terça-feira, 1 de julho de 2008

a resposta

De facto Francisco, terás o teu conceito de comunismo, que é algo a que tens todo o direito e não deixa de ser meritório.
No entanto, haverá uma base dentro dessa ideologia que terás de partilhar com uma larga maioria de comunistas, ou melhor, com todos os comunistas, para fundear o teu conceito de comunismo(saliento que não te estou a chamar de comunista, somente a referir-me ao teu conceito de comunismo)
E nesse caso, acho que negares a essência utópica do comunismo "científico", a sociedade sem classes, a ditadura do proletariado, etc., etc., te retira do conceito actual de comunismo. É muito bom e compensatório afirmar que Estalinismo não foi comunismo, que Maoísmo não foi comunismo, mas é muito estranho que o faças quando os vários partidos comunistas os usam como exemplos de tal. A meu ver, tu baseias a tua concepção de comunismo apenas em Marx. Ora Marx é o comunismo imaginado para os proletários do terceiro quarto do século XIX. Não se adapta a mais nenhuma parte da história sem actualizações profundas. Daí alguns comunistas afirmarem que o verdadeiro comunismo é o Marxismo-Leninismo, e eu concordar.
O comunismo existiu sim Francisco, tanto como o fascismo. Porque na tua linha de raciocínio, deixa-me acrescentar, nem o fascismo cumpriu a "sua missão" até ao fim. De facto, não se conseguiu a pureza racial, que era impossível, não se conseguiu a supremacia do estado sobre os meios de produção, porque eram as classes poderosas de industriais que subiram os regimes ao poder e depois os desertaram, nunca se conseguiu a criação do super-homem nietzchiano, porque ele não existe. E o comunismo, de facto, não conseguiu criar a sociedade sem classes, porque elas são inerentes à organização económica dos seres-humanos, não conseguiu destruir a religião, porque os destruidores caiem sempre no erro de criarem cultos, não conseguiu proteger a Liberdade e a Igualdade, porque defendeu Igualdade com Igualitarismo. O comunismo foi uma Utopia que, tal como o Fascismo, foi mantida em várias nações e oprimindo vários povos por homens com verdadeiras mentalidades de gangsters.
Portanto, não é comparar uma coisa que existiu com uma que não. É comparar duas que não cumpriram os seus desígnios, por uma simples razão: eram sociedades utópicas e desumanas, baseados em ideais desfasadas da realidade em que existiam, a realidade humana, necessitada de Liberdade e Tolerância. E todas as Utopias são infelizes às memórias dos Homens, porque consistem no inculcamento forçado de novas normas e novos costumes numa sociedade, que só as mantém "forçada". E todas estas Utopias querem transaccionar para realidades novas, tanto o Fascismo como o Comunismo. Cada uma à sua maneira, no entanto. E quando falas em matar, devias porventura ler um pouco mais sobre a história do Fascismo e do Comunismo. Se é verdade que o Comunismo matava quem pensava diferente, também é verdade que as minorias eram perseguídas, quer pela sua difícil integração, quer pelo receio de virem a apoiar movimentos "reaccionários". É o caso dos Tchechenos durante a URSS, os chineses muçulmanos durante Mao, os imigrantes espanhóis em Cuba. E nem todo o fascismo era racista e xenófobo até ao ponto de genocídio. Porque, tal como acontece com o Comunismo, nem todo o Fascismo era "científico", ou seja, o caso do Fascismo Italiano nunca deu amostras de politicas de genocídio até que o regime passou a ficar na alçada de Hitler. O que não desculpa a discriminação racial, claro.

E se a Esquerda Comunista luta nas ruas, democrática e pacificamente, esse é um fenómeno muito recente, principalmente em Portugal, e até agora tenho ouvido relatos de violência de lado a lado, tens de me mostrar que tipo de Jornal lês que só te reflecte violência de extrema-direita, que eu acho que estás a ler coisas sobejamente parciais.

Ponto d)
O uso do adjectivo Utopia, dos substantivos "utópicos", por muito que te pareçam usados abusivamente, reflectem isso mesmo. O uso de argumentos que implicam uma moldagem à figura e imagem de um pressuposto ideológico, seja ele totalmente concordado ou não. Não implica poucas ideias por parte de quem os emprega, porque eu os emprego e ideias não me faltam.

Ponto e)
Não há discussão que Esquerda será sempre sinónimo dessas três belas palavras, que eu já vi serem usadas tantas vezes para os mais belos propósitos, e para os mais nefastos. Mas é exactamente isso que tratam, de palavras. É o conteúdos das acções que, isso sim, é passível de ser mudado por alguém ou por várias pessoas. E é isso que a Esquerda não percebe, ou continua sem entender. Que são as acções daqueles nos cargos responsáveis que moldam e influenciam os resultados, e é a forma como eles subiram a esses postos de poder que molda e influencia as Ideologias.
Não há nenhuma necessidade hoje para uma sociedade anti-comunista ou anti-fascista. As experiências do passado, experiências que caíram no totalitarismo, propositado ou não, falharam todos os seus propósitos de economias colectivas, e foram desintegradas por homens e mulheres que, agindo de dentro ou fora desses Estados, consideraram seu dever enquanto Homens e Mulheres lutar, não-raras vezes pouco pacificamente, contra a predominância do autoritarismo e da tirania.

1 comentário:

D. disse...

portanto, se eu disser dois e toda a gente aplicar três, eu mandei aplicar três. faz sentido.
como é que o fascismo pode ser utópico se é tão fácil ser racista, discriminar as pessoas em função de muitas das suas diferenças que não o são na realidade e outras características por aí fora? desculpa, mas em qualquer conceito ou em qualquer visão, é fácil entender que o comunismo nunca existiu (e nunca vai existir), enquanto que fascismos ainda existem muitos por aí.