O Manel conseguiu trazer-nos aqui mais um belo testemunho da qualidade intelectual que grassa na imprensa portuguesa. Não me apetece na verdade desenvolver muito esta questão, na medida que sinto que quanto mais pobre é uma ideia, por mais atacável que seja, mais reduzido é o meu apetite em discuti-la.
Sendo assim, dizer apenas que:
a) Comparar o fascismo com o comunismo não é intolerável. "Os extremos tocam-se" é um cliche válido. O erro do costume é comparar uma coisa que foi com uma que nunca foi. O fascismo conseguiu atingir o que se propunha, felizmente por pouco tempo. O comunismo não. Porque o comunismo não foi comunismo, porque Estaline foi um ditador sanguinário como outro qualquer, porque a URSS não era nem livre, nem democrática, nem igualitária, nem poderosa, nem abudante, nem... comunista. E agora chamam-me de ingénuo e demagogo por criar o meu conceito de comunismo. Seja. Contento-me com o facto de muita gente também o criar. Comunistas e não-comunistas.
b) O fascismo nada tem de utópico, a não ser a metafísica teológica (pois claro) e a ignorância em ponto caramelo (o racismo, a xenobofobia e por aí fora). Não quer transitar para nenhum mundo ou realidade diferente. O comunismo, ao invés, não é racista, não é xenófobo, e se matou tanta gente como o fascismo - e matou, não há dúvidas - não o fez por motivos abjectos desta ordem, mas pela igualmente repugnante perseguição política e intelectual, próprias de um regime totalitário. Matar é matar, bem sei. Matar porque pensam diferente de mim ou matar porque são de uma cor diferente da minha, desemboca no mesmo. Sem dúvida. Mas apenas no acto final em si. Penso que as permissas do acto, sendo radicalmente diferentes, não podem ser ignoradas. E a maior prova disso é que hoje temos grupos neonazis a matar nas ruas. E os comunistas? A lutar nas ruas, democrática e pacificamente.
c) Gordon Brown não é de nenhuma esquerda, nem moderna nem antiga;
d) A Esquerda não se reveste de nenhum superioridade moral. Há quem, dentro da Esquerda, o possa postular. Claro. Como na direita, como em qualquer campo intelectual, político ou apolítico. O que para a direita (não a direita portuguesa de hoje, toda ela desigualdes sociais) é complicado e custoso de perceber é que de facto há quem tenha diferentes preocupações em certos aspectos. E quando o constata, em vez de afirmar claramente que não as tem; que neste ou naquele ponto discorda porque deve ser assim ou assado; que tem outras preocupações... não, não o faz. Atira o rótulo de utópicos, demagogos ou pseudo-moralmente superiores. Fácil!
e) A Esquerda quando é viciosa, não age de consciência tranquila. Por isso mesmo é que até aqui eu disse o que disse da URSS. E o mesmo digo para tantos outros regimes, do passado ou actuais, de "esquerda". Porque não o são. Porque Esquerda, é e será sempre indissociável de Democracia, Liberdade e Igualdade. Lamento, mas isto ninguém mudará.
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