quarta-feira, 21 de maio de 2008

a política vista por um liberal

Depois de Maquiavel o poder passou a ser visto pelo realismo político como uma potência neutra. Isto é, não há «bom» ou «mau» poder, mas sim muito ou pouco poder. Não sendo possível antever quem o vai manusear, é todavia razoável admitir que o seu uso deficientemente tutelado, sobretudo se em quantidades excessivas, conduzirá sempre ao mau governo e ao abuso. Por essa razão, John Emerich Edward Dalberg, mais conhecido por Lord Acton, em carta remetida ao Bispo Creighton, no ano distante de 1887, advertia que: «quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, frequentemente homens com mentalidade de gangsters detêm o controlo. A história provou isso. Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente.» Por essa mesmíssima razão, o efeito corruptor do poder, Gandalf advertiu Frodo que nunca, nunca em alguma circunstância, ele deveria usar o anel do poder, aquele que lançara a Terra Média nas trevas, e que o deveria destruir quando o conseguisse encontrar na demanda para que fora escolhido. O Senhor dos Anéis é a mais moderna fábula sobre o poder e a soberania. Muito boa, por sinal.

Numa versão benévola do funcionamento de um mercado político, os políticos, especificamente os que detêm o governo, cumprem razoavelmente os objectivos para que foram eleitos e evitam, até por razões de interesse pessoal (não serem afastados do poder por meios violentos ou pelo exercício do voto), situações incómodas, de difícil explicação pública, sobretudo as que se prendem com a aquisição ilegítima de recursos públicos. Todavia, não é necessário ser um político corrupto para ter a busca de renda como objecto prioritário da actividade política. De facto, ela permite aos seus executores uma mais fácil obtenção de riqueza e rendimento através da utilização de esquemas e favores próprios de quem detém poder soberano, que não existem na economia privada. Os economistas da Public Choice chamam a este procedimento típico dos actores políticos «rent seeking» e ele justifica muito da sua acção. Através dele, transferem-se para os agentes políticos, para os burocratas e, sobretudo, para os grupos de interesses próximos do poder rendimentos públicos que são verdadeiramente colectados na economia privada, aos quais não teriam fácil acesso fora da política. Uma análise, ainda que linear, da realidade portuguesa, demonstra-o facilmente.

1 comentário:

Nelson Rocha disse...

Eu poderia facilmente "desenhar" várias linhas de raciocínio acerca da afirmação o "poder corrompe". No entanto toda a minha atenção e capacidade crítica foi completamente afogada ao falares de Obra de Tolkien. Quem me conhece, sabe a "loucura" que alimento acerca de Tolkien, e a minha constante busca por mais e mais excertos e textos do grande professor e filósofo. Ora quando me dizem, e já não é a primeira vez: "Senhor dos Anéis?? Não gosto é demasiada fantasia!" Bem, fico ultrajado. Porque o facto que faz dela uma obra de extrema actualidade, é acima de tudo o seu paralelismo com o suposto "mundo real". (Seja isso o que for!) Isto é, se lermos com atenção, se deixarmos o nosso espírito divagar, por aquela que na opinião do autor é uma Europa Ocidental de à 6000 anos - a Terra Média (que é a tradução literal do termo anglo-saxão middangeard que se referia ao reino da mitologia nórdica), veremos que a crítica é latente, atingindo por vezes uma certa rudeza ou frontalidade tão característica do filósofo. Ora, religião, política, poder, etnias, relações raciais, segregação, preconceito, lutas por igualdade. Enfim toda uma sociedade se encontra no mundo de Tolkien, acima de tudo toma uma sociedade que John Ronald Reuel Tolkien procurava que fosse real. Melhor! Que transformou em realidade ao ser enterrado com a sua mulher com o nome de Béren e Lucien na sua pedra tumular. Para quem não sabe, Beren e Lucien são duas personagens marcantes de uma das mais belas estórias do professor.


Bem a paixão com que escrevo demonstra o meu apego ao tema, só peço desculpa a ti Manéu por em parte ter ignorado o teu "post". Mas enfim sou um apaixonado.


Abraço