Passados 4 anos de autoritarismo, de atropelos às liberdades individuais, de confusões injustificadas e casos de corrupção flagrantes, de privatizações danosas, de intervencionismos grotescos, de atrasos, adiamentos, aditamentos, de reformas insignificantes, de reformas que mais cedo ou mais tarde vão fazer um efeito boomerang assustador, que destino há para Portugal?
Num país onde as instituições democráticas são ainda insuficientemente credíveis, onde a própria república parece ser feita em moldes de oligarquia e onde a maioria da população está afastada da política, onde os cidadãos têm de escolher os políticos em vez de serem os políticos a fazer com que os cidadãos os escolham, onde há dezenas, senão centenas de partidos, e no entanto pouquíssimas opções, onde tudo sabe a fantochada e manipulação, qual é o futuro de Portugal?
Onde estão as verdadeiras políticas? Onde estão as verdadeiras discussões? Onde está o verdadeiro reaccionarismo, a verdadeira discussão?
Quando se irá discutir políticas económicas constantes? Para quando a próxima revisão constitucional, que parece que já está para vir? E que assuntos serão discutidos então?
O que é que nos falta? O que é que temos a mais? Como reduzir a burocracia, melhorar as condições das cidades, aumentar a tolerância da sociedade e como atrair força criativa?
Não existe em Portugal formas de lutar contra o poder instituido. As formas de protesto popular estão politizadas, e vêm na forma da eleição dos tiranetes aos quais somos submetidos a escolher. A Esquerda, ou está ultrapassada, ou não chega ao Povo. A Direita não existe.
O PCP de Jerónimo de Sousa, após uma fantástica revitalização durante as eleições presidenciais, cai de novo na sua maresia enfadonha, repetindo infinitamente os mesmos discursos, monopolizando a reacção sindical, monopolizando o protesto laborial, contribuindo par a criação de forças mortas dentro da economia portuguesa.
O Bloco de Esquerda continua a ser várias coisas. Ora proclama-se como a força a Esquerda Europeia e esconde o facto de estar ligada a organizações de extrema-esquerda violentas, ou fecha-se em copas e mantém o diálogo revolucionário caduco do partido anteriormente referido.
O Partido Socialista adormeceu. Leva-se por Sócrates, e para o ano já tem certinhos mais uns lugares na Assembleia.
O PSD já não sabe se há-de virar à esquerda ou à direita. Deixa-se levar por condicionamentos sociais. Os meninos ricos, fartos da política, e os meninos pobres, com vontade de entrar. Estes últimos, tocados pelo populismo, querem uma viragem à direita, mas a uma direita francesa, ao espelho de Sarkozy, uma direita que catalise forças de esquerda e direita. Infelizmente, nem o calibre para tal têm, nem o próprio país consegue aceitar a existência de sindicatos de Direita, uma realidade tão normal na Europa, tão impensável para o carimbo português. Ainda por cima, os meninos ricos, que nem querem virar à direita nem à esquerda, minam todos os seus passos. Assim, os meninos pobres largaram a presidência do partido, e agora os meninos ricos vão ter de pensar à última da hora num plano. Para mim, uma jogada de mestre dos meninos pobres.
O CDS já não é nada. É o PP. Já não é o partido de direita de homens grandes da democracia, como Nuno Abecassis ou Adriano Moreira, conhecido nosso (autor de muitos livros de Direito), é o partido do Populismo, da idiotice, da procura por um espaço fora da Assembleia.
Eu não digo que Portugal precise de um Sarkozy. Talvez precise mais de uma Thatcher. Mas há que ter atenção a uma tendência que se forma e é perigosíssima. Os portugueses começam a perder o controlo sobre o seu País, perdem-no para elites cada vez mais omnipotentes.
Todos sabem quem será o vencedor destas eleições. O problema é o seguinte: será isto democracia?
sábado, 19 de abril de 2008
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7 comentários:
Talvez as próprias especificidades da democracia portuguesa sejam a causa de o PSD ter dificuldades em ser oposição com um PS maioritário.
Note-se que nos restantes países da UE os principais partidos (grosso modo) são o Partido Democrata Cristão - de direita - e o Partido Social-Democrata - de centro-esquerda. Ora, em Portugal, o centro é sucessivamente cobiçado por um PS, que tradicionalmente ocupa o centro-esquerda, e um PSD, que geralmente abrange o centro-direita. Ganha as eleições quem ocupa o centro. Isto de uma forma simplista.
E, com este Governo, que nem é de Direita nem de Esquerda, que é um governo casuístico, que cria medidas que têm efeitos no momento e que não garantem sustentabilidade, que é um Governo Zapatero de segunda categoria, mas que vai piscando o olho à Direita, o PSD vai vendo o seu espaço diminuído. E se as coisas correm mal para o PSD, então vem a oposição interna. E o líder do PSD na oposição que de repente mais "apoios" vai receber será sempre aquele que estiver em funções quando o PSD acabar por ir para o Governo (ex.: Durão Barroso).
