Naquele que se diz o país mais rico do mundo, as pessoas ainda têm cuidados de saúde iguais aos do terceiro mundo. Quando os conseguem ter. É assim na América, o país mais rico e esplêndido do mundo (como nos andam a vender há anos), onde os trabalhadores de classe média que pagam impostos, mas não têm dinheiro para pagar seguros de saúde exorbitantes, não têm o que fazer ou onde ir quando estão doentes. De forma imaginável para nós, que deste lado do Atlântico estamos habituados a ter seguros de saúde a um preço acessível, ou subsistemas de saúde ou ainda o sistema nacional de saúde (muito útil para os casos em que os seguros se esquivam à responsabilidade), e ainda a aceder a cuidados de medicina dentária por preços não muito altos, os americanos normais não têm esse acesso a cuidados de saúde. Ao ponto de muitos passarem anos sem fazer exames tão banais e necessários como citologias ou exames oftalmológicos.
Assim, e no cúmulo da ironia das ironias, no país que gasta milhões em guerras noutros países e no país que envia toneladas de ajuda humanitária para pontos estratégicos do globo, são as organizações não governamentais que prestam cuidados básicos de saúde a muitos americanos. Neste caso a Remote Area Medical Foundation (RAM), que após a primeira acção dentro de solo americano e face ao número de pessoas que a ela recorreram, decidiu fazer mais campanhas em vários estados.
No país do sonho americano, aliás, no melhor país do mundo, a classe média sofre com dentes apodrecidos e as mulheres não fazem mamografias nem citologias e cidadãos que foram submetidos a cirurgias para remover cancros, não têm acompanhamento médico posterior para controlar futuras recaídas. É este o expoente máximo do liberalismo, que muitos por cá gostariam de ver implantado neste país, onde o sistema nacional de saúde falha, mas ao menos chega a todos os que o procuram.
Nota: Se conseguissem apanhar uma repetição desta edição do programa 60 minutos na sic notícias conseguiriam perceber o choque que é ver certas situações a acontecer no país mais arrogante do mundo. Eu pessoalmente fiquei chocada, embora soubesse que os cuidados de saúde nos Estados Unidos eram maus, apenas não pensei que fossem tão decadentes. De qualquer das formas, se não conseguirem encontrar uma repetição, podem ler aqui a reportagem. E já que se encontram no site da CBS, recomendo-vos que leiam a reportagem sobre isto, que faz parte da mesma edição.
17 comentários:
De facto é chocante, o país mais desenvolvido do mundo ( ou assim o consideram muitos) não garantir a salvaguarda da saúde publica. se isto é o verdadeiro liberalismo de que muitos falam entao eu nao o quero implantado neste país pois aqui ao menos os subsitemas de saude vao garantido os cuidados minimos de saúde ás populaçoes! São estas coisas que demonstram as grandes falhas na sociedade americana! de que vale os desenvolvimento tecnológico se em muitos casos nao são garantidos certos direitos e boas condições de vida ás populações??
Olá a todos!
Daniela, tens toda a razão e é necessário divulgar a situação. Não tanto por nós, europeus, mais por eles, americanos.
Presumo que já conheças o filme "Sicko" de Michael Moore(2007), mas se não conheceres recomendo-o. Este denuncia a situação dos americanos que pagam os planos de saúde e que se sentem seguros na grande bolha americana...até ficarem realmente doentes.
De resto, a situação é ainda mais desumana para quem não tem possibilidades de fazer o dito seguro de saúde. Assim, sinto-me extremamente feliz por saber que por cá, pelo menos até ver, é absolutamente impensável não fornecer cuidados médicos a um ser humano, independentemente das circunstâncias.
Saudações!
tenho o filme cá por casa há um data de tempo, mas nunca o cheguei a ver. um dia destes vou mesmo dedicar-me a ele, quando acabar de ver todas as séries acumuladas cá por casa... xD
Pois, também estranhei, por o Michael Moore ser tão mediático, que não conhecesses. Vale a pena porque faz uma comparação entre o sistema socialista e o americano. E vai de encontro à tua opinião. Até uma próxima!
