domingo, 6 de janeiro de 2008

mais um pouco de erasmo e pronto!

caro Ricky:

Tanta controvérsia, "and all we got was this louzy t-shirt!"
Maquiavel foi e é um homem brilhante, um verdadeiro politólogo. Aquilo que eu quero te mostrar, no entanto, é que Erasmo não é um politólogo! O "Institutio Principis Christiani" não é um manual de condita do príncipe. Erasmo nunca se mostrou muito interessado em fazer ou criar o político. Erasmo é um humanista, logo, cria e transforma o homem.
O seu objectivo não é mais do que o de observar a sociedade não pela teoria social de Maquiavel, mas através de factos práticos e de uma necessidade de instrução e moralização que ele achava serem necessários ao homem, e que a meu ver são. O seu objectivo é tornar o soberano o servo do povo. E é aí que a mensagem difere da do seu tempo, pela total originalidade, pelo sentido cristão.
O que também se deve procurar é, mais uma vez, a contextualização da obra de Erasmo. Segundo ele,"Dulce bellum inexpertis": a guerra é doce para os que não a experimentam, e deixa-me dizer-te que isto é bem verdade. No entanto, os seus concelhos foram dirigidos ao futuro imperador Carlos V, rival do especialmente maquiavélico Francisco I de França e do Sultão Solimão do Império Otomano. Ele teve de fazer muitas guerrascontra estes dois senhores aliados entre si.

A obra de Erasmno não se destina, mais uma vez, ao político. Não Henrique, e agora vou-te dar o argumento que mais podes usar contra a minha causa, mas que será o final: Erasmo era um utópico (de facto, era grande amigo de Thomas More) porque acreditava num império romano renovado, numa Europa unida nos valores cristãos da protecção ao mais fraco, numa Europa contra a poderosíssima força que se erguia do Oriente e que já tinha escravizado os povos da Grécia, Hungria e Pérsia: o Império Turco-Otomano, numa Europa apostada nos valores da intelectualização, da tolerância e do alfabetismo. Não é de pasmar o facto de o melhor programa de intercâmbio de estudantes tenha o seu nome.

Erasmo era um humanista, não um político. De facto, toda a sua vida se manteve afastado das lutas religiosas da época e sempre foi modelo de tolerância. O seu "Elogio da Loucura" é brilhantemente bem escrito, loquaz e vivo de crítica aos hábitos devassos da Igreja: "Diz-se que o anti-Cristo nascerá de uma relação entre um monge e uma freira. A ver assim quantos anti-Cristo haverá a calcorrear a Terra neste momento".
Melhor! Erasmo foi o teólogo que se atreveu a afirmar que a excitação sexual não provém do pecado, mas da natureza!

Não podemos confrontar o Homem com o Político.
Maquiavel construiu o Estado enquanto algo palpável e positivo.
Erasmo construiu uma mentalidade, um sonho, é verdade, mas sabes que mais? Não será a Europa da União um sonho de humanistas como Erasmo, Cícero e Kant? Personalidades tão distintas mas tão semelhantes no seu pensar?

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