sábado, 12 de julho de 2008

o douto

Há Discussão,

e há discussão por motivos muitos comuns e nada extravagantes ou extraordinários. O meu colega Francisco, a quem retribuo o epíteto de doutas palavras à sua argumentação, porque o foi de facto, deu-nos uma luzes sobre economia , matéria na qual está bem experimentado e na qual já tem larga habituação, e outras sobre ciência política. Devo dizer que, mais uma vez, sem grande extravagância, as nossas opiniões não são tão divergentes em alguns assuntos, por muito que noutros haja um claro deficit de definições que são urgentes de aprumar.
De facto, no que toca à economia, a exposição do meu amigo Francisco não se abstrai da realidade, nem dos verdadeiros objectivos de uma empresa. Ora, aquilo que Francisco chama uma argumentação, eu só posso responder-lhe, com a simplicidade e o conhecimento quase leigo que eu partilho do assunto em questão, que somente posso chamar as coisas pelo nome mal as vejo.
Sim, de facto, é muito persuasivo todo o discurso da função social. É de facto admirável ver uma empresa em que os esforços sejam distribuídos não só pela produtividade, mas também pela formação. Também pela vida em comunidade. Vejamos certos casos extremos, como as empresas japonesas, que formam verdadeiros clãs de laços familiares e afectivos.
Tudo isto e muito mais apontado criteriosamente pelo meu colega, a quem eu agradeço tal generoso esclarecimento, e reconheço mais uma vez o meu leigo conhecimento, tal como o meu colega se incomoda de reportar.
No entanto, e findando toda a conversa, não será tudo isto com vista ao mesmo objectivo?
A argumentação de Francisco, elevando os padrões da formação, da importância do trabalhador enquanto elemento produtivo, é de facto tudo muito passível daquela definição tão portuguesa e tão amada, é tudo muito "do social". Mas todos estes esforços não se farão em prol do lucro?
Sim, de facto, eu compreendo a relação de empregador e empregado como obtenção do lucro, do resultado. E para isso será óbvio o bem estar, a devida recompensa, para que o trabalhador dê todo o seu contributo produtivo. E isto tanto na empresa como na vida em sociedade.
Será então o mundo um bando de egoístas à procura de explorar patrão e empregado em busca do seu benefício? Não, não acredito assim tanto na perdição das relações inter-humanas, mas acredito que uma relação entre empregado e empregador só será sustentável quando houver uma relação de trade off, um conflito de escolha, a obtenção de algo em sacrifício de outra coisa. Essa própria relação, potencialmente benéfica, trará a ambos o objectivo final. O lucro. Espero não estar a ser muito informal ou leigo nas minhas explicações, ou mesmo redundante, o meu obséquio é não falar daquilo que não entendo nada, como o meu amigo Francisco se cansa em relatar-me.
De facto, colega Francisco, o que me disseste parece-me muito teórico, mas não se separa muito daquilo a que eu chamo lucro. O propósito é conseguir mais dinheiro, mais consumo, mais produção. Através de quê? Políticas empresariais inteligentes. Algo que está na base do contrato e do diálogo empregadores/empregados.
Quanto ao caso do mecenato. Ora meu caro, aí já envolve áreas que eu conheço melhor. É, como tu sabiamente dizes, um tipo de demonstração de protagonismo pseudo-filantropo, de interesse pela arte e pela cultura que tantos e tão boas repercussões politicas tem em qualquer país. Mas daí, a palavra mecenato vem do antigo e nobre Mecenas, o ministro de César Augusto, que patrocinava as obras dos artistas a suas expensas e entretanto funcionava como um Ministério da Propaganda da Antiguidade. Mas aí, obviamente, se repete o mesmo canto laudatório: a busca pelo lucro, o investimento e o futuro aproveitamento.
Não sei até que ponto, de facto, contrasto ou entro em conflito com as ideias de Milton Friedman, mas procurarei informar-me melhor da próxima vez que falarmos disto. Levo alguma desvantagem, admito-o.

Quanto ao assunto do fascismo:
Mais uma vez são os problemas de definições, os pontos de vista. Não vejo o regime de Augusto Pinochet como fascista. Parece-me uma designação facilitada, Francisco, e não leves isto a mal. Em Portugal há muito este medo do "fássismo", onde se distribui estes simpáticos adjectivos por toda a gente na casa contrária. De facto, vai um longo caminho da Ditadura e o Fascismo. Se formos de definição tão leve, então estaremos em três tempos a apelidar as Ditaduras de Primo de Riviera e de João Franco ou Sidónio Pais de fascistas. Seria colocar injustamente estes senhores várias décadas à frente do seu tempo.
Não, há muito mais no fascismo do que simplesmente uma ditadura. E é incorrecto classificar as ditaduras sul-americanas de fascismos.
Falta todo o simbolismo e ideologismo inerente ao fascismo. A palavra maldita, proveniente de uma outra, fascio, devido ao facto de os camisas negras de mussolini carregarem fachos (símbolo dos lictores, os protectores dos magistrados romanos e assim da república romana, grande porra de ironia, não é?).
O caso de Pinochet é o de um Governo por uma Junta. Essa Junta, como afirma o Francisco, tem um carácter oligárquico. De facto, é fácil saber porquê. Quando um regime instaura uma Junta, é sempre de carácter provisório. O que se acaba por formar com a permanência desta Junta é a viciação do diálogo político, o início do autoritarismo, políticas desumanas e desinteressadas do consentimento público, etc. Autoritarismo é um bom sinónimo para a Ditadura de Pinochet. No entanto, fascismo é apenas pouco cuidado com os nomes que se dá às coisas.
Daí eu ter dito ao Francisco, que prontamente se comprometeu a aconselhar-me uma calculadora, que muitas vezes 2+2 saírem 5. É claro que não em termos matemáticos, os quais ele dominará grandemente em comparação a mim, mas no simples facto sociológico e do estudo profundo das coisas.

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