terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Era uma travessa de Serviço Nacional de Saúde, se faz favor.

José Sócrates solicitou e o Ministro da Saúde foi-se embora. O Ministro da Saúde foi-se embora e todos aplaudem: a população porque foi ouvida, o Governo porque, depois de tanta saliva engolida, acha que se aproximou da vontade do povo, fazendo com que a saliva valesse a pena. Menos contente deve estar alguma oposição. Outra felicita, outra espera para ver. Há posições para tudo.
No entanto, José Sócrates continua a ser assobiado. Continua, mesmo quando aparece oficialmente para dar a notícia, e não se percebe bem porquê. O primeiro passo já o fez descolar da posição fetal: a nova Ministra já apareceu. Em meio dia não se podem prestar provas.
E então, aqui, há uma bifurcação. Os centros de saúde fecham surpreendentemente nas zonas com mais idosos por metro quadrado. As urgências fecham e as grávidas têm os filhos no percurso de 40km para a urgência mais próxima. E depois, claro, a corrida para a fronteira (numa insanidade semelhante às Intermitências da Morte). Espanha consegue ser maior e mais parecida com a Europa. A Europa sonhada pelos Socialistas, com todas as reformas sociais e os serviços nacionais de saúde grátis para todos. Mas Portugal continua a definhar, como se os anos passassem e isso não implicasse evolução. Como se cortar nas despesas de saúde fosse aumentar o preço do tabaco ou cortar nas exportações de abacate russo.
Do outro lado da bifurcação, temos a moda de criticar Sócrates que é quase como mudar de cuecas pela manhã. Todos criticam um bocadinho, todos fazem a sua achega, e muitos não sabem do que estão a falar. Todos criticam, como se o homem morto nas urgências por baixo da maca fosse culpa do Sócrates, como se a parolice do pessoal do INEM e dos Bombeiros Favaios fosse culpa do Sócrates. É moda criticar o Sócrates, só porque é fixe, afinal “eles é que têm a culpa toda!” mas fazer mais e fazer melhor não, que isso dá muito trabalho. Era muito bonito ter aqui um sistema de saúde como os nórdicos, agora fazer descontos é chato, enganar a Segurança Social é que é fixe e se eu puder hoje sair do trabalho sem ninguém dar por mim, é que era.
O povo deve levantar-se e gritar quando lhe pisam os pés. O povo pode fazer e deve porque os seus pés têm vindo a ser calcados muitas vezes, mas a crítica, para ter peso e não deixar de ser essencial na conduta dos governantes, deve ter a consciência como suporte. Pela Democracia.

Sobre o episódio INEM-Bombeiros ver o vídeo do Ricardo Araújo Pereira. Muito bom.

It's time for a Love Revolution

Lenny Kravitz, passado três anos penso, volta com um novo disco intitulado It's time for a Love Revolution. Pessoalmente, desde há muito que sou fan de LK e já o ouvi bem à minha frente. Boa música (letras e sonoridades), good vibes, grande estilo e uma estonteante energia em palco.
Trago aqui o primeiro single do novo disco. Chama-se I'll be waiting. Não é uma grande música. Mas é uma boa música. E é do LK, que por si só carrega já uma certa aura.

Lenny Kravitz - I'll be waiting

da estranha divisão do mundo

Dei-me conta recentemente da existência de um muro a separar a Palestina do Egipto.

Foto tirada do Arrastão.

este belo pedaço de cantaria, acabado de derrubar por palestinianos, encontrava-se na fronteira Egipto-Palestina.
Erramos quando dizemos que o mundo está dividido entre eles e nós. Já a discussão da religião provocou muitas opiniões, mas eu tenho de dizer que as coisas nunca se tratam somente disso.
E não vou dizer que isto é sinal que o terrorismo palestiniano é visto como ameaça até pelos seus "irmãos muçulmanos".
O que eu digo é que, a impunidade de Israel, aliada à falta de escrúpulos dos tiranetes muçulmanos, causa uma das situações mais vergonhosas na história da Humanidade.
O Muro encontra-se dentro do território palestino. Viola direitos fundamentais e territoriais. Durante quanto tempo vai o mundo aceitar isto?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

da comédia

CDS: Líder da JC responsabiliza Bernardino Soares por incidentes no "Verão Quente" de 1975


No almoço do CDS-PP que assinalou o aniversário da operação militar do 25 de Novembro de 1975, na Amadora, Pedro Moutinho disse ser preciso "apontar com frontalidade" alguns dos principais responsáveis por actos como os "sequestros e incêndios às sedes do CDS-PP logo após a revolução de Abril de 1974 e que continuam hoje no activo".

"Falo do actual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que mais tarde se renderia às virtudes do capitalismo. Falo também das bombas das FP 25 de Abril e políticos actuais como Francisco Louçã, Luís Fazenda, Jerónimo de Sousa, Odete Santos e Bernardino Soares", disse.

Segundo os registos da Assembleia da República, o actual líder parlamentar do PCP, Bernardino José Torrão Soares, nasceu no dia 15 de Setembro de 1971, tendo por isso quatro anos quando se deu o 25 de Novembro de 1975.

da solidariedade

O deputado José Soeiro, do Bloco de Esquerda, encontra-se em Marrocos desde ontem, onde pretende acompanhar o destino dos 21 imigrantes marroquinos expulsos pelo Governo português. O deputado tem realizado vários contactos com ONG´s locais de defesa dos direitos dos emigrantes marroquinos e participa amanhã numa concentração em frente ao estabelecimento prisional de Al Maarif, em Casablanca.

O BE considera inaceitável esta situação, sublinhando que: "O Estado Português não pode repatriar pessoas sem ter garantias de que as mesmas serão recebidas em condições dignas humanitárias no seu país de origem". E questiona: "Por que razão entendeu o Senhor Ministro não conceder uma autorização de residência ao abrigo do estatuto de vítimas de auxílio à imigração ilegal?"


tudo isto depois da nova lei da Imigração, tão apregoada pelo Governo.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Molon labe

Um dos trechos mais fantásticos de toda a literatura moderna no que toca a referências aos tempos clássicos, pode-se encontrar no livro Portas de Fogo, de Steven Pressfield, já mencionado pelo nosso autor Nelson. O Nelson e eu temos gostos literários muito parecidos, e em honra dele, e com proveito a todos os que se interessam por definições de liderança, vou por aqui no blogue um excerto brilhante deste livro.
Trata-se de uma frase de Xeones, o personagem principal, proferida ao Rei da Pérsia.

"Direi a Sua Majestade o que é um rei. Um rei não se retira para a sua tenda quando os seus homens vertem sangue e morrem no campo de batalha. Ele não janta quando os seus homens têm fome, não dorme quando eles estão de guarda. Não garante a lealdade dos seus homens graças ao medo ou ao ouro. Ele conquista o amor deles com o suor do seu próprio rosto e pelas dores que suporta por eles. O mais difícil, um rei é o primeiro a levantar-se e o último a adormecer. Um rei não espera o serviço daqueles que comanda, porque ele é que os serve."

o tempo voa

Hoje acordei e ouvi isto:

Pete Philly & Perquisite - Time Flies

Boa música, bom video, país belíssimo, cidade belíssima (Amsterdão, onde já estive!), simplicidade, boa-disposição...

sábado, 26 de janeiro de 2008

Dos senhores representantes da nação

Eleitos pelo povo italiano, representantes desse mesmo povo, com legitimidade de título e exercício, encarregues da tarefa de governar e segundo alguns, os únicos que sabem o que é necessário para um país, os senadores italianos mostraram esta semana que afinal nem sempre o facto de ocuparem certo mandato, faz deles pessoas mais respeitosas e competentes. Porque se calhar nem todos nascemos com mentalidade para representar um país. Nem todos aprendemos a ter responsabilidade civil e política e a respeitarmos os poderes que depositam em nós, mas os senadores italianos poderiam ao menos tentar disfarçar essa irresponsabilidade e incompetência. As imagens que passaram esta semana sobre a reprovação da moção de confiança ao Primeiro-Ministro Romano Prodi, mostram a decadência política e de certa até fazem parecer os deputados portugueses extremamente sérios e competentes.

Mas se há algo que prejudica um país a todos os níveis, é a instabilidade política. E talvez por isso a máfia continue a ter o poder que tem em Itália, e basta lembrar a situação em Nápoles nas últimas semanas. Enquanto o poder político se preocupa em recuperar instabilidades e em marcar eleições ou arranjar sucessores consecutivos, o crime organizado aproveita para prosperar, quase parecendo isto mais uma consequência da própria pressão da Máfia sobre o poder político.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Agarrem esse jurisconsulto (com sotaque brasileiro, né?)

Venho por este meio informar que temos de espancar o III anónimo, mais conhecido por Manel, de modo a que ele pare de me fazer sentir uma pessoa horrível quase pronta a saltar da janela depois de me ter deixado este comentário no meu blogue

Cara amiga:

vejo que partilhas das ideias do povo ariano. nós queremos a tua participação nas nossas fileiras! a raça ariana demonstra-se nos teus ideais, e as tuas críticas são já tomadas por nós como exemplares. os socialistas sionistas querem acabar com os partidos pequenos, visando-nos a nós! o teu post foi adicionado no forum nacional, o maior forum da juventude portuguesa, ligado ao PNR.
a bem da raça ariana, sieg Heill”

O que comprova que ele é uma pessoa vil que gosta de destabilizar a sanidade mental das pessoas. Sugiro por isso que se lhe aplique uma sanção punitiva que o faça sofrer por tudo isto. Pois denota-se claramente uma faceta neo-nazi escondida debaixo daquele rapaz que tenta levar uma vida normal.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

tomei a liberdade de pensar nisto

Se há algo que é produtivo em vésperas de exames, quando se tem insónias, é pensar nos destinos, nas cidades, nos sítios que nos fazem mesmo suspirar e pensar “quando é que eu estarei finalmente ali?”.

E surge um paradoxo: um país consegue de facto ter duas das cidades em que adoraria estar, mas tem ao mesmo tempo a cidade que me causa mais repugna de todas aquelas de que já ouvi falar. Nos Estados Unidos estão Nova Iorque e Los Angeles, a primeira porque consegue ter um certo sabor a Europa e claro, é a cidade de “o sexo e a cidade” (bolas, como sou obcecada), simbolizando de certa forma a emancipação feminina e o cosmopolita entre arranha-céus e táxis infinitos, Los Angeles porque é diferente de tudo aquilo a que estamos habituados. Não é Europa. São ruas largas, as costas da Califórnia que lembram guitarras ao fim da tarde, rodas de amigos, poemas escritos em pequenos blocos. No oposto, Miami, que é provavelmente das cidades com maior concentração de plásticas por metro quadrado, excessivamente ligada ao capitalismo, ao fútil, ao exagero profundo do culto da imagem estandardizada.