Penso que Portugal neste momento precisa de alguém que mais do que abrir rupturas e rachas na sociedade portuguesa, como Sócrates faz e continuará a fazer, consiga congregar vários sectores e focar-se em questões verdadeiramente preocupantes para os portugueses. Parece-me que neste momento Marcelo Rebelo de Sousa seria o candidato de maior nomeada e credibilidade para uma situação transitória, para organizar a "casa".
Como não estou muito em crer que Marcelo Rebelo de Sousa vá avançar, não se desgastando até 2016, parece que a solução passará aí por terras "mui invictas" (se bem avalio a origem dos bloggers).
mas Marcelo trará uma mudança para o centro esquerda. eu penso que ele está a fazer um raciocínio de troca, ou seja, alternar a posição centrista do PSD com o PS. o que não deixa de ser algo idiota, se bem que aplicável à política portuguesa. para combbater a viragem ao centro-direita do PS, (que eu não chamo de Direita mas sim de pseudo-liberalismo condicionado por medidas de intervencionismo crónico) o PSD iria virar o centro-esquerda.
ora isto é ridículo. Falta aqui uma certa diferenciação de políticas. Acabamos por escolher todos os 4 anos algo que é idêntico. até os americanos têm mais opção de escolha.
PS: não é só o PSD que vai ter a sua solução vinda da nobre Cidade do Porto asl, vai ver que daqui a uns anos, do Porto virá mais rejuvenescimento político do que aquele que esta grande cidade deu no ano de 1820 ;)
De acordo. Mas o maior desafio do PSD neste momento é credibilizar-se, honrar a sua história. Para isso, parece-me que precisa que a casa seja arrumada e de ter um líder que una o partido. Aliás, peço desculpa pela redundância: o PSD precisa de ter um líder. Unir o partido não é mais do que uma consequência de uma boa liderança. E por isso digo que não veria qualquer problema em que o líder agora eleito apenas fosse transitório.
Mas ao que parece a opção Marcelo está fora da corrida...
PS: Esqueci-me (gravemente) de uma outra hipótese lisboeta - Manuela Ferreira Leite! De todos os modos, e muito sinceramente, como patriota que sou, não me faria confusão rigorosamente nenhuma, como é mais que lógico, ter um Primeiro-Ministro ou Presidente da República do Porto se fosse o mais competente e com melhores ideias para o cargo! Que venham daí ;)
dois bitaites:
1 - Nem Portugal nem qualquer outro país precisa de uma Thatcher. Os anos 80 já lá vão e com eles a destruição irresponsável e danosa da segurança social. E do próprio Estado Social.
2 - Afirmares que nos EUA se tem mais possibilidade escolha no que a formações políticas diz respeito, é um erro e um menosprezo gritante. Importantes ou não, predominantes ou não, em consonância ou não com as tuas ideias, teres a possibilidade votar num BE ou num PCP é coisa que não tens nos EUA. Nem sequer num PS (mesmo o "PS" dos dias de hoje).
Um abraço
Margaret Thatcher teve a sua época, as suas circuntâncias, as suas acções benéficas e maléficas de uma política neoliberal excessiva, pelo menos a meu ver.
mas porra, que diabo de mulher ela era. relançou a economia britanica, mas para isso hipotecou o futuro de muitos ingleses e dos governos seguintes, que tiveram de apostar a recriação de um estado social. a verdade, é que o estado social era injusto e ineficaz, e agora é bem estruturado e inovador (não esqueço a medida dos incentivos aos jovens de bairros sociais recebiam por investir na sua educação e acção cívica) o que o nosso estado social precisa é de um reordenamento, que eu espero que consiga antes de chegar ao ponto de calamidade que a gra-bretanha de thatcher teve, e sem precisar das medidas que ela tomou para a tirar de lá.
quanto ao ponto dos estados unidos, eu não sei se falei nisso nestes textos francisco... mas pelo sim pelo não, se o disse, era uma opinião própria, por muito "gritante" que fosse.
e se a fiz, provavelmente fi-la fora do contexto de partidos como o BE e o PCP...
"Acabamos por escolher todos os 4 anos algo que é idêntico. até os americanos têm mais opção de escolha".
São palavras tuas.
Mas tê-lo dito propositadamente colocando de fora o BE e o PCP é precisamente o teu erro. Em democracia, à partida (no sentido de pré-eleições), todos os partidos valem exactamente o mesmo. A representação política é outra coisa.
Por isso afirmares que os americanos têm mais possibilidade de escolha não faz sentido, é falso. Se hoje tanto se diz que em Portugal há uma partidocracia, então como se chamará nos EUA? Ditadura partido-dicotómica talvez soe bem (custou-me formular este conceito).
Um abraço
ahahahahahah. brilhante.
é verdade, está bem formulado, é mesmo uma dicotomia partidária (que consegue ser muito ditatorial).
no entanto, talvez a construção da sociedade americana e o estilo de organização das entidades democráticas não permitam um centralismo forte o suficiente para permitir os abusos que aqui acontecam.
enfim, mas reconheço o meu erro, descontextualizei a nossa riqueza partidária, de certa forma.
abraço e bom estudo ;)
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