Um país tão grande,com uma população numerosa,com tantas preocupações,tanta responsabilidade,quer nacional,quer internacional,é dificil atender a todas as necessidades emergentes. Mas,de facto,sabia que a situação nos EUA,a nível de saúde era preocupante,mas não tanto. Aliás,é de referir que os EUA,falham em muitas vertentes no que respeita à sua soberania nacional,mas também são estes que com divergências ou não,ajudam a resolver os mais variados conflitos internacionais.
é verdade que, de facto, o sistema de saude dos eua é uma inclassificável merda.
o problema é que, a seguir o "liberal" sistema americano (havemos de esabelecer a ligação entre a definição anterior e a situação americana) está o modelo "social" (e não socialista) europeu.
esse modelo, o frances, o espanhol, o portugues (sim, o nosso!) são uma merda igualmente inclassificavel!
e porquê?
porque o nosso sistema dá uma overdose de poder a certos elementos da saúde pública, como os médicos, que não raramente torna o sistema obsoleto e prejudicial.
acontecem coisas muito mais arrepiantes, acredita, na europa "social", do que na américa "liberal".
tudo porque a saude é de cada um, e cada um é e deve ser responsável por ela. e tanto o sistema americano como o europeu tomam esse principio em conta.
só que de formas diferentes. quanto aos dentes podres, é inconstitucional um sistema que obrigue as pessoas ir ver os dentes regularmente. de facto, o sistema americano de saude, nos tempos em que funcionava, era especialmente conhecido pelo cuidado que era fornecido aos cuidados dentários, quando era um factor de decisão de empregabilidade importantissimo.
o grande problema da falencia do sistema americano, que até há menos de uma década era um sistema exemplar, foram as politicas de wellfare state que descontrolaram os orçamentos possíveis para o sistema de saúde que eram fornecidos pelo estado.
a verdade é que, a organização dos hospitais de nova iorque, com todo o seu caos e "terceiro-mundismo", continua a ser superior ao da grande maioria das grandes cidades europeias. inclusivamente lisboa.
de facto, o nosso s.joão, que já foi considerado por recentes estatísticas como dos melhores do mundo, partilha o seu pódio com um hospital americano.
o melhor sistema de saúde é um sistema preventivo, não um remediativo, como o europeu e o americano. só as sociedades totalitárias como a cubana e a soviética conseguiram cumprir esses preceitos.
tiago:
não gosto de passar por defensor dos americanos exactamente pela posição que tomaste :)
o deer de um estado é olhar pelo bem estar e pela liberdade dos seus cidadãos. e essa está em primeiro lugar em relação aos interesses nacionais. não acredito nos estados-vigilantes.
se bem qe reconheço que todos os séculos têm o se vigilante... infelizmete e felizmente.
Não quis comentar o post porque é senso comum às toneladas. Não deixa de ser verídico em muitos aspectos, mas é não deixa também de ser um lugar-comum, não apresentando novidades nem soluções. E depois um anti-americanismo demasiado primitivo...
Não obstante esta vantagem à partida, o Manel conseguiu na mesma deixar aqui um chorrilho de asneiras.
Ainda comecei por enumerá-las, mas desisti. Aliás, comeco efectivamente a perder a vontade de aqui escrever.
tiago, quando falas da responsabilidade internacional, eles não são obrigados a tê-la. apenas o fazem devido à sua pretensão de polícias do mundo. se gastassem tanto nos cuidados de saúde como nos vários conflitos certamente que eles chegariam a todas as pessoas.
manel, uma coisa é obrigar alguém a ir ao dentista. é óbvio que não o podem fazer. outra coisa é alguém estar há vários meses com dores e inflamações dentárias e simplesmente não ter a quem recorrer.
francisco, certamente que quando quiseres abandonar o há discussão para criares o há insulto pessoal, eu irei visitar e tentar ser activa na participação...