Na Europa, Moscovo sem sombra de dúvida. A cidade dos pequenos castelos encantados feitos de cores que enchem a vista. Amesterdão, com a liberdade inteira aos pés, novas experiências, experiências antigas com novas tonalidades. Itália. Por muitas fotos que veja de cada uma das cidades italianas, não consigo definir qual aquela que me suscita mais interesse. Atenas, porque tem uma carga histórica enorme. Tal como o Egipto, que consegue conjugar praias de água transparente com algumas das mais fantásticas construções que os seres humanos alguma vez fizeram.

E outra vez do outro lado do Atlântico, Havana. Embora nunca possa ser a mesma depois de Fidel e não creio que a consiga visitar antes de Fidel sucumbir à idade.

E é curioso notar que as pessoas têm ideias totalmente diferentes daqueles que seriam os seus destinos de férias. E agora que as férias estão à porta, não sabe bem pensar quais aqueles lugares que nos despertam mesmo curiosidade?

E outro Sol no novo Horizonte!

Se fosse obrigatório rotular todos os homens de acordo com a sua ideologia política, haveria uma inteira indústria de rótulos direccionada a mim.
Para aqueles que me perguntam , costumo dizer que sou um bloquista monárquico por duas vertentes. A primeira vertente, politicamente prática, a segunda, politicamente ideal. E explico já a seguir o porquê.
Considero um erro o sistema de ensino português. Especialmente no que toca à filosofia e à história. Na filosofia, começam por nos ensinar os pensadores estrangeiros, isto é, dependente da política dos líderes. Se forem republicanos, atiram às crianças Voltaire, Platão e Descartes. Se foram liberais, Montesquieu, Locke e Hume. Se forem comunistas, lincham as novas gerações com Marx e Mao. O único grande pensador português que as crianças chegam a conhecer é o marquês de Pombal, a personagem mais desencorajadora de todas na nossa história, a meu ver.
Já na história, acontece o contrário. Damos-lhes a história do país, e depois a do Mundo. Como que a fazer a distinção entre o privado e mesquinho cá da Terra, e o magnífico além-fronteiras. A isto chamos provincianismo.
Nada mais torto podíamos nós fazer. Em filosofia, devia-se dar primeiro o cérebro que criou o País, e os homens que lutaram pela sua identidade. Suárez, António Vieira, João das Regras. Em história, devia-se dar primeiro o molde no qual o país se fez (a cultura céltica, romana, mourisca, germânica, indiana e nativa americana, francesa e espanhola, etc.).
Aprendemos que, há 800 anos atrás, numa terrinha da Península, nasceu um pequeno condado que, liderado por um líder carismático, se proclamou reino.
Eu não dou a Afonso Henriques o louro da criação da nacionalidade.
Portugal criou-se a si próprio, da forma que quis, que pôde, que escolheu. Para o bem e para o mal.
Nasceu de uma singularidade cultural demarcada do cenário ibérico: tradição sueva/lusitana/galaica, rivalidade com a tradição visigótico/romana de Leão e Castela, um forte desejo de autonomia embutido pela experiência do municipalismo muçulmano. E demarcada do cenário europeu: pouco feudalismo, tolerância religiosa muito elevada para a época, sentido de legitimidade soberana como transmissível do povo para o Rei.
As lendárias cortes de Lamego, que não se realizaram lá em Lamego, expressam o desejo de uma pátria nova, expresso por palavras ditas pelos representantes das classes altas e do Povo: Nós somos Livres, o nosso rei é livre, nossas mãos nos libertaram. Foram os portugueses que se deram a legitimidade da independência. Anos mais tarde, usaram este argumento da inerência da legitimidade contra Castela, contra Napoleão Bonaparte, contra o Estado Novo.

O Rei de Portugal sempre reinou apoiado pelo Povo. Podemos ver isto ao longo da história, desde 1383/85 a 1640. Na verdade, os concelhos portugueses sempre desempenharam um papel fundamental na nossa política. O exército nacional desde muito cedo existiu, e era formado por forças populares e não senhoriais, que serviam o Rei para proveito do país, convenhamos, nem sempre muito honrosos. No reinado de D.Afonso IV, um conselheiro disse-lhe que, caso este não começasse a tomar mais cuidado com a res publica, a "coisa pública", o governar dos Homens, os Povos tomariam a decisão de procurar um novo Rei. Assim, a Idade Média no nosso país não é demarcada por um sistema feudal, mas por uma república de concelhos unidas por um rei, quase sempre em regime de aliança contra as classes privilegiadas. O poder centralizador da realeza, no entanto, vai dissolver no futuro essa realidade, principalmente a partir de 1700, século do absolutismo, e do marquês de Pombal.

A expectativa contínua que temos do PR vem desses tempos. A figura paternal que outorgamos no Presidente da República, que sempre outorgamos nos nosso líderes, aquele amor quase incondicional dos povos ibéricos pelos governantes, tenham sido eles ditadores proclamados (ex.Salazar e Sidónio Paiz) ou até mesmo aspirantes a tal (ex.Vasco Gonçalves), bem como a líderes partidários (ex.Francisco de Sá Carneiro e Mário Soares, Afonso Costa) vem desse tempo. É algo que, enquanto comunidade, herdamos todos e passamos geneticamente aos povos africanos e sul-americanos. A vontade de fazermos valer os nossos direitos, por vezes adormecida, mas sempre explosiva e enérgica na hora de o fazermos (basta lembrar o apoio popular nos anos da crise de 1384 e 1640, mais uma vez, a revolução liberal de 1820 e a revolução de 74) também, vem desses tempos! Está constituída em nós, no nosso folclore, na nossa tradição, na nossa forma de ser.

Actualmente, vivemos num regime que não se adapta à nossa personalidade. O excessivo centralismo de Lisboa tornou o país abandonado e entregue ao saque da iniciativa privada. Só as cidades mais ricas, como Porto, Braga ou Coimbra, mantêm um relativo crescimento económico. Inundado de burocracia e despesa, os povos não têm a quem recorrer. Não persiste no país uma única instituição histórica que o povo reconheça. A corrupção da máquina administrativa, a Segurança Social em estado obsoleto, a falta de informação e até desconfiança, fazem com que os portugueses tenham poucos meios de queixa directa, a quem possam recorrer directamente. A Casa Presidencial, que tem esse dever, não merece dos portugueses confiança.

A regionalização trará uma maior eficácia da burocracia. Tornará mais fácil limar as arestas da despesa e confrontar diferentes crescimentos económicos. Tornará mais pragmático a fundação de empresas, e ao mesmo tempo a criação de postos de trabalho.
Democraticamente, protegerá melhor os interesses de cada um de nós.

Uma política social baseada nos planos do Bloco de Esquerda, a mesmo tempo, não farão parar os investimentos estrangeiros. Muito pelo contrário, vão incentivá-los através do aumento da procura dos consumidores mais pobres. Acredito muito na energia dos bloquistas, e gostava de a ver adoptada por outros partidos. No que toca à educação, acho que fariam um trabalho fantástico.

Uma Monarquia traria ao País algo mais subtil do ponto de vista interno. Do ponto de vista democrático, não perderíamos o poder para nenhum soberano absoluto. A Monarquia moderna não substitui a democracia. Instaura, isso sim, uma forma de governo capaz de conciliar muito melhor os interesses dos cidadãos portugueses com os líderes políticos elegidos pelos mesmos, e será uma via bem mais viável de ligação entre o cidadão e o Governo. Um Rei pode até ter menos poderes que o nosso actual PR. Se bem que eu defendo a atribuição dos mesmo de um para o outro, com reparações, obviamente.
O Rei deve ser uma pessoa escolhida por entre uma Casa Real ligada à história do País, que tenha formação política e que seja estável do ponto de vista psicológico, para funcionar como garante da estabilidade e da prosperidade dos cidadãos. Os países europeus mais ricos e mais democráticos são, actualmente, democráticos. Por muito que eu odeie jogar com estatísticas.

Assim, defendo um país laico, uma democracia representativa de partidos, com separação e interdependência de poderes, com um sistema de governo semiparlamentar com um Chefe de Estado hereditário. Defendo como anti-democrático a alínea b) do artigo 288º da CP, impondo como limite de revisão a forma republicana de governo, como protectora do princípio anti-monárquico de 1910. De facto, esta alínea não implica a proibição de um referendo entre uma Monarquia e uma República. Porque República será sempre o governo de todos por órgãos escolhidos por todos, e a Monarquia Portuguesa, desde 1142 a 1910, com o intervalo decadente mas curto do absolutismo, sempre respeitou a instituição republicana própria da Nação desde há 800 anos.

"... we fuck everything at the end" (Charlies Wilson)

  • Charlie Wilson's War

Trazendo a 7ª arte ao blog (algo esquecida mas relembrada pelo edukador) penso que é pertinente referir este filme recente, que ainda podem encontrar em qualquer cinema ou "gravador" ao pé de vós.

Juntem a instabilidade política, ao medo apocalíptico de uma guerra com contornos bem reais, juntem as constantes ameaças à paz e aos constantes conflitos que parecem decisivos para o desencadear de uma Guerra Mundial. De um lado a América de outro a URSS, os polícias do mundo contra um dos regimes mais "persistentes" que existiu (esta persistência não tem neste caso valor pejorativo, nem tanto é crítica ao comunismo, isso deixarei para outros posts). A aclamada Guerra Fria é algo da nossa história que mexe com a técnica política e diplomacia como nenhuma outra época, basta recordattem o "telefone vermelho" para evitar conflitos. Mas até que ponto este tecnicismo se traduzia em influências?! Até que ponto EUA e URSS ajudavam definitivamente os países que "lutavam" e viviam sobre a sua "bandeira"? Até que ponto eles lançavam ataques contra 3os?! Seriam de facto "ataques"?

