domingo, 22 de junho de 2008

Do centrão, centrinho ou bloco central (e passe a publicidade ao nosso Professor de Economia Política)

Anthony Downs em 1957 descreveu o poder do votante mediano com base na ordenação das propostas políticas na dimensão esquerda-direita, sendo a regra de decisão a maioria absoluta. Este autor assemelhou o sistema político a um mercado em que os políticos são "produtores" de propostas que têm como objectivo maximizar o número de votos para serem reeleitos. Os "consumidores" revelam as suas preferências pelo voto. Os políticos vão escolher o espaço político de forma a maximizar o número de voto. Sendo assim, o resultado da competição entre duas propostas leva a que os candidatos tendam a esbater as suas diferenças ideológicas e se posicionem na posição que corresponda às preferências do votante mediano.
(...)
Ambos terminarão na vizinhança da posição do meio da distribuição de votantes (posição do votante mediano) fornecendo propostas que correspondem às preferências do votante mediano, as quais se impõem a toda a comunidade. Nessa posição não há diferenças entre os candidatos (ambos propõem o mesmo).
Neste caso não é uma supresa um forte nível de abstenção, pois em termos de acção colectiva ambas as propostas são idênticas.
(...) Nas democracias actuais, as diferenças ideológicas entre os candidatos que podem sair vencedores nas eleições normalmente não são muito relevantes em termos ideológicos e o nível de abstenção tende a ser elevado.


in Dialécticas da Escolha Colectiva, José Neves Cruz

Posteriormente, o autor aponta como defeitos à teoria do votante mediano de Anthony Downs, entre outros, 1. o facto de se assumir que são os votantes que posicionam os candidatos e não o contrário; 2. o facto de se admitir que os votantes estão igualmente bem informados acerca das propostas políticas.

Quanto ao primeiro ponto, infelizmente, ele é verídico em grande parte das democracias actuais. Os partidos são hoje máquinas de acesso ao poder; os políticos carreiristas como quaisquer outros empresários, engenheiros ou investigadores. Quando esta desideologização é tão evidente, os candidatos são de facto produzidos em função dos votantes, das suas necessidades mais imediatas. Convicções? Zero.
Relativamente ao segundo ponto, não me pareca que ele seja relevante. Quando as propostas políticas dos potenciais vencedores são tão equivalentes, parece-me que pouco interessa se os votantes estão muito ou pouco informados do quid em que elas consistem. Talvez aí lhes seja bem mais atractivo, estando ou não bem informados, fugir ao centrão e deixarem simplesmente o seu voto em partidos fora desse núclo central. Ou então absterem-se.

O livro de Anthony Dawns é o An Economic Theory of Democracy.

1 comentário:

D. disse...

não transcreveste a parte que fala do facto de serem os indivíduos com ideologias que normalmente não seguem a tendência do votante mediano. com sorte, com sorte, daqui a uns anos as ideologias poderão ter mais que votantes medianos e alguma coisa poderá vir a mudar.