Desculpa, Daniela?
Olá!
Manel: só posso tentar desculpar a minha falha dizendo que, salvo erro, no filme as expressões usadas são mesmo "sistema americano" e "sistema socialista". De qualquer maneira, não concordo com mais nada do que defendes e acho que o que está em causa não é o nível da organização do sistema de saúde, mas sim a assistência que é ou não fornecida. Resumindo, acho que estás a fugir ao assunto.
Quanto ao anti-americanismo, e falo apenas por mim, não o subscrevo. É certo e conhecido que os americanos são avançados nas mais diversas áreas, mas não deixarei de criticar o que acho que está mal só por medo que me coloquem mais um rótulo.
Francisco: acho que o que a Daniela quer dizer (e ela pode-me corrigir se estiver errada) é que a tua crítica não foi de forma nenhuma construtiva e tem o seu quê de gratuito e que o propósito deste blog seria as pessoas discutirem os assuntos, ao invés de desincentivarem os outros.
Desculpem qualquer coisa e vejam o filme, que vale mesmo a pena, para além de ser educativo no sentido em que ajuda a perceber o que é que os americanos pensam de nós e o que é que os americanos emigrados na Europa pensam do SNS do seu país.
Depois de reflectir e de falar com a pessoa em questão, reconheco que talvez tenha dito mais do que queria dizer. Não foi nunca, mas nunca minha intenção desincentivar seja o que for neste blog. E se assim o dei a entender, peço as minhas sinceras desculpas. Como também não quis dizer que ia abandonar o blog, como supôs a Daniela. Foi só um desabafo cansado do momento. Infelizmente, vou continuar por aqui a chatear e a ser chateado!
Quanto ao post propriamente dito, só disse o que disse pelo seguinte: acho que às vezes batermos tanto na mesma tecla e não sugerindo coisas novas, torna-se fastidioso. Só por causa disso. Até porque, como também referi, concordo com quase tudo o que a Daniela escreveu. Mas como já falamos tanto disto, não tenho muito apetite em escrevê-lo. Até porque não teria nada de novo para dizer e porque as coisas não mudaram entretanto. Mas cada um escreve o que bem lhe apetece, evidente.
Quanto aos rótulos, Rosa, o de anti-americanismo e outros que tais, já me foram todos colados, por isso não é por aí... simplesmente acho que bater na mesma tecla da mesma forma é improdutivo... Porquê que ninguém neste blog (e eu incluo-me nesse grupo) elogiou alguma vez as virtudes e dos EUA e do seu povo? Os EUA não são só (pseudo) polícias do mundo, capitalistas e etc... "No país do capitalismo" é algo redutor, limitativo, falacioso, cruel até. Percebem isto que estou a dizer?
Volto a pedir as minhas desculpas por qualquer coisa que se tenha assemelhado a um "insulto pessoal". Não foi nunca meu desejo.
Um abraço
Percebo e por isso é que disse que não deixo de o fazer só por causa disso, no entanto, é óbvio que os Estados Unidos da América têm muito por onde ser elogiados: a tecnologia, o cinema, entre muitos outros...
Tudo está bem quando acaba bem!
Até à próxima!
rosa, percebo as tuas criticas ao meu texto.
o que era mesmo importante frisar é que, de momento, há uma enorme quantidade de serviços de saúde a funcionar mal.
muito mal, e o nosso é um deles. as razões disso são, no caso americano, cortes nos orçamentos e uma privatização dos serviços desnecessária(o predominio das agencias de seguro, o fim dos contratos de trabalho com assistência médica garantida, etc.) no caso europeu, deve-se igualmente a cortes nos orçamentos e ao vício que o sistema chegou.