Este filme é uma excelente sátira aos EUA, à forma como eles policiam o mundo e como interveem nos outros países. Engraçado ver a imagem americana de intervir, ajudar, salvar pessoas e depois abandonar esse país a uma recuperação penosa e impossível, pois aos EUA só interessa resolver conflitos e não ajudar pós-estes. Mais propriamente, este filme fala do Afeganistão e da ajuda militar que eles carenciavam para vencer as tropas soviéticas. Também, é mister ter em conta a imagem dos diplomatas e dos congressistas e aí peguemos no nome traduzido em português do próprio filme "Jogos do Poder".

Poderiamos descrever a forma de actuação dos EUA "de início tudo é maravilhoso, depois no fim f**** tudo". Este fim é o já falado abandonar os povos que vegetam na miséria e não conseguem recuperar economicamente e socialmente pós-conflitos.

Vejam e desfrutem deste filme, não é uma obra de arte nem se propõe a tal, mas se gostam desta fase da História da Humanidade então é mesmo imperdível.

Abraço amigos cinéfilos (e mais uma vez dia 31 não se esqueçam de Sweeney Todd de Tim Burton, pois a magia do cinema é algo único - muito lirismo! Mas, ainda bem!)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

entre o cinema e a realidade

Já há muito tempo que estou para postar sobre o que se segue. Falo do blog Blindness. O blog é da autoria do arquitecto, mas mais conhecido como realizador e produtor, Fernando Meirelles, brasileiro que tem a seu cargo a adaptação ao cinema de Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago.
Como sei que muitos dos frequentadores deste blog são apreciadores de cinema e, mais do que isso, que muitos deles leram o livro, sugiro que percam algum tempo nas crónicas de Meirelles. Para os cinéfilos, é um autêntico deleite técnico no que diz respeito à montagem, sequência e outros processos cinematográficos. Para os leitores, é uma excelente forma de conhecerem a forma como o livro é passado para a tela: as personagens, os locais de rodagem do filme e respectiva correspondência no livro, as opiniões de Saramago, entre outros. Para ambos, é uma oportunidade única de estar verdadeiramente por dentro de um filme. Que ainda por cima se baseia num livro magnífico de um homem, na minha opinião, demasiado grande para o seu país. Também aqui a cegueira está presente...
Infelizmente, o blog está na recta final pois pouco falta para o filme começar a estrear. Mas vale mesmo a pena irem aos escritos mais antigos.

Um abraço

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

não sou ortodoxo nem heterodoxo. sou um paradoxo

Culpa do Francisco Noronha, esse marxista desestabilizador, que eu hoje não vos vou brindar com um valente texto pesadão. Assim, do tipo "política até meter medo"...
De facto, o nosso Noronha veio dar uma lufada de ar fresco. Eu vou entrar na onda, e presentear-vos com um pouco de filosofia, mas uma filosofia do povo, uma filosofia "de cigarra, e não de formiga". E como os sons de Cabo Verde me inundaram de amor linguístico, sim, porque eu sou um feroz patriota linguístico, procurei um autor que sempre identifiquei com o espírito português de ser.

Trata-se de um vídeo daquele que eu votaria como o português do século XX, o filósofo Agostinho da Silva.

Cabo Verde no coração

Boa noite!
Hoje trago aqui ao Há Discussão, pela primeira vez penso, uma sugestão musical. Ao contrário do Almanaque, este espaço pouco tempo tem dedicado a melodias e ritmos. Por isso aqui vai.
Para os receosos de que a invasão hiphoperiana chegasse agora ao Há Discussão, descansem. Ainda não vai ser hoje, ehehe.
Agora é tempo de vos dar a conhecer, se ainda não conhecem, Mayra Andrade. Esta jovem cantora nascida em Cuba e criada entre Brasil, Alemanha, Angola, Senegal e Cabo Verde (uff!) é mel para os ouvidos. As suas diferentes raízes encontram pois reflexo nas suas sonoridades. Sente-se o gingar brasileiro, o exotismo caribenho, a magia africana... tudo acompanhado de uma voz ora doce, ora vigorosa, dengosa e quente. As palavras de Mayra, claras na maioria das vezes, verdadeiramente indecifráveis noutras (tal a mistura e remistura de crioulos), transportam-nos para um misto de muita, muita coisa. Pessoalmente, desperta-me uma vontade imensa de viajar. Descobrir. Cheiros, cores, rostos, mar, selva, terra, saudade, sol... A música de Mayra Andrade tem em mim um dom: inspira-me.
Hoje a minha querida Mãe fez anos. Quando tinha nas mãos alguns cds para escolher como prendita, lembrei-me de Navega, primeiro disco de originais de Mayra Andrade. Neste momento, está a tocar cá por casa. :)
Quanto ao disco propriamente dito, destaco as faixas "Dimokransa", "Tunuka", "Poc li dente e tcheu", "Lua", "Comme s'il en pleuvait",... Bem, para ser franco, gosto de todas. Cesária Évora ou Tito Paris são nomes cabo-verdianos que lhe são apontados como grandes influências. Há mesmo quem fale de Mayra como sucessora de Cesária...
Para aguçar ainda mais o apetite, e aqui dirijo-me aos rapazes, Mayra é aquilo que se pode chamar de um verdadeiro "traço". Destas o Sarkozy não pesca. ehehe :)

Deixo-vos este clip, que embora não sendo um teledisco propriamente dito, é de uma beleza singular. (Mayra Andrade é a de verde)

Mayra Andrade - Tunuka

"Contra o fanatismo"

Cada vez mais tenho centrado as minhas leituras, pesquisas e divagações na maior epidemia cultural e social deste mundo. Tem sobrevivido ao longo dos séculos, passando de geração em geração, da boca de pai para filho - falo do fanatismo e do seu parente próximo o extremismo. Aproveito para aconselhar a leitura de um pequeno livro chamado "Contra o fanatismo" de Amos Oz.

A questão que a maior parte do mundo coloca. A questão de "um milhão de dólares" é "como curar o fanatismo?" Temos duas faces da moeda: de um lado, alguns com as suas armas correm pelas montanhas do Afeganistão a alvejar qualquer um que pareçam suspeitas - não será esta atitude, já em si, um pouco fanática?
Outros, tentam dedicadamente encontrar formas eficientes, justas e sem derramamento de sangue para acabar com o fanatismo... Neste era está uma "batalha em curso" entre aqueles que são fanáticos e que creêm que o fim, qualquer fim, justifica os meios, e os restantes, para quem "viver a vida" é um fim, não um meio.

O fanatismo é mais velho que qualquer religião, Estado, governo ou sistema político. Está por todo o lado - aqueles que destroem clínicas de aborto, ou que incendiam mesquitas e sinagogas um pouco por todo o mundo, só se diferenciam de Bin Laden pela magnitude do seu acto, não pela natureza do crime.
O fanatismo é tão profundo que para um fanático, qualquer um que antes era fanático e que entretanto o deixe de ser passa de irmão a traidor. Não há meio termo.

Atrevo-me a afirmar que o fanatismo está em todo lado. Um é bruto e bem visível, mas aquele que nós europeus vemos é mais silencioso, civilizado e mora mesmo ao nosso lado. Pois a "semente do fanatismo brota ao adoptar-se uma atitude de superioridade moral que impeça a obtenção de consensos" - Assim diz Amos Oz em "Contra o fanatismo". Reparem como é verdade quantos não fumadores não se acham superiores e queimariam viva uma pessoa por fumarem à sua beira. Ou quantos vegetarianos não arrancariam à dentada um pedaço de outro devido ao facto de eles comerem carne?? - de facto o fanatismo é nosso vizinho.

A essência do fanatismo concluo (isto é para ti Henrique) reside no desejo de obrigar os outros a mudar!!!! Pois o fanático é generoso, está mais interessado em corrigir o outro do que a si próprio. Pois reparem nesta interpretação Bin Ladin ao atacar os EUA é porque pretende salvar o ocidente, salvar as nossas almas, querem libertar-nos dos nossos horríveis valores: do materialismo, do pluralismo, da democracia, da liberdade, da emancipação da mulher... tudo isto que do ponto de vista dos fundamentalistas são males terríveis dos quais nós sofremos, e como afinal somos bons moços merecemos ser curados.


Como diz Amon Oz - "Sentido de humor, capacidade de imaginar o outro, a capacidade de reconhecer a necessidade de sermos sociais e ao mesmo tempo de anti-sociais", isto é viver em sociedade e ao mesmo saber quando devo reflectir sozinho sem influências. "Pode pelo menos construir uma defesa parcial contra o gene fanático que todos (sublinho todos) temos dentro de nós.


É algo que me preocupa o crescente fanatismo que existe entre nós, que passo a passo descamba noutros campos em racismo, chauvinismo, fundamentalismo, extremismo, totalitarismo. Ele está em todo lado (talvez este comentário já o seja sem eu me ter apercebido), o importante é que eu não matarei, não aleijarei ninguém para provar que estou certo... porque eu não pretendo convencer ninguém de nada. Simplesmente acredito naquilo que digo. O mundo preocupa-me o caos também, visto esperar viver num planeta próspero onde possa passar dias em discussões amenas e interessantes, em vez de dar por mim numa qualquer trincheira numa qualquer cruzada por um qualquer ideal, de uns quaisquers lideres que fanaticamente acreditam na sua razão e para isso enviam uma quantidade de agressores para com muita misericordia e porque são muito simpáticos provar gentilmente ao "inimigo" que eles (nós) temos razão e por isso é que vos estamos a matar. E irão ficar muito mais felizes no futuro... enfim... morrem agora, perdem e depois, quando estiveram de joelhos percebem a nossa razão.

Reparem, não foi o este o fanatismo que Bush executou ao "libertar" o Iraque? E ao mesmo tempo persegue outros fanáticos... Terá este círculo fim...

sábado, 19 de janeiro de 2008

Venha o Diabo e escolha

Há uns dias expressei a minha preocupação por algumas tiradas perigosas e inquietantes de John McCain, um dos candidatos republicanos às presidencias americanas.

Agora, é Huckabee, outro dos candidatos, a vir a público dar conta de toda a sua boçalidade. Aqui.

Se há algum país no mundo que precisa de ser libertado, não é o Iraque, o Afeganistão ou o Irão... é a América. Da ignorância.
E a ignorância também é perigosa. Tanto ou mais que a energia nuclear... e também mata.

