afirmações, Daniela, como um comentário com intenções de ofender ou atacar seja quem for. Acho que são simplesmente afirmações de quem não conhece a realidade de que fala e que se baseiam em meros preconceitos e ideias feitas.

ASL disse...

E porque não há pior ameaça ao mundo do que a falta de conhecimento, permito-me, dentro das minhas limitações científicas, expor alguns pequenos dados para que as minhas palavras anteriores não sejam vãs e desprovidas de concretização.

Conheço, por ter frequentado um, os colégios de jesuítas. O São João de Brito, em Lisboa, tem um curso nocturno, gratuito, para pessoas com mais de 18 anos que querem retomar os seus estudos (e não é como as Novas Oportunidades, em que se aprende o secundário num ano; abrange todos os anos do ensino), e que é suportado pelo próprio colégio e, cada vez menos, pelo Estado. Acho que o Colégio São João de Brito poupa ao Estado um bom dinheiro e, para além disso, lança para a Faculdade e para o mercado de trabalho pessoas muitíssimo bem preparadas (os professores são, na sua maioria, docentes também durante o dia no CSJB). Isto excluindo as dezenas de acções de voluntariado em que o Colégio está envolvido e que incute ao máximo nos seus alunos, desde explicações que ocupam uma tarde inteira no Pragal, no outro lado do Tejo, ou mais perto, em Lisboa; passando por fazer companhia e animar idosos em lares; acompanhar crianças; dar algum tempo a deficientes de 1001 maneiras diferentes (começou, penso que recentemente, com a hipoterapia).
Ao ritmo a que escrevo estas palavras no teclado, já me passaram pela cabeça inúmeras pessoas que saíram do Colégio justamente para subirem as notas... Devo dizer que poucas foram as que entraram ao longo do secundário... Expectativas de melhorarem as suas classificações não tinham, por certo!

Um exemplo mais próximo de todos vocês, o Instituto Nun'Álvares, em Santo Tirso. Aqui, existe um regime semi-privado, em que os alunos mais favorecidos suportam os custos com os estudos dos menos favorecidos, nomeadamente os que frequentam os cursos técnico-profissionais.

Enfim... tudo numa lógica de "Educar para servir"... Parece-me que é aliás um denominador comum àquilo que fui expondo: pegando nos recursos que têm, põem-nos ao serviço dos outros! Parece-me da maior utilidade à sociedade, e da maior comodidade e interesse ao Estado!

Atenção: este comentário não é uma resposta a rigorosamente nada! É apenas umas luzes sobre o funcionamento de dois colégios católicos que conheço (um muito melhor por ter sido aquele que frequentei durante muitos anos), a fim de permitir um melhor conhecimento daquilo que se passa lá dentro.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

em resposta anterior à daniela, já se torna um pouco incorrecto demais insistir nos EUA como modelo de liberalismo. de facto, por muito que a legislação laboral seja flexível, grande parte dos benefícios daqui retirados estão a ser prejudicados pelo intervencionismo do estado no que toca ao apoio aos grandes monopólios comerciais, à excessiva despesa do erário público, às políticas de desvalorização da moeda que são consideradas por muitos analistas de inconstitucionais.
de salientar que os EUA passam por um problema similar ao nosso, onde ambas esquerda e direita insistem numa permanente sobreposição do Estado.

De salientar, por exemplo, a organização de quase Estado-Ploícia que a administração Bush criou nos EUA, com as políticas anti-terrorismo a desculpar muitos abusos, depois um exemplo que eu já discuti um pouco com o Francisco, aquele fantástico Patriot Act, que de tão patriota praticamente "roubou" as liberdades dos americanos.
de somar a subida do IRS nos EUA, mais uma vez ao serviço de interesses mercantilistas, etc, etc...

de facto, ultimamente os EUA e Portugal andam muito parecidos, só que nos por cá ainda vamos ao nível da ASAE.

D. disse...

"P. S - ao nível das faculdades, acho pessoalmente que em Portugal apenas há uma Universidade que consegue ombrear com as públicas. não vou dizer nomes, tal como nunca discriminei os nomes dos colégios onde toda a gente sabe que se compram notas.mas acho que não é difícil adivinhar."
está aqui a minha resposta. não se se leram o PS, mas é perceptível que fiz uma generalização reconhecendo que não é assim em todo o lado.
Manel, se os estados unidos não são o modelo de liberalismo são o quê?

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

mais uma vez, estás a ser descriminatória e inapropriada.
eu conheço faculdades privadas muito boas que não são essa, que suponho estares a referir-te à católica, mas não sei.
generalizar é muito giro, mas é preciso ter travões...

ps: se os estados unidos nao sao modelo de liberalismo, pelas razões que eu te expliquei, é a tua escolha se os quiseres fazer exemplo disso obrigatório, vais tar é dizer disparates.
é como dizer que a urss era o unico exemplo de socialismo.

Francisco disse...

Errata: A URSS NÃO é exemplo de socialismo.

