terça-feira, 1 de julho de 2008

a ideia gloriosa

A grande vantagem da esquerda sobre a direita está na sua conhecida e alegada superioridade moral. A direita é viciosa; a esquerda, mesmo quando é viciosa, age de consciência pura. E tem sempre o benefício da dúvida. Isso é visível nos grandes exemplos e nos pequenos exemplos.
Grandes exemplos? A comparação entre o comunismo e o fascismo, comparação que muitos consideram intolerável. E intolerável, dizem, porque existe no comunismo uma nobreza ideológica que não existe no fascismo. Que ambas sejam, na verdade, ideologias utópicas e revolucionárias, que transportam de forma igual um incomportável preço de sofrimento e desumanidade, eis um pormenor que não incomoda o lirismo dos idiotas.
E, nos pequenos exemplos, basta olhar para certos comportamentos do governo de Gordon Brown, em Inglaterra, e de Zapatero, em Espanha. Que têm feito estes dois paladinos da esquerda moderna?
Coisas muito interessantes. Em Inglaterra, o Governo pretende aprovar o pacote legislativo destinado a combater a criminalidade pela humilhação pública dos criminosos. A medida pretende espalhar nas ruas «posters» com o rosto do condenado, no melhor estilo Faroeste; e, em caso de sentenças comunitárias, o criminoso será obrigado a usar traje identificativo nas ruas, uma ideia gloriosa que os judeus conheceram na Alemanha do Terceiro Reich.
Mas extraordinária é a medida de Zapatero para combater a imigração indesejada. Enquanto o dr.Paulo Portas, com típica insensibilidade, pretende fechar as fronteiras aos imigrantes excedentários, Zapatero prefere suborná-los: a partir de Julho, Madrid vai pagar a um milhão de almas para que desampare a loja, renuncie ao contrato de residência (e de emprego) e não volte a aparecer em Espanha nos próximos três anos.
Eu, se fosse o dr.Portas, mudava o nome ao partido e surgia publicamente como um «esquerdista regenerado». Depois, e só depois, seria possível defender todos os atropelos políticos, liberais e humanitários perante o aplauso comovido e grato da Humanidade.

João Pereira Coutinho, in Única-Expresso.

4 comentários:

Anónimo disse...

Tem toda a razão. E tu também, que ao que parece o estás a subscrever ;)

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

estou sim tiago :)

D. disse...

uau. que texto lindissimo. típico de quem quer arranjar desculpas para as suas indisposições partidárias. discurso típico da direita que não tem tomates para assumir o que realmente é. lol

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

típico discurso de esquerda que quer ver tomates para os cortar...