Um abraço

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Da grande nação democrática

No seguimento do que foi dito e comentado no Almanaque, aconselho a todos os meus caros juristas (com especial dedicatória ao Manel), que assistam hoje, bem confortáveis nos sofás de vossa casa, ao documentário que irá passar pelas 23.30 na RTP2. É produzido e realizado por Rory Kennedy e chama-se "Ghosts of Abu Ghraib". A prisão de Abu Ghraib, como deve ser do conhecimento geral, foi palco das mais atrozes barbaridades cometidas por soldados norte-americanos na cidade com o mesmo nome da prisão, em pleno Iraque, o "bastião democrático" de Bush e companhia no Médio Oriente. As vítimas foram presos iraquianos, acusados desse singelo atributo de "terroristas". Perdão, enganei-me. Acusados não; tão-somente apelidados de "terroristas". Tal como em Guantánamo, indivíduos sem acusações judiciais formalizadas nem prazos de julgamento continuam encarcerados. E pior do que isso, encarcerados em condições desumanas e sujeitos às humilhações repugnantes dos goodfellas americanos.
A ver!

Um abraço

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

do tratado da europa

Nelson, desculpa vir interromper-te o tema, só quero acrescentar uma coisinha de nada antes de estudar até dia 25, dia em que voltarei a bloggar :( tem de ser.

Os pontos-chave do Tratado de Lisboa

Novos cargos e mudanças nos modelos de decisão estão entre os aspectos mais relevantes
O novo tratado facilita a tomada de decisões e reforça a capacidade da acção externa da União Europeia.


Presidência do Conselho


O Conselho Europeu elege um presidente por maioria qualificada, por um mandato de dois anos e meio, renovável uma vez, sem poder executivo. Assim, as presidências rotativas da União Europeia terminam, mas mantêm-se ao nível de alguns conselhos de ministros.


O "ministro dos Negócios Estrangeiros europeu"


É criado o cargo de alto--representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, que funde os cargos do alto-representante para a Política Externa e do comissário para os Assuntos Externos. Concentra as vertentes intergovernamental e comunitária da acção externa (é um dos vice-presidentes da Comissão).


Decisões por maioria qualificada


A aprovação por maioria qualificada no Conselho exige uma maioria dos Estados (55 por cento, 15 Estados) e da população da União Europeia (pelo menos 65 por cento). Em cerca de 40 domínios a unanimidade deixa de ser necessária (como segurança energética ou ajuda humanitária de emergência). A unanimidade mantém-se necessária para políticas fiscal, externa, de defesa e de segurança social. Entrada em vigor em 2014. Até 2019, qualquer Estado pode pedira aplicação do sistema de Nice.


Minorias de bloqueio


Têm de reunir pelo menos 13 Estados--membros ou, em alternativa, 35,01 por cento da população (com um mínimo de quatro países). A cláusula de Ioannina, incluída numa declaração anexa ao tratado, permite que um pequeno número de Estados-membros possa ainda pedir que uma decisão seja examinada de novo.


Parlamento Europeu


A co-decisão passa a ser a regra, com algumas excepções. Passa a aprovar todas as despesas da UE. Confirma a escolha, feita pelo Conselho (por maioria qualificada) do presidente da Comissão.


Comissários


A partir de 2014 a Comissão terá um número de comissários europeus igual a dois terços do número de Estados-membros.


Parlamentos nacionais


Continuam a poder pronunciar-se sobre propostas legislativas, tendo oito semanas para as analisar quanto ao respeito pelo princípio de subsidiariedade. Se um número significativo declarar que desrespeita esse princípio, a Comissão tem de justificar a proposta legislativa, se a quiser manter.


Cooperações reforçadas


Os Estados-membros deixam de poder travar cooperações reforçadas [grupos de países que se associam para avançar mais depressa num determinado domínio da integração europeia; os países da zona euro são um exemplo de uma cooperação reforçada] de outros no domínio da política externa e de segurança comum. Grupos de cooperações reforçadas podem tomar decisões por maioria. É criada uma "cooperação estruturada permanente" no domínio da defesa para os países com mais capacidades militares.


Tribunal de Justiça


Passa a ter mais poder sobre políticas de justiça e assuntos internos, incluindo as de asilo e de imigração, com algumas excepções, como a Dinamarca e o Reino Unido.


Cidadãos europeus


Podem propor à Comissão Europeia uma dada iniciativa legislativa, precisando para tanto de reunir um milhão de assinaturas.


Personalidade jurídica


A União Europeia passa a ter uma personalidade jurídica.


Quem quiser aprofundar este resumo, veja tudo aqui.

"Brincadeira na areia"

Depois de uma tarde reservada ao estudo, entre aguaceiros e breves espreitadelas do sol, apetece-me descontrair… Como nem dinheiro tenho para beber uma cerveja e o carro está na oficina… Dei por mim, por mais estranho possa parecer, a reflectir… Esqueci tendências políticas e apeteceu-me reflectir sobre a actualidade internacional, sobre o caos “apocalíptico” que se vive um pouco por todo o globo.

Mas o que escrever? Em que tema me centrar, é tão difícil, além disso no nosso cantinho a vida segue o seu ritmo normal... “arrastando-se atrás do petróleo". Em Portugal vimos nos últimos meses empresas a fecharem, em consequência da abertura da UE ao leste, a inflação aumentar e os ordenados seguem-na umas décimas mais baixo. Basicamente é o mesmo todos os anos.

No mundo a situação aquece e dirão os mais pessimistas que caminhamos para o fim. O confronto religioso está ao rubro, inflamado por motivos políticos – A hegemonia Norte Americana no mundo é contestada (embora seja algo positivo os métodos usados não são brilhantes). Ao surgirem novas potencias que concorrem com o gigante economicamente e outras que discutem o poder militar. Países hostis adquirem armas de destruição massiva indo contra a comunidade internacional mas, afinal porque é que uns podem detê-las e outros não, aqui está uma questão interessante, quem dita quais são os bons da fita que merecem biscoitos (armas / energia nuclear) e aqueles que são os típicos “gringos” que não merecem porque iriam semear o caos, a morte e a destruição. Porque se formos a ver os próprios EUA e a própria Rússia, assim como a china e as “Coreias” em muitos aspectos violam os direitos humanos, e outros princípios democráticos. (Eu sei que não é terrorismo, mas em termos de dignidade são ambas as questões muito relevantes, não estão todos a ser cínicos? Ao proibir biscoitos a uns por serem mauzinhos, sendo eles próprios autores de actos hediondos… “ouve que eu digo, não olhes para o que eu faço?”)


Nunca antes se viu tanta morte. Chamaram à idade Media: a Idade das Trevas. Então agora denomino o actualmente de “Era do Penico” (muito leviano eu sei, mas vivemos num cantinho tão calmo, sabemos lá o que é o caos). Porque parece que a verdadeira sombra do mal aparece agora, e desculpem o calão viril português, para nos mijar em cima: conflitos, guerra, morte, invasões, sombra nuclear, sombra terrorista, atentados, suicídios, conspirações. Ocidente contra Oriente? (ali) Cristianismo contra Islamismos? (adiante). Que grande confusão, toda junta num grande barril de pólvora pronta a explodir e a levar-nos para o esquecimento. Para o oblívio.

Que saudades (embora não me recorde) quando as diferenças podiam ser resolvidas de espada na mão e com honra. Agora a morte pode visitar qualquer um em qualquer momento. Não olha a idade, sexo, ou a potencial ameaça. O Ocidente parte para a guerra para "proteger", para “libertar” o povo oprimido da perto das terras da Babilónia. ( não sei quem inventa as “estórias” deles mas até um argumentista de filmes pornográficos encontrava melhor (muito leviano outra vez, desculpem). Por seu lado o oriente trapaceiramente ceifa vidas inocentes. Uma cruzada actual, pela conversão? Pelo ódio? Uma “jihad” que contra-ataca o ocidente, semea o terror no mundo ocidental. Porquê? Vingança pelas cruzadas? Tem que existir um motivo. Não que não estejamos fartos da ditadura e do Imperialismo americano… mas sangue inocente, um orvalhar que transforma o verde da relva em rios de tom avermelhado, não obrigado! Tem que haver outra maneira


Terá isto fim? Será possível sobreviver ao “clímax” deste "barril". A resposta é difícil… e deixo ao vosso critério.

Refiro que foi só um exercício para descomprimir, mais um monte de palavras, do que um artigo bem elaborado… Simplesmente recostei-me e “escrevinhei” o que fluía da mente. ( e sim estou irritado com o livro de economia, “dass” tanto USA, tanto capitalismo… rough!!!)




Abraço

domingo, 13 de janeiro de 2008

entre a acção e o resultado

Caro edukador e shara (meu deus, os nossos nomes de blogger são ridículos, enfim, é esperar até eu fazer alusões ao "ricky maio" e isto vai ficar grotesco):


