porque é que actualmente, em Portugal, a direita nunca se colocou ao lado da causa do casamento homossexual? Já agora, porquê que tu nunca o fizeste? Porquê que os políticos que podem de facto alterar conteúdo estão, invariavelmente, à esquerda?
Francisco, a resposta a estas três perguntas é dada da forma mais concreta possível.
Primeiro, porque entre as forças de direita podes distinguir forças liberais e conservadoras, sendo que ambas não estão empenhadas nessa causa. Porquê? Porque a política é feita por pessoas em busca dos interesses da sua colectividade. E se é verdade que conheço conservadores que vêm no casamento homossexual uma traição aos princípios à vida social de um Estado, posição com a qual, já agora, não concordo, conheço um liberal, uma pessoa próxima de mim cuja identidade permanecerá no seguro anonimato, que sendo homossexual não tem interesse no casamento gay. E provavelmente é isso que se passa no seio da Direita. Os supostos interessados com a possibilidade de se casarem são poucos e portanto não se demarcam dentro do partido. Mas que haverá pessoas de direita, conto por exemplo Francisco José Viegas, que se põem directamente ao lado da causa do casamento homossexual, não tenho a mínima dúvida. E acho que farias uma generalização injusta caso afirmasses o contrário.
Quanto ao meu apoio ao casamento gay, parece-me um pouco discriminatório agora ver as luzes da ribalta ligadas sobre mim apenas por nunca ter manifestado tão abertamente como tu o casamento homossexual. De futuro, procurarei uns vídeos no YouTube sobre o assunto e postá-los-ei aqui no Há Discussão para mostrar o meu apoio. É verdade que eu, devido aos meus antecedentes culturais e religiosos, vejo o casamento como algo mais do que um "contrato", e acho que é uma instituição dotada de uma nobreza de conteúdos com um valor social muito grande, mas daí até defender a sua regulação excessiva pelo Estado é uma coisa totalmente diferente. As pessoas, a partir do momento que são grandinhas, arcam com responsabilidades e deveres, ou simplesmente não, e arcam com as responsabilidades das suas decisões daí tomadas. Não podem é ser proibidas de as tomar, que é o que se passa com a "proibição" do casamento homossexual. A restrição, não só de um direito contratual, mas de um dever, de uma responsabilidade, de um direito.
Quanto ao facto de todos os políticos que apoiariam essa causa estarem na esquerda... enfim, estamos correntemente a ser governados por um partido de esquerda, e eu não estou a ver nada. Até acredito que o único partido no parlamento capaz de defender o casamento entre homossexuais abertamente é o BE, visto que há reservas por parte do PCP, segundo me consta. A razão do PS e do PSD nem sequer pensarem nisso é porque estão ainda muito apoiados por sectores mais conservadores da sociedade, a pequena e média burguesia, os sectores católicos da sociedade que fogem do CDS, etc. Por isso, acho que quando a questão se trata de Direitos Humanos, não se prende a Esquerda ou Direita. Prende-se nos Homens que as representam. E acima disso, nas colectividades em que estão obrigados a servir de protector de interesses.
E é por isto que há uma democracia liberal. As decisões são tomadas pela maioria, que expressa a mentalidade e a vontade do povo. E por muito que nós vejamos como algo natural o casamento homosexual,( quer dizer, eu vejo como algo natural, tenho a certeza que em Portugal o primeiro casamento homossexual será uma bandeira da Esquerda e um acontecimento televisionado) aparentemente a população portuguesa não está preparada para essa mudança, essa reforma. E como eu sou a favor das mudanças impostas de baixo para cima, dentro dos limites racionais do Estado de Direito, sou contra medidas impostas, ou aparentemente impostas, de cima para baixo.
O que falta, então?
Fácil. Campanhas de sensibilização, tempo, educação, segurança para os homossexuais que se querem casar, e a certeza dessa segurança por parte da sociedade. Maior diálogo. Porque o que Zapatero fez em Espanha foi muito bom e "à frentex", mas num país ultra-conservador como a Espanha pode ser, os crescentes casos de ódio e discriminação quanto à escolha de parceiro sexual são óbvios resultados de um fruto colhido ainda muito verde. Antes de leis maduras, precisámos de uma sociedade madura, que crie tais leis.
E isso não se consegue amanhã.
terça-feira, 1 de julho de 2008
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6 comentários:
vejo que mudaste de ideias em relação ao assunto. terão sido os olhares de morte de uma certa amiga minha naquele jantar em tua casa? xD
Manel,
como eu fiz a previsão acertada da tua argumentação, procuraste não ir por aí. Contudo, como não poderia deixar de ser, deixaste transparecer a ideia de sempre.
Ainda bem que resguardas para ti esse valor do casamento como algo mais do que um "contrato". Porque, evidentemente, para os homossexuais o casamento é apenas um contrato. Ou se calhar até menos que isso. Um insignificante e desprezável comprovativo de uma união qualquer.
Quanto ao teu amigo-fantasma-gay-de-direita-que-não-quer-que-haja-casamentos-gays está no seu direito. Como eu estarei no meu direito de ser heterossexual e até não querer que haja casamentos nenhuns ou que reine a poligamia. Sinceramente, é com cada pérola que para aqui trazes...
