Mário Soares não diminuiu o seu lugar na História com a desastrada aventura presidencial em que se meteu no final do Verão de 2005, aos oitenta anos de idade. Quando muito, a sua biografia terminará com uma nota melancólica ou até soturna, em dissonância com uma vida cheia de luz, grandeza e sucesso, em que os ocasionais revezes devem ser levados à conta do que por vezes inevitavelmente perde quem muito arrisca e luta. Era, e continua a ser, um “pai da Pátria”. Entre os seus muitos êxitos, avulta aquele que recolhe a gratidão e o louvor unânime dos Portugueses. Foi entre 1974 e 1976. Quando os comunistas se preparavam para confiscar a revolução de Abril e submeter Portugal a uma nova ditadura, e quando Cunhal planeava fazer de Soares um Kerensky português, Soares furtou-se a esse destino e liderou uma contra-revolução democrática triunfal: nem conduziu a uma “restauração” revanchista, nem ao aniquilamento dos adversários à sua esquerda. Conduziu, muito simples e precisamente, à Democracia. Soares cometeu um dos feitos mais difíceis da História: travar a revolução, sem cair na reacção.
E mais nada fica por dizer.
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1 comentário:
Acho que o louvor a Mário Soares é justo e devido. Ainda que não me encontrando no mesmo pólo político e ideológico, reconheço abertamente que teve um papel relevantíssimo para a consagração do nosso regime democrático.
No entanto, discordo da ideia de o seu lugar na História não sair diminuído com as presidenciais de há 2 anos. E digo isto por dois motivos essenciais:
Primeiro: Se há atitude louvável em qualquer político é saber qual é o seu momento para sair de cena. Se Mário Soares criticou - e bem - Salazar por não ter sabido qual era o seu momento, deveria ele próprio reconhecer que os políticos estão para servir o País quando este precisa deles; e, em 2006, Portugal não precisava de Mário Soares NAQUELAS FUNÇÕES. (Entendo que as funções "não oficiais" de ex-PR devem ser ainda mais significativas e que Mário Soares as tem sabido explorar muito bem).
Segundo: Mário Soares deu um mau exemplo ao ter feito, declaradamente, daquela campanha uma oportunidade de se sobressair em relação a Cavaco Silva e, sobretudo, talvez mais do que ganhar as eleições, evitar que Cavaco Silva as ganhasse. Não tenho grandes dúvidas de que Mário Soares não avançaria se o candidato da Direita fosse outro que não o seu ex-PM, de tempos de coabitação tão tempestuosa.
Mas, retomando o ponto inicial, sublinho o importantíssimo papel que Mário Soares teve e a admiração e o sentimento de agradecimento que de todos os Portugueses democráticos merece.
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