Sinceramente eu acredito que cada homem tem a sua época. E cada época tem os seus homens , que seguíram e criaram as suas tendências, e de acordo com o seu carisma, vão moldar o mundo à sua volta. Esses homens ficam na história como grandes políticos ou grandes líderes.
Acredito que talvez discordes desta minha visão, mas talvez compreendas melhor se eu te disser que as inclinações políticas do Henrique (ric...argh...ricky maio) e as minhas estão pendentes mais para o lado da direita que as tuas. Ele e eu reconhecemos na individualização do político um elemento fundamental do exercício do poder, e damos muito valor ao seu carisma. E Sarkozy, como bom francês que é, é um homem carismático, não apenas pelo seu mediatismo, mas pela sua rapidez de raciocínio. Num país que praticamente é devoto à memória de Napoleão Bonaparte, (e quem não é, principalmente entre aqueles que se reconhecem europeístas e são de influência social democrata, sendo que Bonaparte foi o inspirador do impulso europeu da França dos anos 50, 60 e 70?) a imagem de um Homem, e não de um Político, atrai as simpatias da classe média, farta da inactividade que o peso do Estado Social traz às suas finanças, atrai as simpatias dos poderes de direita, porque este "acordar da França" permite-lhe salvaguardar os seus ideais de conservadorismo e tradição, e a esquerda, porque Sarkozy fez o favor de se mostrar Humanista e apoiante das suas políticas na temática da igualdade racial e social, e afigura-se-lhe como o único homem capaz de trazer frescos capitais para o país, capitais esses vindos de uma política americanizada no estilo, mas não na obediência! Sarkozy admira o estilo com que a política externa democrática americana se movimenta! Qualquer ligação entre Sarkozy e Bush não passa de estratégica e protocolar. Nunca vemos no discurso do Presidente francês a ligeira aceitação da doutrina da administração Bush.
Dentro da UE, Sarkozy vai, como todo o líder francês, lutar por uma hegemonia maior do seu país. As querelas com a Alemanha são meras arruaças que, não dificultando o diálogo, fazem parte do milenar conflito entre alemães e franceses, pelo controle da política europeia. Os primeiros contendo a economia, os segundos a ideologia. Para mim, ambos igualmente importantes.
Quanto à sua firmeza, eu mais uma vez vou apoiar o Henrique. Admiro o combate de Sarkozy aos sindicatos. Não pelas mesmas razões que o Henrique, no entanto. Deve haver equiíbrio num estado. Os sindicatos são garantes de direitos e regalias, mas o Presidente é o garante da escolha popular, e já há muitos anos que o sistema francês funciona com uma completa ditadura sindical que tolhe os passos à iniciativa privada à economia.
Quanto à mulher de Sarkozy e da tal top-modelo... Sinceramente, acho que é mais uma prova de que Sarkozy é um respirar, um fôlego. Que tenho eu a ver com o facto de o Presidente dos Franceses molhar o pincel numa morena jeitosa, mais dia menos dia? Desde que não seja a minha morena jeitosa, pode fazê-lo quando quiser. E como sou um crente no instinto feminino, e vejo como os políticos portugueses, maioritariamente de esquerda, são tão repelentes e ofensivos às senhoras, faz-me sentir orgulhoso que da Europa centrista nasça um homem com aspecto de tal. Basta ver a carantonha de Guterres e de ferro Rodrigues, ou de Jerónimo de Sousa, e meu Deus, quem dormiu com aquilo tinha buço, caros colegas!
Isto foi uma brincadeira senhores, vamos levar o diálogo masé um pouco a sério. Menos importante que a imagem dada do homem casado que Sarkozy deu, é importante averiguar se ele cumpriu com as promessas eleitorais, e Sarkozy tem feito isso. Com quem ele anda importa-me tanto como as pedras da calçada. E ao povo também. E as direita europeia já descobriu que o povo está farto de ideologias fora de prazo, quer acção. Quer algo que lhes puxe a réstia de patriotismo e orgulho nacionalista que jaz em qualquer um de nós, e quer prosperidade e vida! É importante salientar que, em Portugal, a esquerda do PS já descobriu há muito mais tempo o fantástico poder que a Imagem do Político tem em política interna e externa, e os restantes partidos políticos estejam tão atrasados no tempo.
Convicção e pragmatismo, improviso e acções extravagantes. França é surpreendida constantemente assim como os seus colegas estrangeiros.

Este é o meu ponto de partida neste domingo escuro e chuvoso (em contradição óbvia com o Sarkozy luzidio e dinâmico do Henrique).
Antes de mais, convicção e pragmatismo não são, no meu entender, critérios. Quantos seres iluminados existem na política inundados de convicção e pragmatismo? Muitos. Se lhes perguntarmos quais deles detêm essas virtudes, todos dirão de forma muito séria e confiante que efectivamente as possuem. Mas já que este ponto me parece particularmente subjectivo, e penso ser importante ir até ao fundo da questão, quantos estadistas convictos e pragmáticos já nos passaram pela frente, sem que isso tenha representado algo de substancial para o país? Seja o nosso, seja um outro em qualquer parte do mundo. Já para não falar de ditadores sanguinários... todos eles muito convictos e pragmáticos na sua singela governação. À convicção pessoal e governativa, Henrique, contraponho as convicções, no sentido epistemológico de ideológia e filosófia política. E quanto a este tipo de convicções, Sarkozy poucas tem (como aliás, a maior parte da classe política dominante ocidental). E as que tem são, aí sim, genuinamente pragmáticas: desregulação do mercado de trabalho (separação das pastas ministeriais do Emprego e do Trabalho, por exemplo), desmantelamento do sistema social, repressão da imigração de forma institucional (criação do "Ministério da Imigração e da Identidade Nacional"),... "pragmatismo" puro e duro. No que toca a este último ponto, só faltava, à imagem dos seus compinchas americanos, construír um muro na costa do Mediterrâneo tal é a aversão aos migrantes africanos...
Uma última palavra para o que dizes ser "improviso e acções extravagantes": desse tipo de atributos, recordo a divinal vodka russa que Putin partilhou com Sarkozy e que lhes proporcionaram momentos infindáveis de camaradagem. Improvisação e extravagância aos montes...
Na UE, Sarkozy tem resumido a sua actividade a uma aproximação notória à administração Bush e à suas políticas e a pequenas querelas com Angela Merkel. Recentemente terá reforçado a sua presença, em virtude de umas sms trocadas com Sócrates sobre esse glorioso Tratado de "Lisboa". Não vejo portanto o papel extremamente activo e empreendedor de Sarkozy em política externa.
Depois é engraçado, Henrique, como fazes mais uma vez o tipo de raciocínio paradoxal que já tinhas revelado em posts anteriores. Reconheces uma coisa como prejudicial; aceita-la; preconiza-la. Fizeste-o com Maquiavel; fizeste-o com o medo de Sócrates em submeter o tratado a referendo popular; e fazes o mesmo agora. Ora reconheces que "ele conta com o apoio dos grandes patrões dos meios de comunicação do país" (palavras tuas) mas não vês nenhum impedimento nisso. Teremos conceitos de democracia e livre informação assim tão díspares? Então o Presidente de um país detêm uma importante posição junto daqueles que informam (e formatam) os cidadãos, e está tudo bem? Viva Berlusconi!! E quanto à vida privada de Sarkozy, meu caro Henrique, se ele fizesse a cuidadosa gestão da mesma que dizes fazer, nós não saberíamos, sem precisarmos de ler revistas cor de rosa, que o homem foi deixado pela mulher porque esta tinha um amante ou que entretanto anda perdido de amores pela cantora e escritora Carla Bruni (pudera, também eu me perderia de amores!).

Passemos agora aos pontos por ti focados:
1. Não sei que personalidades de extrema-esquerda serão essas que Sarko foi recrutar. Quantos às ditas de "esquerda", isso foi efectivamente feito e é de louvar. Por outro lado, é de questionar o convite aceite por essas mesmas personalidades de esquerda, quando estamos a falar de um Governo ultra-liberal como pretender ser o de Sarkozy. Onde estão as convicções de que falamos há pouco? A nomeação das três mulheres de raízes africanas (Rama Yade nos Direitos Humanos, Fadela Amara na Habitação e Urbanismo e Rachida Dati) são sem dúvida sinais muito positivos! O já citado Ministério da Imigração e da Identidade Nacional é que mancha esse progresso...

2. Sarkozy aproximou-se, como já tinha dito atrás, dos EUA. Hm... e? Quais são os dividendos dái retirados que eu não consigo ver? Colaboração e conivência com uma administração corrupta, totalmente descredibilizada, belicista, imperialista (é-o de facto, caguemos nos eufemismos!) e desrespeitadora dos Direitos Humanos dos quais diz ser porta estandarte?

3. A normalização das relações com Angola, não conseguida por Chirac, tem uma explicação. É que este ainda tinha os direitos humanos e a democracia como príncipios inerentes às relações de política externa. Para Sarkozy, outros valores falam mais alto. Assim se explica, que tenha "normalizado" relações com um ditador, com todas as letras, de seu nome José Eduardo dos Santos (JES). É que a elite política europeia parece que tenta esconder este déspota dos olhares da opinião pública, preferindo só puxar as orelhas a Mugabe ou Omar Bashir. Como JES, apesar de ditador, abre o país (e o petróleo) às multinacionais estrangeiras a preços irrisórios, não convém muito chatear este senhor. Realpolitik no seu melhor...
Por isso, muitos parabéns Sr. Sarkozy: conseguiu ser amigo de um tirano que vive num espaçozinho faustoso bem isolado e diferente do seu próprio páis miserável onde, passado tanto tempo e tanto dinheiro a circular, a esmagadora maioria da população continua a viver na miséria das misérias.

Desculpa Henrique, mas o teu herói Sarkozy tem pouco de herói. Muito menos de génio. Tem muito de engenharia política, isso sim, convém. Mas também tem muito de xenófobo, muito de elitista, muito de medianismo. Sarkozy é um outro Sócrates: os mesmos programas neoliberais e a mesma postura autoritária com a agravante de incluir neste brilhante repertório tiradas racistas e perigosas. A grande diferença para Sócrates, é que Sarko tem o estilo de machão, de durão. E isso os media adoram.
Deixa-me só que te diga que em Julho, quando estive em Paris, me impressionei verdadeiramente com a quantidade de "Fuck Sarzoky" que encontrei nos postes, nas paredes, nas paragens de metro, ...

Antes de me despedir queria só tocar no post do Almanaque publicado pelo shara (Nélson) acerca de Guantánamo. Fez mais um ano em que este complexo de condições desumanas continua a receber e albergar aqueles que os reaccionários bushistas apelidam de "terroristas". É a hipocrisia americana no seu melhor. Mais uma página de ouro (a par das torturas da CIA, da prisão de Abu Ghraib e outras que tal) na história da grande nação democrática norte-americana... O tempo passa e as coisas permancem inalteráveis. O que irão dizer as gerações vindouras deste atentado à vida e à pessoa humana? Vai-lhes ser difícil de acreditar...

