terça-feira, 8 de janeiro de 2008

finalmente, temos mulher!

Daniela:

Primeiro, quero referir que o autocorrector do meu computador não aceita o teu nome. Por isso, sempre que eu o escrever vai-me aparecer no meu visor uma linha vermelha por debaixo dele, o que até condiz com as tuas simpatias políticas.
Segundo, acho que o protesto da inconstitucionalidade dos partidos políticos se direccionava directamente à inconstitucionalidade da lei.

Infelizmente, mesmo levando a questão a Tribunal Constitucional, os partidos pequenos não vão conseguir grandes objectivos. Por muito que gozem da protecção do artigo 114º número 2 ("É reconhecido às minorias o direito de oposição democrática, nos termos da Constituição e da lei.") este é passível de ser interpretado de várias formas, e a lei não o contradiz.
Sinceramente, eu acho um pouco injustificável a questão dos subsídios dados aos partidos políticos como razão maior do conteúdo da lei.
Se uma das obrigações do Estado não for propiciar e facilitar aos cidadãos a expressão das suas convicções políticas, então não sei qual é. Sinceramente, acho que esta é uma questão que fica a cargo não da vontade constitucional mas sim dos poucos casos em que a vontade do poder político se pode decidir tendo apenas em conta o seu perfil ideológico e o seu carácter moral. Como eu não aprecio nem a actual ideologia do Partido Socialista nem muito menos o seu carácter moral, (e Henrique deixa-me com as tuas teorias sobre moralidade e amoralidade que eu já não te posso ouvir) abstenho-me de mais comentários.
Uma decisão destas passa sorrateiramente por entre os dedos dos cidadãos por causa do total desprezo do português pela res publica, ou melhor, o assunto público, tudo porque falar em latim dá-me umas ganas do caraças.

Um país de 11 milhões de habitantes não tem a temer a representação de 5mil na sua assembleia legislativa. Nem muito mais de 10 mil habitantes. Deve no entanto respeitar a sua existência enquanto organização política empenhada na defesa dos seus interesses. Mesmo que o seu objectivo não seja a obtenção do poder! Porque eu não acho nada que um partido deva apenas almejar o poder político.
Alguns partidos devem funcionar como elementos de activa luta e protesto, e garantes até de uma camada populacional demasiado pequena para assegurar representação política, mas que ainda assim merece ser ouvida, sob pena de não estarmos a ser democracia, mas sim outra coisa qualquer que se nos assemelha como mais propícia à nossa bolsa e mais fácil de lidar.
Eu considero isso como uma prerrogativa essencial de um Estado de Direito Democrático Social, e não concordo minimamente com a desculpa da establilidade governamental para, num país ideologicamente unitário haja o medo de que pequenos partidos perfurem a sacra integralidade do Parlamento ou que provoquem rombos desmesuráveis no orçamento.

3 comentários:

Francisco disse...

A meu ver, esta questão (decisão do TC) não tem muito por onde se pegar. Resume-se a dois vectores:
Constitucionalmente: é constitucional, é legal. Enquadra-se no quadro jurídico-constitucional de um Estado de Direito.
Democraticamente: põe em causa, de facto, o conceito de democracia activa e participativa. O que me interessa se um partido tem 100, 5000 ou 20000 filiados? Desde que eu me reveja nos seus ideais e objectivos, devo ter o direito de poder colaborar com ele e, maxime votar nele. Ou será que o conceito de democracia e participação cívica e política passa agora por critérios quantitativos?!

Um abraço

D. disse...

mas não serão os critérios quantitativos por vezes necessários? quer dizer, se cada um de nós achar que tem boas ideias e decide criar um partido político, isto poderia resultar em algo bastante bizarro ao nível da política nacional. além disso, todos sabemos que a participação cívica não é necessariamente feita através de um partido político.

Francisco disse...

Quanto à não exclusividade partidária no que toca à participação cívica na democracia, estou totalmente de acordo contigo.
Já no resto, nem por isso. Bizarro ou não, isso não é critério. Também acho que homens como o Menezes ou o Portas são bizarros, quanto mais para estarem no Parlamento, e não é por isso que eles não estão e não abrem a boca para dizer alarvidades. É certo que seria complicado do ponto de vista institucional e burocrático (logo em Portugal que burocracia é fantasma!)se cada um decidisse criar o seu partido. Nem deve ser assim. Evidente. Mas não foi isso que eu quis dizer. Só penso ser castrador e perigoso estabelecer limites de forma tão rígida à democracia. Até porque a tendência é a de caminharmos para um círculo (ou circo) partidário cada vez mais pequeno e restrito a certos interesses e orientações económicas. Porque se hoje são 5000, amanhã podem ser 15000...