quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

a questão africana

Caro Francisco:

Eu não acho que a Europa deva constituir uma força militar para ser mais uma "polícia do mundo". A verdade é que apenas pela aplicação de sanções económicas e "ralhetes" diplomáticos já se provou que "não se vai lá". E acredita, é um pacifista que diz isto. As últimas medidas de embargo e sanção tomadas tanto contra a Líbia de Khadafi e o Zimbabwé de Mugabe pioraram as condições da população pobre. O problema dos Europeus está na completa abstracção em relação ao que se passa em África. Haverá sempre uma elite (muitas vezes de raiz tribal,e raramente de raiz puramente política!) que não será minimamente afectada pelo embargo. E pior, tais medidas dão azo a que o mercado ilegal se expanda. Foi esse um dos pontos de discussão da cimeira, o perigo e a devastação que o tráfego ilícito cria em África.
O que se passa em Darfur exige, e repito, exige, uma rápida e poderosa intervenção militar da ONU. Porque é um problema muito grave, cuja magnitude é mundial. No entanto, nem sempre as potências da ONU estão de acordo em relação às intervenções militares, acabando por funcionar como obstáculos para esta mesma intervenção. Mesmo o caso da invasão da ex-Jugoslávia foi problemático, devido às simpatias ancestrais entre Sérvia e Rússia, só a muito custo ultrapassada a hesitação russa. Uma força representativa da UE, aprovada pela ONU, aproximava as potências europeias de África. Porque é óbvio que a relação Europa-África é privilegiada. Para justificar este facto poucos argumentos são necessários, de relevo está a Conferência de Berlim, que criou as fronteiras africanas no século XIX (ainda que arbitrariamente e sem considerar futuras ((gravíssimas!))consequências). Não falo de um novo colonialismo, nem de um intervencionismo animal! Falo somente de um maior âmbito de acção para a defesa da democracia, que já pede para despoletar nesses países. A Europa deve assumir um papel mais importante na construção de uma nova África. Deve compreender que é muito demarcada em África a diferença entre tribo e nação. Que as dissidências políticas têm pouco significado, visto que as rivalidades têm, no seu fundo, uma razão milenar. Essa divisão é aproveitada pelos líderes apoiados pela Europa. E assim se formam pequenos reinos africanos ligados à política anti-colonialista que não previu a ascensão dos tiranos apoiados pelas massas discriminadas pela exploração branca.
Sanções económicas não servem. Só para aproximar os países africanos da esfera de Pequim, e afastá-los de "nós". O que implica perda de capitais para o Europeu,e o aumento da área de influencia para a China. E consequentemente, afastamento dos ideais de liberdade europeia, pela troca do sistema de submissão ao regime próprio dos asiáticos. O mesmo se passa em relação aos EUA e à Rússia.

A Cimeira falhou em defender os interesses do Continente Africano. Mas Francisco, nunca foi esta a agenda da cimeira (infelizmente). A cimeira criou bases para o diálogo. O problema foi nada mais ter feito. Mas eu repito, já o pouco que fez foi admirável.
E é bem verdade quando falas em crescimento e não desenvolvimento económico. De facto, mais uma vez o mundo "civilizado" comete o erro de favorecer aqueles com quem mais se identifica nos países "em desenvolvimento". Quem melhor lhe serve os interesses. Mas não pode ser esquecido que Portugal pode, esperemos, ter lançado uma primeira pedra numa construção forte e sólida que todos nós queremos ver acabada, que é a África democrática. Mas antes, temos de criar uma África dotada de uma classe média desejosa de aumentar os seus direitos e criar um melhor futuro para a sua comunidade, fomentar o relacionamento dos Estados africanos com as antigas metrópoles para desenvolvimento cultural (de ambos, europeus e africanos) e para derrimir os ainda presentes ódios racistas. E esse caminho deve passar por auxiliar efectivamente e com força militar os movimentos opostos às ditaduras. Porque a Europa não pode, não está preparada, para fazer face a uma China em renascimento forte, nem aos poderosos EUA. Mas deve, desde já, prevenir o seu expansionismo para as suas fáceis presas, os países africanos.

1 comentário:

D. disse...

a Europa não deve intervir militarmente, ou vamos continuar a perpetuar um ciclo que há anos se repete. apoiar milícias anti-ditadura que depois sobem ao poder e dizimam os que outrora os dizimaram, vai continuar com o problema, numa sucessão infindável de morte. e assim nunca África vai conseguir ser um continente unido e com desenvolvimento económico e social. se há um papel importante que cabe à Europa é investir na educação dos Africanos, pois a educação é muito importante para criar novas mentalidades e acabar com rivalidades que apenas prejudicam os próprios. no entretanto, é necessário tentar ir resolvendo as situações pela via da diplomacia e sem tentar ver interesses económicos, como aconteceu na última cimeira.