Um abraço

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Sarkozy, o "génio político francês"

Edukador, em relação a Sarkozy convém descrever e relatar o que ele já fez e como conseguiu até agora impulsionar a política francesa.
Convicção e pragmatismo, improviso e acções extravagantes. França é surpreendida constantemente assim como os seus colegas estrangeiros.
Na UE é um crítico; critica alicerces e políticas estruturais desta mesma (política monetária, independência do Banco Central Europeu, despreza certos pactos de Bruxelas sobre o controlo dos défices das contas públicas).
Em França, face aos media ele tem uma gestão cuidadosa (exemplo disso é a própria gestão da vida privada), aliás ele conta com o apoio dos grandes patrões dos meios de comunicação do país. (aliás podes falar da pressão que ele fez para não se publicar imagens que o desfavoreçam, "pressão anónima", mas isto seria apenas um ponto acessório e sem interesse no ponto de vista político, só se quiseres vir com palavras despropositadas de ditadura e de controlo. . . DESPROPOSITADO!)
Aprecio em Sarkozy a sua arrogância (necessária para se manter firme e levar a cabo as suas políticas de maneira a que o sucesso destas não sofra com instabilidades e inseguranças); alias o tom descomplexado dele, a simplicidade com que gere e lida com polémicas "ao menos as minhas férias não custam um tostão ao país!"
Ele fez com que desaparecesse "estilo monárquico do Eliseu" (ver expresso); empurrou o seu PM para uma posição claramente secundária na hierarquia republicana francesa; hoje, os conselheiros presidenciais passam a ter um grande protagonismo que outrora não lhes era atribuído; os ministros são em prática meros secretários do Estado.
MAIS:
  1. formou um governo com personalidades de esquerda e até de extrema esquerda; fez mergulhar os socialistas numa crise existencial e, ainda trouxe representantes das comunidades árabes e negras;
  2. Aproximou o país aos EUA no âmbito da política externa e ainda, manteve a política de alianças em África (tranquilizando todos os presidentes do continente negro)
  3. Normalizou as relações com Angola (algo que não aconteceria com Chirac)
  4. Ainda na política eterna vemos o seu ritmo estonteante vendo o número de reuniões sobre os mais variados temas, desde o poder de compra as negociações salariais na Função Pública.,
  5. Ainda haveria muito mais para descrever este ritmo estonteante deste político, e só está lá desde Junho, numa palavra é IMPRESSIONANTE!

É um reformista!! O único cepticismo que lhe pode ser apontado é de até que ponto ele aguentará este ritmo, aguentará fazer tudo e mais alguma coisa na estrutura política francesa.

"gargalhadas com Sarkozy"? não vejo como. . . ele consegue levar a França a bom porto, consegue dar lhe evolução, consegue modificar, consegue ser protagonista, consegue atenuar diferenças e promover o respeito, consegue moldar os alicerces mais antigos do edifício político francês. . . não ter Sarkozy como exemplo será algo insano (desculpem o extremismo)!!

É mesmo um "animal político" não duvides (alias nem que o quisesses satirizar literalmente como um animal, pois essa crítica para ele de nada teria de impeditivo e continuaria exactamente no mesmo ritmo, com a mesma mecânica descomplexada) mas Sarkozy representa a política como uma arte, pois ele sabe impor-se, sabe separar política de vida privada, sabe dar as pérolas destas para continuar na boa graça de todos, e, ainda quando outros abusam da figura dele, ele é capaz de forma directa e em público dizer e reafirmar o que diz em privado, queres maior honestidade política? Ele faz política e mexe neste momento na estrutura externa, por outras palavras na UE como ninguém . . . Ele é genial, sem barreiras. . . Para ele obstáculos não existem ou melhor obstáculo para este político francês não é um medo ou algo que o faça recuar apenas algo que com a devida atenção é "dócil" e profundamente simples de se resolver. . . .

Sarkozy é o político mais activo actual. . . digamos que apresenta altos níveis de eficiência, apresenta resultados!!!!!

"I Don't feel pressure! I'm the special one"!! Sim ele é neste momento o verdadeiro político europeu, o que esta palavra representa literalmente sem filosofias ou idealismos. . .

Tratado, referendo e representação

"É fundamental que quando se faz política se tenha verticalidade. Rasgar um compromisso é preverter a representação democrática."
A frase é da deputada Ana Drago do BE e sintetiza a minha opinião sobre tudo o que temos vindo a discutir.

i'm dead socialist guy

"Para opiniões diversificadas sobre o assunto do referendo, ver isto, isto e isto.

A questão do referendo passa por, na opinião do governo, de uma "ética de responsabilidade", de forma a não transformar a decisão de um possível referendo num factor positivo para o executivo.
A verdade é que, tentando responder aos meus colegas, um referendo sobre a questão do Tratado levaria muito provavelmente a uma resposta negativa por parte da população, não devido ao conteúdo do Tratado, mas antes como forma de protesto à acção do Governo de Sócrates.
O meu medo é que os defensores do referendo actuem como defensores do "Não" ao Tratado, o que é o mais provável. A complexidade de informações contidas no Tratado não é passível de ser analisado pelo cidadão comum. Não, não estou a chamar o povo de "burro", estou a tomar a posição de Vital Moreira, que defende que um referendo sobre uma questão tão inacessível seria aproveitada pela oposição para lançar a sua campanha contra o governo, e assim arriscar uma questão tão importante como a do referendo para conseguir singrar no panorama nacional.
Eu sou defensor do referendo enquanto direito do cidadão, enquanto mecanismo importantíssimo do Estado, mas é necessário observar que neste contexto um referendo sobre a UE iria incidir, na mentalidade do cidadão comum, na continuidade do actual Governo. E acabaria por servir apenas como um voto de desconfiança e uma desautorização lançados pelo povo Português, ficando o Tratado assim sacrificado aos caprichos políticos.

Por mais que me custe, tenho de observar a posição de Sócrates como uma posição válida e a única adequável, porque todos os que são pelo Tratado sabem que um referendo, numa época de contestação ao actual Executivo, traria consequências, imprevistas pelos eleitores, ao País.
Por muito importante que seja esta decisão, eu creio que a distancia que os portugueses têm da "coisa europeia" e o facto de estarem vulneráveis a manipulações políticas que não olhariam a nada, nem à integridade de um Tratado, para dar um rombo golpe na administração de Sócrates."

directamente direccionado daqui. Duh.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

do tratado

Em segundo lugar, não se justifica fazer um referendo porque a ratificação pelo Parlamento é tão legítima e democrática como a ratificação referendária. Mais: a realização de um referendo em Portugal iria pôr em xeque, sem qualquer fundamento, a plena legitimidade da ratificação pelos parlamentos nacionais que está a ser feita em todos os outros países europeus que, podendo escolher, optaram pela ratificação parlamentar considerando que o referendo não se justifica.

para mais, ver aqui

pérolas da assembleia (3)

Jerónimo de Sousa diz que o Primeiro-Ministro comete um erro próprio das classes governantes portuguesas desde 1383 ao afectar a soberania nacional através da não realização de um referendo sobre o Tratado de Lisboa.

O Primeiro-Ministro diz que o senhor Jerónimo de Sousa, quando lhe adita, faz os referendos que quer, porque ainda há pouco tempo recusou a realização de um referendo (aborto).

O senhor Jerónimo de Sousa diz que não tem nada a ver, gagueja um pouquinho e senta-se resmungando com a artrite.

pérolas da assembleia (2)

Alguém pode dizer ao Jerónimo de Sousa para falar ao microfone, que está difícil ouvi-lo?

pérolas da assembleia

Alguém pode dizer ao Paulo Portas quanto subiu o preço da água, da manteiga, dos transportes públicos, do pão e dos electrodomésticos?

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

finalmente, temos mulher!

Daniela:

Primeiro, quero referir que o autocorrector do meu computador não aceita o teu nome. Por isso, sempre que eu o escrever vai-me aparecer no meu visor uma linha vermelha por debaixo dele, o que até condiz com as tuas simpatias políticas.
Segundo, acho que o protesto da inconstitucionalidade dos partidos políticos se direccionava directamente à inconstitucionalidade da lei.

Infelizmente, mesmo levando a questão a Tribunal Constitucional, os partidos pequenos não vão conseguir grandes objectivos. Por muito que gozem da protecção do artigo 114º número 2 ("É reconhecido às minorias o direito de oposição democrática, nos termos da Constituição e da lei.") este é passível de ser interpretado de várias formas, e a lei não o contradiz.
Sinceramente, eu acho um pouco injustificável a questão dos subsídios dados aos partidos políticos como razão maior do conteúdo da lei.
Se uma das obrigações do Estado não for propiciar e facilitar aos cidadãos a expressão das suas convicções políticas, então não sei qual é. Sinceramente, acho que esta é uma questão que fica a cargo não da vontade constitucional mas sim dos poucos casos em que a vontade do poder político se pode decidir tendo apenas em conta o seu perfil ideológico e o seu carácter moral. Como eu não aprecio nem a actual ideologia do Partido Socialista nem muito menos o seu carácter moral, (e Henrique deixa-me com as tuas teorias sobre moralidade e amoralidade que eu já não te posso ouvir) abstenho-me de mais comentários.
Uma decisão destas passa sorrateiramente por entre os dedos dos cidadãos por causa do total desprezo do português pela res publica, ou melhor, o assunto público, tudo porque falar em latim dá-me umas ganas do caraças.

Um país de 11 milhões de habitantes não tem a temer a representação de 5mil na sua assembleia legislativa. Nem muito mais de 10 mil habitantes. Deve no entanto respeitar a sua existência enquanto organização política empenhada na defesa dos seus interesses. Mesmo que o seu objectivo não seja a obtenção do poder! Porque eu não acho nada que um partido deva apenas almejar o poder político.
Alguns partidos devem funcionar como elementos de activa luta e protesto, e garantes até de uma camada populacional demasiado pequena para assegurar representação política, mas que ainda assim merece ser ouvida, sob pena de não estarmos a ser democracia, mas sim outra coisa qualquer que se nos assemelha como mais propícia à nossa bolsa e mais fácil de lidar.
Eu considero isso como uma prerrogativa essencial de um Estado de Direito Democrático Social, e não concordo minimamente com a desculpa da establilidade governamental para, num país ideologicamente unitário haja o medo de que pequenos partidos perfurem a sacra integralidade do Parlamento ou que provoquem rombos desmesuráveis no orçamento.

Democrático ou anti-democrático?

Há umas semanas atrás discutiu-se na comunicação social a entrega das listas de filiados dos partidos políticos ao Tribunal Constitucional, para este mesmo proceder à fiscalização das listas e extinguir os partidos políticos com menos de 5000 filiados. Os partidos mais pequenos não gostaram de tal ideia e decidiram que tinham de denunciar a medida inconstitucional e surgida não sabiam eles de onde.

Partindo do princípio de quando formaram o partido tiveram de consultar a legislação que regula a sua actividade, orçamento, etc, certamente devem também ter procedido à leitura da actualização da legislação nessa matéria. Se assim fosse, saberiam que na lei orgânica nº 2/2003 de 22 de Agosto art.18º/1/b, prevê a extinção judicial dos partidos onde se verifique a “redução do número de filiados a menos de 5000”. Logo, de facto se calhar tinham mesmo de apresentar a lista de filiados no Tribunal Constitucional, que terá de proceder à análise dos dados e extinguir os partidos que não cumpram a lei.