D. disse...

como o Francisco se antecipou a responder o que eu ia responder, fica aqui em duplicado: A URSS NÃO é exemplo de socialismo. xD

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

loooooogo, os EUA não são EXEMPLO de liberalismo.
adoro quando, silogisticamente, vos faço descer do poleiro socialista para a fraterna compreensão democrática.

Anónimo disse...

Começo por dizer que acho que o problema da dita generalização da Daniela é um falso problema. Trata-se de uma generalização, de facto, mas para bom entendedor meia palavra basta e toda a gente sabe que há gente boa e gente má em todo o lado, coisas boas e coisas más em tudo.
A minha experiência pessoal, infelizmente, é também semelhante à da Daniela. Tive vários colegas que foram para uma escola secundária privada na tentativa de melhorarem as suas notas com vista a entrar em faculdades (preferencialmente públicas) cujas as médias de entrada eram altíssimas. E assim, de repente, colegas que anteriormente (no ensino público e do interior, que tb é diferente do das grandes cidades) tinham um aproveitamento global inferior ao meu passaram a ter um aproveitamento global muito melhor que o meu. Não me interessa sequer se eram "levados ao colo" ou não. O que me interessa são os factos que conheço, apenas.
Facto: nem toda a gente tem dinheiro para pagar uma escola privada.
Facto: as pessoas que vão para escolas privadas geralmente sobem, de uma forma, alucinante, quase obscena, as suas notas.
O que me leva a concluir que o que realmente era importante é que o nível de exigência fosse igual. Se assim fosse, talvez aceitasse que a existência das escolas privadas não é um malefício para a nossa sociedade.
Mas não é assim que as coisas são e, enquanto isso, as pessoas que estudam nas escolas privadas vão tirando o lugar àqueles que muito se esforçam no ensino público e a média necessária para se entrar nos cursos mais procurados aumenta sem parar.
Para além disso, é muito raro alguém que não tenha dinheiro para pagar uma escola privada durante o secundário ter dinheiro para passar mais um ano, ainda que numa pública, a puxar as notas para cima porque mesmo que fosse tudo de graça é dinheiro que se perde por não se andar a trabalhar. É assim que quem não tem dinheiro pensa, acreditem ou não.
A única coisa que me consola, de certa forma, é acreditar que, na vida real, quem é "bom" é bom e que quem é "mau" continuará a ser mau mesmo que tire muito boas notas e que faça todos os cursos do mundo.

De resto, os meus parabéns porque o que interessa, realmente, é a discussão.

Francisco disse...

Manel, é interessante o teu esforço mas... é puro non sense. Não te vou perguntar o porquê da tua consideração porque irias repetir o que tens vindo a argumentar. E o que tens vindo a argumentar não te dá razão nenhuma. Mais uma vez, qual doutor smithiano, crias o TEU conceito de liberalismo e depois afirmas que o país que todos os liberais apontam como paradigma do liberalismo eficiente não é... liberal.
Enfim, cada macaco no seu galho.

Um abraço

Anónimo disse...

Só algumas breves observacoes (a minha opinião completa, para além do já aflorado num comentário, dá-lá-ei num dia em post autónomo e bem reflectido).
1. Manel: tu dizes.te liberal. Agora tens de perceber uma coisa: a concepção de liberalismo comumemente aceite choca EM TUDO com o teu raciocínio. Se calhar não és liberal. O teu discurso encaixa mais numa lógica social democrata ou mesmo socialista. Não te podes arrogar de um certo ideário e materialmente defenderes outro: agradar a gregos e troianos é deveras complicado; e o teu post parece uma imensa contradição.
2. Como corolário do meu ponto 1, notei que citas Gomes Canotilho. por sinal, um autor de esquerda que perspectiva os Direitos Económicos Sociais e Culturais de um modo que, de resto, não é propriamente acolhido entre nós. Não podemos acolher uns certos pressupostos e depois estarmos sempre a desviarmo-nos.
3. Isso de ser liberal social é aquilo que tem correspondencia, na Europa, com a terceira via do sr. Tony Blair. É isso o teu modelo?
4. Em Portugal é o ideário daquele partido do Manuel Monteiro, a Nova democracia. É com tal que te identificas?
5. Não faz sentido colocarmo-nos numa dada corrente ideológica, com ela nos identificarmos e depois andarmos aos esses e, bem espremido o sumo, afigurarmo-nos idênticos a um qualquer outra. Eu, pessoalmente, não percebo como é que um liberal pode querer ensino gratuito universal. Ensino superior gratuito! parece-me uma aspiração social-democrata, uma aspiração de um Estado assitencialista que, em termo ideológicos, entre nós estaria identificado com a corrente mais à esquerda do PS e BE (creio). E estes são tudo menos liberais!

Abraço.

D. disse...

o tiago chamou socialista ao manel? eheh vou meter um poster do tiago no meu quarto. foi brilhante xD
a esta hora o manel tem uma corda ao pescoço e prepara-se para acabar com a sua vida...