não teos actualmente capacidade de suportar um sistema de saúde igual ao da suécia porque não podemos. não há dinheiro para isso.
daí que eu pensar que é, de facto, uma crise dos sistemas MESMO!
e um sistema socialista, como será o de Cuba, e o era a URSS (no tocante ao sistema DE SAÚDE) havia um controle muito apertado pela saúde dos cidadãos da parte do Estado. há uma enorme importância por parte do estado cubano em controlar doenças, por exemplo, a luta contra a SIDA é levada muito asério pelo estado de fidel castro. isto porque o sistema trabalha de forma preventiva, vai ter com o cidadão, faz o cidadão submeter-se aos testes. o nosso, infeliz e felizmente, exige que o cidadão recorra à saúde.
ps: de facto, o documentário de Moore é muito bom.
mas olha que fazem-se muitos documentários sobre a situação em portugal e fazem-se diariamente, sempre que se noticia mais uma morte por negligencia, por atrasos na assistencia, por exames mal feitos, por falhas nos serviços de saúde.
teremos sempre um sistema de saúde "capitalista". o problema do sistema americano é que não vive da dualidade hospital privado-público, porque nada é público. o nosso problema é vivermos com ela da forma que vivemos.
Manuel: Estou a par disso tudo (mais uma vez, o filme!!!), ou seja, estou a par das diferenças no sistemas, mas, para mim, o americano é de longe o pior.
É claro que nós pagamos o nosso sistema de saúde, mas novamente não concordo nada contigo.
Os princípios que nos movem são completamente diferentes. Enquanto que aqui a ideia geral é tratar de quem precisa com o dinheiro de todos que assim é redistribuído, lá só tem direito a seguro de saúde quem nasce perfeito e tem dinheiro para pagá-lo. Pior que isso, mesmo quem tem seguro de saúde muitas vezes não recebe o atendimento devido e fica depenado pelo custo dos medicamentos.
Num país onde o trabalho tem um papel tão importante isto é brincarem com a vida das pessoas porque para elas trabalharem necessitam obrigatoriamente de saúde.
Assim sendo, acho que o problema reside exactamente no facto dos E.U.A. a saúde ser vista através do princípio do mercado privado que é sempre o lucro. Aliás, se quiseres fazer um paralelo pensa nos seguros dos carros. Se já tiveres tido muitos acidentes, pagas mais. Quando chegas à hora da verdade, se podem esquivar-se a pagar, não hesitam em fazê-lo, etc...
Repara que, exemplo, só tens um carro se assim queres, aqui e na América, mas não tens saúde ou deixas de ter porque assim queres. Acontece. Aquilo que os E.U.A. fazem é tratar como igual algo que é desigual.
De resto, acho que toda a gente que já teve que utilizar os serviços de algum hospital público em Portugal sabe que tens razão: existem falhas. Há muito a melhorar, mas o princípio base é o correcto.
Até à próxima!
rosa:
pelo meu ponto de vista, todas as pessoas deviam contribuir com sua própria despesa para a sua saúde, mesmo num hospital público. isto porque um sistema de saúde perfeito não é suportável, de momento. e porque as nossas urgências estão cheias de pessoas com um "peido furado". esse problema não existe nos eua, e ninguém está a tirar o lugar de ninguém, como acontece cá.
assim, como podes ver, todos os sistemas têm prós e contras.
se estiveres interessada em mudar o teu tipo de participação neste blog (deduzo que sejas estudante da FDUP, certo?) basta me mandares um email (manuel.rezende@portugalmail.pt) ou me mandares o teu, para eu te adicionar na lista de autores.
A questão não está em descobrir em sistemas de saúde "perfeitos". Porque não os há, porque simplesmente não há sistemas perfeitos.
Outra coisa é comparar dois sistemas incomparavelmente diferentes e onde um é claramente mais solidário, justo e igualitário, precisamente porque como a Rosa referiu, os princípios que movem um e outro são radicalmente opostos.
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