Quanto à ideia de que a extinção é inconstitucional, a afirmação é absurda, principalmente partindo de presidentes de partidos políticos, que deveriam ter informação sobre aquilo a que pretendem aceder (ao exercício do poder político), compreendendo minimamente o fenómeno político. Primeiro porque é o próprio Tribunal Constitucional que fiscaliza a validade dos dados fornecidos pelos partidos, sendo irracional o Tribunal Constitucional efectivar uma lei inconstitucional, depois porque no preâmbulo da mesma lei se pode ter que “A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161º da Constituição…”, sendo que nos termos é de acordo com a constituição e o que está de acordo com a constituição não é inconstitucional.

O que pode ser discutido é se a lei é anti-democrática, se extinguir os partidos com menos de 5000 militantes limita a liberdade de escolha partidária dos portugueses, ou se é uma medida necessária para a manutenção da própria democracia. Por outro lado, também temos o facto de o financiamento dos partidos políticos tirar avultadas quantias do bolso do Estado que poderia ser usado para outros fins mais importantes.

Portugal prime por uma democracia representativa que é também uma democracia inclusiva, o que significa, no caso da primeira que os deputados eleitos representam todos os cidadãos e não apenas aqueles que neles votaram, e no da segunda, que as minorias são incluídas na vida política nacional, o que de certa forma garante que todas as correntes de opinião são discutidas no parlamento (pelo menos na teoria), não sendo propriamente necessário existirem partidos cuja representatividade é menor do que aquela que é necessária para criar esse mesmo partido (a inscrição de um partido político tem de ser requerida pelo menos por 7500 cidadãos eleitores).

Além disso, a existência de um multipartidarismo atomizado contribui para a instabilidade política, pois fragmenta as opiniões e retira força aos partidos com representatividade na assembleia. Além de que muitos não são verdadeiramente atractivos para os eleitores, o que se traduz na sua fraca expressividade, de muitos nunca ouvimos sequer falar.

Mas será que limitar a existência de um partido ao número de filiados é democrático? Ou é democrático precisamente usar este critério para impedir a fragmentação ideológica e partidária?

quid iuris?

(e aqui fica a minha primeira participação no meio deste homens de barba rija, assim empenhados na defesa do direito)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Maquiavel! Oh, maquiavel!

"Sou profundo defensor de Maquiavel".
Digo e volto a dizer. . . vamos por partes:
Maquiavel apoia que exista uma autoridade política forte, que se saiba manter no poder, que não seja volátil e fraca. . . . carismático diria em extrema histeria (podes pegar por aqui numa resposta seguinte, mas não adoptes a histeria de Freud). Ele fez um manual técnico, não satirizou (isso sim fez Erasmo), não procurou eufemismos para o fenómeno político, procurou ser real e dar razão aos políticos do seu tempo quando eram desarmados pela contestação de um povo muitas vezes iludido sobre a sua própria realidade. O fim último da política tem q ser visto do ponto pessoal de cada um. . . rejeitemos por momentos a ideia de instituição rejeitemos por momentos a nossa própria AR e olhemos individualmente não para a pessoa colectiva Estado mas sim para as pessoas individuais que lá estão. .. todas elas trabalham por um objectivo comum, colectivo, diria Platão "o interesse geral", mas cada uma dessas pessoas não desejaria mais e mais poder, não quererá q a sua figura se transmute constantemente pela história e marque as realidades vindouras? Isto é, será que as pessoas não quererão ser eternas? Partindo do pressuposto que Cícero é eterno pelo que fez então todos nós poderemos querer sê-lo, não?!!! Parto do pressuposto que o ser humano vive e crê somente em si, ele quer sempre algo, não é "cordeiro" (uso e abuso desta expressão, mas é simbolizadora de uma imagem pessimista do próprio homem; peço desculpa se não acredito na humanização de Erasmo, se sei que a realidade não é algo de bom, não é uma constante apologia da paz).
Falaste do desempenho (no outro âmbito da questão do poder) e respondo te SIM, também serão factores de avaliação do desempenho e contribuiriam para uma maior manutenção da mesma pessoa no mesmo cargo, repara que se o presidente de alguma associação tiver o contentamento dos seus trabalhadores ninguém o pensará em destituir, não é verdade? Assim, tudo contribui para este fim último de Maquiavel "conquista e manutenção do poder".
Sem dúvida que a instabilidade é a outra face do poder: das duas uma ou alguém se perpetua e se mantém ou acaba por perder o seu posto, não é verdade? Os homens são sensíveis a fábula da mudança, isto é se o que está lá me contradiz então metemos nesse mesmo posto outro que está de acordo com o meu pensamento, chama-se a isto a esperança do "povo", a crença que faz com que constantemente (olha para o nosso país) as mudanças políticas sejam sempre contínuas. . . das duas uma ou por ex. o PS dá agora ao povo as suas pérolas do sonho, o seu baixar de impostos, os seus aumentos ou PSD será eleito ... sempre na mesma fábula de que se um não faz o outro promete resolve e fará. . .
Quanto à questão dos totalitarismos, queres saber a minha fraqueza em relação a teoria de Maquiavel? em relação ao "sou um defensor profundo"? bem, claro que "tenho coração e sei reconhecer extremos e sei que Maquiavel apoiaria um regime totalitário, desde que se mantivesse por muito tempo, talvez Salazar fosse júbilo para Maquiavel (tanto tempo de governação). . . Mas, nesta minha fraqueza de não aceitação, eu defendo-me com aquilo que chamo de contextualização actual, não se pode e dizes tu muito bem pegar textualmente em algo passado e aplicá-lo na realidade de hoje, aliás se leres um dos outros posts chega uma altura em que refiro a "moeda da política" e essa sim é a realidade maquiavélica que defendo nos nossos dias, o mal na política existe como uma das faces da moeda, na outra? acrescenta o humanista que queiras acrescentar, faz parte e é bem vindo para não se resvalar em regimes totalitários.
Quanto a Hobbes associá-lo a Maquiavel é fácil para perceberes o meu ponto de vista, é NATURAL que o homem seja da forma como Hobbes o descreveu, como diria Santo Agostinho até a melhor das pessoas tb "peca" (entende este pecado não no fenómeno religioso, mas sim na cobiça e ganância próprias de quem está no poder).
Não louvar Péricles?! Qual é o político hoje que se sujeitaria constantemente a eleições, repara no PS (insisto muito na actualidade deste partido mas acho pertinente), se eles se dispusessem a eleições um ano após o começo da governação provavelmente hoje não estariam lá! Aliás nenhum partido se manteria mais que um ano caso o povo tivesse descontente.. .. E claro que louvar péricles é possível, falaste de contextualização, por isso é a simples questão de transmutares um acontecimento passado para o presente e ver se era ou não possível, se não louvares Péricles, não louvas a democracia (não respondas a isto com a escravatura pois se trouxeres Péricles até hoje seria diferente; atende aos homens do passado não tanto com a sua época mas sim pelas suas doutrinas intemporais e a de Péricles é a democracia tal como a de Xenofonte a ditadura assim como Platão o comunismo e assim sucessivamente; o que quero dizer é para não fazeres a análise histórica nem filosófica mas sim a análise política).
Pegaste no 24h!!!! Boa jogada, mas atende que não podes chamar aos EUA a face maquiavélica (tal como falou o III anónimo no seu post); ninguém que está no poder dirá que é mau,´faz isto e assim, deixa -se corromper e assim, ninguém demonstra a sua face maquiavélica. . . EUA são os polícias do mundo e partindo desta posição fazem o que bem entendem, seguindo sempre o que les chamam de "políticas necessárias para o interesse geral".
"Sou defensor de Maquiavel", comigo o trago para os dias de hoje e vejo-o em tudo o sítio e toda a parte, em mim, em vós, Maquiavel, técnico, politólogo, genial pela forma como abordou a política. Maquiavel está sempre na face escondida do poder. . . acusem me de idealista, de pessimista, de conservador, de amoralista, de defensor de maldades, chamem lhe o que quiserem não aceitar Maquiavel é negar uma verdade política, actual e imutável. . . até ao fim dos nossos dias haverá sempre este debate. . . Maquiavel estará sempre lá. . . Pela simples e única razão que poder é a faculdade de mandar e de se fazer obedecer, pela única e simples razão que conquistar e manter o poder é algo que todos nós ambicionamos. . . e se o conseguíssemos, se conseguíssemos estar no poder não pensaríamos a toda a hora, todos os dias o que seria se o conseguíssemos manter, se conseguíssemos nos tornar eternos pelos nossos actos (profundo idealismo meu, mas a minha posição resume-se à mistura de ambição pessoal, poder e conquista deste, reconhecimento que os erros políticos são fatais).
Não critiquem Maquiavel, ele não era tão amoral como o descrevem, afinal "deve-se fazer o bem sempre que possível" ("mas o mal sempre que necessário).
Viva!

Finalmente ganho algum tempo para a blogosfera.
Ricky, há muito tempo que estou para comentar os teus escritos. Por falta de tempo não o pude fazer nem aqui, nem no Almanaque.

Vamos então por partes, visto que entretanto as dissertações se foram alongando.

