domingo, 6 de janeiro de 2008

"Mais e mais Maquiavel"

No ponto de vista de um historiador dos ideais políticos podemos adoptar 3 perspectivas (histórica; filosófica e política). Assim, cabe descrever os ideias e tentar contextualizá-los actualmente, isto é será que ideais passados tiveram repercussões actuais?! Só assim podemos dizer por exemplo que o debate político actual se baseia entre as posições de Locke ou de Hobbes. (outra discussão pertinente a ter noutra altura).
Contextualizando Maquiavel historicamente vemos que ele teve a ousadia de demonstrar o que até então não era justificável mas era praticado. Desde sempre que os políticos praticavam o "mal" nos seus actos governativos mas não tinham desculpas racionais sendo, por conseguinte moralmente condenáveis. Maquiavel enquanto politólogo e não político defende, o que até hoje se percebe pela própria natureza do Homem "mais e mais poder", a eterna vontade e obsessão; defende a conquista e manutenção do poder, sejamos justos; quando alguém toma conta de uma força política partidária actual ele pretende não só prestígio como se manter nessa posição dominante durante muito tempo, é NATURAL!
(pedindo desculpa talvez pela repetição de algumas partes do post do almanaque escrito anteriormente, mas vejo a como necessária)´
O Príncipe é uma gramática do poder; Maquiavel é revolucionário, é o 1º analista moderno do poder; é o "Cristóvão Colombo da política" (ver a obra de Freitas do Amaral).
Maquiavel é o 1º autor a utilizar a palavra "Estado" com o sentido que ela assume actualmente (coincide com a época, época essa em que o conceito de Estado Moderno vem à luz, tendo aqui o III anónimo razão). Temos que ter em conta que Maquiavel é defensor da república mas notemos mais uma vez a sua celebre frase "república sempre que possível, monarquia sempre que necessário" paralelamente à outra frase do mesmo autor "fazer o bem sempre que possível e o mal sempre que necessário". Aliás, para Maquiavel ditadura não é sinónimo de Monarquia.
Poderia exemplificar o nacionalismo de Maquiavel mas não é necessário ( de notar que ele foi nacionalista quando na Itália ainda não havia um Estado nacional e unificado; "amo a minha pátria mais do que a minha alma").
Falemos (sem mais demoras) do amoralismo político e o porquê da sua importância. "tudo o que for necessário para manter o poder do Estado é legítimo"; "os fins justificam os meios". Assiste-se à adopção de uma moral diferente para julgar a acção política, a absolvição dos comportamentos eticamente reprováveis por terem em vista os interesses superiores da colectividade (aqui entrará Erasmo como irei referir mais à frente). Maquiavel é a "desculpa para os detentores do poder" (já desejada anteriormente por todos os governantes).
Erasmo de Roterdão tem que ser posto sempre no oposto da balança política com Maquiavel, nunca mas nunca se poderá dizer que "a posição de Maquiavel deve ser unida à de Erasmo", Erasmo afirma a concepção religiosa do mundo e do homem e Maquiavel nega-a; ele subordina sempre a acção dos governantes aos ditames de uma ética exigente; ele apoia uma política de serviço ele faz a apologia da paz; mas o pensamento de Erasmo tem inúmeras fraquezas principalmente a questão religiosa própria da época!! Aliás, digam de vossa justiça - um Estado prestes a ser anexado se não guerrear, segundo Maquiavel tudo era justo para evitar esta situação, segundo Erasmo, bem digamos que ele não era defensor da guerra e defendia que o príncipe cristão não deveria provocar o sofrimento dos seus súbditos pelos caprichos da guerra (em qualquer situação; claro que isto é uma visão extrema). Aliás e poupem-me os moralismos, quando alguém chega ao poder tem que saber lidar com todo o tipo de situações; Erasmo fazia do príncipe um "cordeiro" e ao longo da história o que não falta são "lobos".
Creio despropositada a referência ao império romano e aos EUA, aliás tal afirmação seria considerada heresia por ambos; mas tomemos o ponto de vista dos EUA, eles fazem de facto a guerra, tentam justificar algo sem justificação, mas eles apercebem-se que neste mundo actual há coisas que não se resolvem com a fábula da "diplomacia", que belo mundo estaríamos nós!! Seria vivermos na ilusão!!! Tomemos Hobbes por consideração, nós somos desconfiados, o ser humano vive do medo e sempre viverá; não podemos acreditar sempre na força da palavra (que belo ideal é, mas é inconcretizável!!! não nos deixemos enganar, acordemos para o mundo e para a realidade envolvente). Enganar o povo, os políticos de hoje sabem que é essencial em momentos chave, pensem lá um bom bocado: não será óbvio que Sócrates baixará os impostos e dará ao povo as suas "pérolas" que tanto desejam neste último ano antes das eleições?! Não será isto uma aplicação atenuada de Maquiavel?! Claro que Maquiavel actualmente é impraticável "palavra por palavra", aliás nós somos democratas. . . Raios!!! pensem um bocado e acreditem que Maquiavel existe e existirá sempre na política, ele está lá, disfarçado, mas existe; simplesmente há políticos que o demonstram constantemente, são os Estados autoritários (ou como se devem chamar no debate político actual, os Estados Hobbesianos); há outros políticos, os democratas que se apercebem da necessidade de desenvolver um poder político forte, mas claro que se têm que submeter à ética!!!
Referiste Bodin. . . "mmmm"..... Bodin é um dos maiores pensadores de transição e aqui é mais de transição do que alguma vez Maquiavel seria; Bodin é notável mas comete vários erros, mas sendo preciso, repara nisto ele critica a concepção de Maquiavel por este ter colocado como duplo fundamento da República a impiedade e justiça e por ter considerado a religião inimiga do Estado, mas repara só nestas palavras de Bodin "é melhor para a conservação de um Estado ter um príncipe rigoroso e severo" (in Freitas do Amaral). Bodin é por corolário anti-Maquiavel e maquiavélico; contradição "bela" não é?!!! Aliás e aqui tens razão num ponto, Maquiavel antecede de facto a obra de Bodin, pura e simplesmente pela simples razão de Bodin dar à teoria da razão de Estado do primeiro uma base sólida e credível.
Continuo a referir "sou defensor de Maquiavel", se lhe quiseres associar alguém nunca seria Erasmo, pois defensores da ética, da democracia da moral existiram muitos; associemos em estado puro péricles e Maquiavel; Montesquieu talvez e Maquiavel; isto para dizer a simples conclusão. . . Maquiavel é uma das faces da moeda chamada política, a outra varia de país para país; mas Maquiavel é actual, Maquiavel estará sempre presente, Maquiavel faz parte de cada um de nós pela simples razão da natureza humana (leiam as concepções de Hobbes). . . . "Mais e mais poder" (desculpem a repetição). . . "mais e mais Maquiavel".
Abraço!!!!!

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