quarta-feira, 13 de agosto de 2008

georgia II

uma resposta na Sociedade de Debates.

Visto que é uma questão que me afectou um pouco, venho discutir o texto do Duarte em forma de post e não em comentário. Não sei se isso dificulta a discussão (agora há 2 caixas de comentários, o que se pode comprovar confuso) mas a verdade é que achei que este assunto merecia MESMO um esclarecimento e/ou debate de uma parte contrária.
De facto, o Duarte mostra logo no título um certo complexo de inferioridade que é visto nos defensores do regime de Putin, esta suposta ligação ao medo do comunismo, ao ódio ao comunismo.
De facto Duarte, o comunismo não trouxe nada de bom à Rússia, o Estalinismo não trouxe nada de bom ao Mundo, os sovietes não foram uma coisa muito bem pensada no que toca a Democracia e Estado de Direito.
Mas nem é aí que fica a batata falaciosa. O grande problema é o Canotilho apresentar, (algo que tem em comum com os comunistas, diga-se de passagem), uma estranha noção de que a história começou ou no nascimento de Marx ou na revolução de Outubro de 1917. Tudo o resto para trás são diferentes estados da evolução da sociedade humana que iriam terminar, indubitavelmente, na sociedade sem classes, após a queda do capitalismo (como se viu, anos mais tarde, em 1989 em Berlim).
Infelizmente o hegelianismo não se aplica à história muito bem, e de facto há que procurar causas das coisas no passado. Alguém disse que o passado mais não era que uma prefiguração do futuro, penso que foi Mercia Eliade. E de facto, uma invasão da Geórgia por forças russas é algo que se vai repetindo por vários séculos.
E porquê? Porque a Geórgia possui uma das poucas entradas viáveis para o Mar Negro, alguns dos poucos portos bons. Eu vou linkando as páginas úteis para quem quer fazer uma verdadeira pesquisa sobre o assunto sem considerar apenas a cultura geral que sai nos nossos telejornais (que até ontem eram todos pró-Rússia, só hoje é que mudaram a opinião)
A Geórgia também é rica em minérios, e pode providenciar um corredor para energias combustíveis fósseis, que seria muito rentável se fosse controlado por amigos dos russos (até bem à pouco, isto por cá queria dizer PCP). E quando digo rentável, não me refiro só a russos.
E quando é que a Geórgia, essa safada, foi invadida pela Rússia, esse paraíso eslavo de pessoas bem-intencionadas?
No tempo dos Czares brancos, no tempo dos Czares vermelhos, e agora no tempo de um outro Czar, que eu chamaria de Czar KGB.

De facto, há várias perguntas a fazer sobre esta questão, e várias respostas.
De facto, já vi uma menção ao presidente da Geórgia de presidente "à lá americana". Não é bem assim, Hugo, acho que foste tu que escreveste isto. De facto, é a Geóriga que é considerada um amigo do Ocidente (que somos nós) por os seus ultimos governos agirem sempre nos interesses do seu povo, que tem sido a maior abertura aos nossos ideais de democracia liberal, estado de Direito, etc.
Isto é, obviamente, uma coisa má, porque o Ocidente não quer amigos.
O grande problema, é que ser amigo do Ocidente é uma grande merda (peço perdão pelo termo, mas não há outro suficientemente qualitativo), porque nós ocidentais somos uns maricas (com todo o respeito por aqueles que se possam sentir ofendidos por estas palavras). Como tal, quando um país europeu é invadido, ou um país europeu perde uma parcela enorme do seu território (logo a mais emblemática) nós escondemos a cabeça na areia e continuamos com a mania de que somos um povo muito solidário.
E agora, asério Canotilho, acusar a Geórgia de invasora? Mas... como é que a Geórgia pode ser a invasora?
De facto, o presidente da Geórgia até sabia isto, e quando viu as relações a azedarem com a Rússia, resolveu comprar uns tanques e criar um projecto de defesa militar (que não lhe valeu um cu, visto que os russos passaram pelos georgianos como manteiga barrada no pão).
A intervenção da Rússia foi providencial. Os separatistas da Ossétia não são heróis românticos. São etnicamente aparentados com os outros heróis românticos da Chechénia, ou seja, são ossos duros de roer que fervem em pouca água e batem nas mulheres.
Por isso, a Geórgia interviu, mesmo a tempo de ser prontamente interceptada por um exército de russos prontamente colocados na região e, vá se lá saber a sorte destes eslavos, armados até aos dentes.

A minha posição em relação a este conflito está explícita neste post do blogue Há Discussão. Acho que a melhor forma de acabar a minha argumentação com um pedido para que os interessados leiam as declarações do Presidente da Geórgia e dos Países Bálticos e Polónia.
De facto, o Tio Sam invade um país de 2 em 2 anos (é uma boa média).
Mas nunca um país onde imperasse o Estado de Direito ou em que o governante tenha sido democraticamente eleito. Isto não é uma desculpa. É só uma prova de que, o que se passa no Cáucaso, é algo totalmente diferente dos julgamentos precipitados que se pode fazer em relação à atitude da política internacional americana, que não é racionalmente chamada ao barulho para resolver esta questão.

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