1. Maquiavel
Começo por uma citação tua: Sou profundo defensor de Maquiavel.
Mas o que é ser defensor de Maquiavel? Acho muito complicado poderes afirmar isso de forma tão peremptória. Em primeiro lugar, pela eterna dúvida quanto ao maquiavelismo: será ele um manual ou lição de instruções e conselhos a um político ou chefe de uma comunidade? Ou será um relato e uma constatação clara e corajosa dos meandros políticos? E admitindo-se esta última, será então uma gigante sátira e crítica à classe política do seu tempo? Ou será apenas um alerta às gerações futuras? Questões demasiado importantes, no meu entender, para serem contornadas.
Por outro lado, insisto, como ser defensor de Maquiavel? As ideias, por mais intemporais que sejam, têm o seu contexto e local de aplicação. Penso ser incorrecto e distorcido (e até um pouco ingénuo) acreditar que o fim último da Política seja o de Maquiavel: conquistar e manter o poder político. Acreditas mesmo nisto? A política e o poder não são só isso. Podem ser, e acredito que para muitos o seja. Mas não é, nunca foi e dificilmente virá a ser. Porque uma coisa é quebrar barreiras morais e religiosas na análise ao fenómeno político; e aí acho ser unânime que assim se faça, glória seja feita a Maquiavel. Outra coisa é, baseando-se num conceito de amoralidade, generalizarmos fenómenos de uma forma uniforme, sem atender a especificidades complexas e importantíssimas. O fim último da Política não é conquistar e manter o poder, insisto. Poderia recorrer às definições filosóficas gregas do termo ou a pensadores mais próximos de nós, mas penso ser desnecessário; considero mais relevante a perspectiva pessoal de cada um. E aqui, a minha perspectiva (utópica, ingénua, inocente, chamem-lhe o que quiserem) é claramente outra: o fim último da Política será sempre o que está na sua génese: o bem-estar dos Homem. Sempre; em qualquer parte do mundo; em qualquer altura da História.
Engraçado é também o único fim que colocas como hipótese contrária à "conquista e manutenção do poder": instabilidade. São portantos estas duas, do teu entender, as únicas motivações do homem enquanto autoridade de uma comunidade de homens? Repara que fazer política não é apenas um fenómeno inerente a um Estado ou Governo. Podes fazer política como chefe de um departamento de trabalho, composto por numerosos indivíduos. Serão a instabilidade e a "conquista e a manutenção do poder" as únicas saídas possíveis para a realização da tarefa? Ou a tua reputação, a dos teus trabalhadores, a tua satisfação, a dos teus trabalhadores, a tua motivação, a dos teus trabalhadores,... constituirão também factores de avaliação do teu desempenho?
Ainda sobre a (a)moralidade, tocas noutro ponto interessante. Portanto, dizes tu que a amoralidade legitima que não faça sentido que o homem distinga entre regimes sãos ou bons e regimes degenerados ou maus. Deste ponto de vista, eu, como ser amoral que digo ser, afirmo que o regime nazi foi um regime como outro qualquer. Mais: foi apenas um mau regime porque Hitler só o conservou até à segunda guerra mundial quando o devia ter feito até hoje, porque aí sim, seria um verdadeiro e justo Príncipe. Estás a ver até onde a a amoralidade nos pode levar? Não faças dela um dogma... pode ser perigoso!
E já que me referi ao III Reich, então o que dizer dos seus meios? Se o seu fim era a "Solução final", porque não enclausurar e eliminar milhões de pessoas por serem etnica, racica ou culturalmente diferentes? Mais uma vez: cuidado com os dogmas! Não, os fins não justificam os meios. Ou podem justificar. Tal como disse no início, é fundamental termos em conta o contexto e a aplicação do que nos é dito.
Depois comparas o "idealismo puro" de Erasmo com o que consideras o virtuoso realismo de Maquiavel. Entre idealismos pacíficos e realismos cruéis, eu opto pelo primeiro...

2. No Há Discussão
Cometes, em meu entender, outra falácia, quando partes outra vez para a generalização, mas desta vez com contornos verdadeiramente totalizantes. Dizes tu que é "natural" que quando um indíviduo chega a algum cargo de chefia ou poder, tenha como objectivos primordiais a acumulação de prestígio e a manutenção desse cargo. Antes de mais, não percebo como é que, tendo essa concepção conspirativa do poder, possas mesmo assim idolatrar Maquiavel. Consideras os políticos autênticas máquinas do poder e da ganância (embora muitos de facto o sejam), mas depois apoias o realismo de Maquiavel. Em que ficamos? Reconheces o que de errado se passa mas depois preconiza-lo? Não haverá outra solução?
Não, desculpa, mas não concordo contigo. A natureza do homem não é essa, ou não é sempre essa. Eu pelo menos acredito e quero continuar a acreditar nisso. Rosseuanismo, talvez. E aqui podemos incluir Hobbes, que tu próprio mencionaste e precisamente pela concepção da natureza do homem que ele elabora. Antes de mais, digo-te que, de todos os autores abordados, ele e Marx (embora este já seja uma paixão antiga) foram os que mais me fascinaram. Mas o facto de Hobbes me fascinar não implica que reconheca veracidade (completa, pelo menos) às suas construções teóricas. Hobbes, na minha opinião, erra em alguns aspectos. E o primeiro, e talvez o mais importante, é até exterior a ele e reforça o que tenho vindo a salientar neste texto. É imprescindível uma contextualização histórica das ideias e pensamentos. Ora Hobbes, como é do vosso conhecimento, escreve em pleno caos e desordem civil e em função de um regime que pretende apoiar como solução para a anarquia reinante. Qual seria a concepção da natureza do homem de Hobbes se tivesse vivido numa outra época? Uma outra nota: comprei o Leviatã há uns dias, e na extensa introdução/prefácio que Richard Tuck faz da obra refere que o autor nem sempre fez o juízo de valor do homem e das relações humanas que faz neste livro...

3. Breve nota a Péricles
Péricles foi eleito durante 15 anos, certo. Mas suponho que saibas que o conceito de "eleição" não é o que hoje conheces. Não me vou alongar muito sobre esta questão, porque os conceitos de "eleição" e "democracia" grega e de hoje são tão díspares que, na minha opinião, os 15 anos de Péricles no poder não podem ser analisados e louvados da forma que o fazes.

4. EUA e maquiavalismo
Sobre isto vou-vos dar uma sugestão pessoal.
Se quiserem compreender o fenómeno maquiavélico na administração norte-americana detenham-se umas horas a analisar e compreender a série 24 Horas. E façam-no seguindo estes pontos: data de factos e situação política americana e data da produção e estreia da série; actuação da administração no que toca ao "terrorismo" e inimigos de Jack Bauer; formas utilizadas pela administração norte-americana para a todo o custo "lutar" pelo free world e formas de actuação (!!) do herói da série; resultado da política externa da administração americana e êxito de Jack Bauer; legitimidade e credibilidade dos EUA desde que iniciou a guerra ao terrorismo e poder mediático série.
Experimentem. É tudo tão claro...

Um abraço e boa sorte para todos amanha

Empate ideológico

Sim, tudo correcto sobre a figura de Erasmo, sobre o seu tratado da Moral. . . .
Com a minha perspectiva de Maquiavel só quis evidenciar o facto de ele ser uma realidade eterna, que acompanha o homem enquanto animal político.
Erasmo é um humanista óbvio, a sua doutrina teve apenas um problema de maior, 4 anos depois de ele escrever "A educação do Príncipe Cristão" Lutero rompe com a igreja católica. . . como tal muito do que Erasmo disse não foi acatado. . . Mas é de louvar a sua perspectiva "utópica" (acertaste em cheio!!!! era de facto o ponto em que iria pegar para criticar novamente Erasmo) que mesmo o sendo é algo a ter em conta. . . . mas mais uma vez o digo, o Homem não é cordeiro" (perspectiva negativa, lembremos Santo Agostinho ou Hobbes ou até o próprio Lutero). E enquanto "desleal" e obsessivo o Homem continuará na sua luta eterna pelo prestígio, pela ambição. . . . e isso não é necessariamente mau, desde que regrado claro e aí defendo mais uma vez quer Cícero quer péricles (grande homem esta último, influência pessoal extrema em Atenas, ele teve 15 anos a governar sempre submetendo-se a eleições. . . notem o SEMPRE).
Enfim, não sendo uma resposta nem tentando contradizer nada do que disseste. . . termina-se assim o confronto Maquaivel vs. Erasmo!!! Talvez noutra altura surja mais algum confronto entre personalidades históricas. . . .
E porque não começarmos com um "actual" Locke vs Hobbes!!!!!
Abraço!!!

domingo, 6 de janeiro de 2008

mais um pouco de erasmo e pronto!

caro Ricky:

Tanta controvérsia, "and all we got was this louzy t-shirt!"
Maquiavel foi e é um homem brilhante, um verdadeiro politólogo. Aquilo que eu quero te mostrar, no entanto, é que Erasmo não é um politólogo! O "Institutio Principis Christiani" não é um manual de condita do príncipe. Erasmo nunca se mostrou muito interessado em fazer ou criar o político. Erasmo é um humanista, logo, cria e transforma o homem.
O seu objectivo não é mais do que o de observar a sociedade não pela teoria social de Maquiavel, mas através de factos práticos e de uma necessidade de instrução e moralização que ele achava serem necessários ao homem, e que a meu ver são. O seu objectivo é tornar o soberano o servo do povo. E é aí que a mensagem difere da do seu tempo, pela total originalidade, pelo sentido cristão.
O que também se deve procurar é, mais uma vez, a contextualização da obra de Erasmo. Segundo ele,"Dulce bellum inexpertis": a guerra é doce para os que não a experimentam, e deixa-me dizer-te que isto é bem verdade. No entanto, os seus concelhos foram dirigidos ao futuro imperador Carlos V, rival do especialmente maquiavélico Francisco I de França e do Sultão Solimão do Império Otomano. Ele teve de fazer muitas guerrascontra estes dois senhores aliados entre si.

A obra de Erasmno não se destina, mais uma vez, ao político. Não Henrique, e agora vou-te dar o argumento que mais podes usar contra a minha causa, mas que será o final: Erasmo era um utópico (de facto, era grande amigo de Thomas More) porque acreditava num império romano renovado, numa Europa unida nos valores cristãos da protecção ao mais fraco, numa Europa contra a poderosíssima força que se erguia do Oriente e que já tinha escravizado os povos da Grécia, Hungria e Pérsia: o Império Turco-Otomano, numa Europa apostada nos valores da intelectualização, da tolerância e do alfabetismo. Não é de pasmar o facto de o melhor programa de intercâmbio de estudantes tenha o seu nome.

Erasmo era um humanista, não um político. De facto, toda a sua vida se manteve afastado das lutas religiosas da época e sempre foi modelo de tolerância. O seu "Elogio da Loucura" é brilhantemente bem escrito, loquaz e vivo de crítica aos hábitos devassos da Igreja: "Diz-se que o anti-Cristo nascerá de uma relação entre um monge e uma freira. A ver assim quantos anti-Cristo haverá a calcorrear a Terra neste momento".
Melhor! Erasmo foi o teólogo que se atreveu a afirmar que a excitação sexual não provém do pecado, mas da natureza!

Não podemos confrontar o Homem com o Político.
Maquiavel construiu o Estado enquanto algo palpável e positivo.
Erasmo construiu uma mentalidade, um sonho, é verdade, mas sabes que mais? Não será a Europa da União um sonho de humanistas como Erasmo, Cícero e Kant? Personalidades tão distintas mas tão semelhantes no seu pensar?