Quanto à pergunta a ti dirigida, é pena que tenhas respondido da forma que o fizeste. Argumento ad hominem e nada mais. Bem sei que te deve custar um pouco quando abres um blog e te deparas com indivíduos esclarecidos defender o fim de uma das violações mais gravosas dos mais elementares direitos na sociedade hodierna. Peço desculpa, mas só por esse apontamento, irei redobrar a quantidade de videos pró-casamento gay aqui no blog. Este blog será a casa do gay pride. E falo sério!
É engraçado como tentaste ridicularizar a defesa que faço, e sempre farei, do casamento. Porque defender o casamento é precisamente, ao contrário das enferrujadas mentes presas ao primado da ignorância, defender o casamento entre todos, atendendo unicamente à sua profunda vontade.
Pois claro, Manel, precisamos de uma "sociedade madura". É o que nos dizem há umas boas décadas. Aqui e lá fora. Até lá há que continuar a ignorar quem vê os seus direitos restringidos. Até lá há que continuar a deixar a fobia e o preconceito vingar.
Já agora, o que diz o teu lustroso Movimento Liberal-Social sobre o assunto? Talvez que, enfim, o "liberalismo" não tem nada a ver com isto.
Triste sina.
"Este blog será a casa do gay pride".. ai que brilhante. deviamos mudar o template para algo mais cor de rosa ou mais ligado ao ambiente policial... xD
esta discussão está a tornar-se um bocado ofensiva para ambas as partes :/
Francisco,
não fizeste não a previsão acertada. até porque já tínhamos falado deste assunto e eu nunca me mostrei contra o casamento homossexual. o único ridículo que eu apontei foi a tua argumentação. considerar que eu sou "contra o casamento" homossexual só porque não o defendo tão abertamente como tu. a questão é que não o faço, não por vergonha, mas porque nunca tive ocasião de o fazer ou de ter o meu interesse desviado para outros assuntos no que toca a direitos humanos, pois no mundo em que vivemos não faltam causas para defender, feliz e infelizmente.
a pérola do meu amigo invisível era apenas um exemplo de uma posição tomada por um homossexual em relação ao assunto, apenas porque estamos a falar de algo relacionado com uma escolha sexual que não é a nossa, pelo menos não totalmente.
portanto, e para finalizar sobre os vídeos, acho muito bem até que ponhas aqui muitos vídeos do gay pride. sinceramente, eu não tenho um especial orgulho em ser hetero, sou porque sou, logo nunca vi grande ponto em se ter orgulho em ser homossexual, é-se homossexual porque se é. compreendo que haja gente que manifeste o seu orgulho por ser católico, ou protestante, ou branco ou negro, por muito que estas últimas manifs às vezes acabem violentamente. agora orgulho em relação à escolha sexual... enfim, é uma escolha. e é aqui que se inclui o "liberalismo". as pessoas são livres de escolher e de agir, desde que as suas acções respeitem a liberdade dos outros. é também saber que, na política e na vida pública, dá-se e leva-se, e são essas as regras do jogo de uma sociedade republicana. compreendo honestamente que seja um violação hodierna de direitos, e mais uma vez honestamente, gostaria que fosse uma das bandeiras deste blog o esforço nesse sentido. agora acusar-me de não defender essa causa como deve ser, a ver vamos, isso sim é cair no ridículo, na mesquinhice, no chibismo.
Daniela,
o jantar em minha casa foi, tal como disseste, na presença da tua "certa amiga".
o que ocorreu aí foi uma mera troca de opiniões e informações, porque eu gosto sempre de ter as minhas ideias prontas a mudarem por influências de mentes mais iluminadas nos assuntos do que as minhas. daí eu discutir contigo, e com o Francisco. não é para vos chatear, mas sim para vos persuadir a aceitarem as minhas ideias, e para vocês me persuadirem a mim.
e antes de acrescentar mais alguma coisa, Francisco, peço-te que leias este artigo no blogue do MLS, onde se critica Manuela Ferreira Leite:
fica o link:
http://blog.liberal-social.org/uma-coisa-um-f-ssil-outra-outra-coisa-qualquer
Manuel,
tocaste num ponto pertinente: a questão do "orgulho" gay. E pertinente porque curiosamente nesse aspecto eu concordo contigo. De facto, não me orgulho em ser hetero, porque simplesmente acho que não faz muito sentido temros orgulho em coisas como a nossa orientação sexual. "É-se homossexual porque se é", disseste tu e bem. É-se heterossexual porque se é, acrescento agora. Acho que efectivamente que a expressão "orgulho" não terá sido a mais feliz. Contudo, tens de a perspectivar e contextualizar no âmbito sociológico: a homossexualidade é selvaticamente reprimida e marginalizada há séculos. Tenta entender a questão do "orgulho" mais como uma ideia de libertação, emancipação, revolta, liberdade.
Eu não te acuso de não defender a causa "como deve ser". Até porque não sei como isso se faz, até porque não tens que defender coisíssima nenhuma. Só fiz a pergunta que fiz porque tu, tal como eu, te afirmas afecto aos direitos, liberdades e garantias mais elementares do homem. Ora nesse sentido é, a meu ver, no mínimo estranho que não te insurjas com a discriminação inaceitável que hoje ainda prevalece. Parece que aí, os DLG's ficam na gaveta, em função de pseudo ideais históricos e muito nobres de não se sabe bem o quê. Não nos vejas como mentes "mais iluminadas". Apesar de honroso o elogio, não o somos de facto. Simplesmente não nos custa soltar as amarras do anacronismo próprio de quem vê no casamento: a) um monopólio religioso; b) um acto sacrossanto que os homossexuais, esses bandidos, irão desvirtuar.
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