Anónimo disse...

Eu adorava saber mais sobre o Manuel e as ideias que ele acha que tem, mas não tem ou se calhar até nem tem, mas querem que ele tenha. E também adorava que cada um de vocês explicasse por palavras vossas o que é afinal o liberalismo.
Ou, em alternativa, Manuel, admite que te confundiste um bocado porque isto parece 20 cães a um osso.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

anónimo, eu já me expliquei, já dei referências, já mostrei links e sites.
digo-me liberal porque defendo uma presença do estado inferior à actual. a problemática do ensino gratuito foi explicada duas vezes: no post e nos meus comentários. sinceramente, quem quiser ler encontrará o seu esclarecimento. o social liberalismo não se identifica com a terceira via, de já cá falei eu em post anterior.
chama-se social-liberalismo porque dentro do liberalismo aceita ideários sociais democratas. e eu identifico-me mais com essa posição.
tiago, eu sei muito bem que gomes canotilho é um autor de esquerda. e depois? quer dizer que eu não o posso ler nem citar? queres afirmar que eu não posso defender o que ele diz? torno-me socialista por gostar do que ele escreve, ou de certas coisas e citá-lo?
meu caro, eu tenho cá em casa um mapa político de 1940, em que a alemanha aparece "espalhada" por toda a europa. isso faz de mim um revivalista do império nazi? ou será que achei piada ao mapa e resolvi comprá-lo?
disseste que pelo que viste aqui em cima eu estava confuso. eu peço-te que faças um outro raciocínio. se eu disse, é porque é assim que eu penso que é a melhor solução. quanto a agradar a gregos e troianos, em democracia é bom pelo menos esforçar por conseguir consentimentos, mas isso tu já sabes.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

anónimo, podes conseguir definições de liberalismo e das suas várias formas em mutos sites, eu aconselho a wikipédia, que tem estranhamente uma boa reflexão sobre o assunto, ou os links que estão no meu blogue, especialmente o do MLS, movimento liberal.social, ou o blogue "ofuturoeagora.blogspot.com"

TR disse...

Não percebeste o que quis dizer: cada ideia está para lá do autor. Ou seja, não é por acolheres uma determinada ideia que tens de te identificar plenamente com o autor. Isto acho que é claro. Fazer o inverso é falacioso. Onde eu queria é chegar é que tu foste buscar nas tuas fontes algumas ideias do prof. Gomes Canotilho que são, CLARAMENTE, de esquerda. Pespectivar os Direitos Económicos Sociais e Culturais do modo como os vês - educação gratuita por imposição constitucional - é tudo menos liberal.

Tudo bem que te podes considerar liberal. "És árbitro e artífice de ti mesmo". Mas é igualmente certeiro que qualquer pessoa que te leia ao ver que te afirmas liberal fica, no mínimo, confundida. Para mim, toda a tua posição nesta matéria é de esquerda. Aliás, basta ver (mais uma vez...) que partidos no nosso parlamento a defendem e que correntes ideológicas a apoiam a nível internacional (O Noronha referiu o exemplo da Finlândia...A Finlândi é liberal? Portugal e, creio, a generalidade dos países europeus, têm educação gratuita nalguns níveis de ensino- são liberais? Aliás...o país mais próximo do liberalismo - não digo que seja liberal, digo que é próximo do liberalismo - EUA - tem um ensino superior com avultados custos, loge de ser gratuito).

Acho que estás a confundir uma ponto: uma coisa é reconhecer ao individuo uma ampla esfera para trilhar o seu próprio rumo, um espaço de autodeterminação, onde se possa desenvolver livremente. Outra é o libealismo, uma concepção de organização social.

Quanto à primeira realidade, qualquer partido actual (talvez o PCP e o BE não- nao sei) é pródigo em reconhecer esse núcleo inviolável em que a pessoa se pode desenvolver como bem entende; quanto ao segundo ponto, creio que um Estado de ideário liberal jamais seria tão vanguardista, tão assistencialista e tão preocupado com uma educação gratuita. Como disse, issto em termos de ciência política parece-me encaixar na social democracia(que, por sua vez, entre nós não se identifica com o PSD, não obstante a denominação do dito partido).

TR disse...

Mais duas notas:
1.Se social liberalismo abarca social democracia, então prefiro chamar social democracia ao que é social democracia e não conceitos e ideologias que ninguém conhece. Quando alguém se diz social-democrata sabem o que aquilo é; quando alguém se diz social-liberal entramos numa perfeita incógnita (parece uma ideologia mística que apanha todos os pontos bons de todas as ideologias).
2. Percebo o sentido do teu post, que apenas queres a melhor solução, que apenas pretendes uma sociedade mais justa. Aliás, acho que é isso que nos une ao comentarmos os posts. Contribuir para formar ideias, formarmos também as nossas ideias. (em rsposta ao fim do teu comentário ;)

Cumprimentos