Daniela:
Primeiro, quero referir que o autocorrector do meu computador não aceita o teu nome. Por isso, sempre que eu o escrever vai-me aparecer no meu visor uma linha vermelha por debaixo dele, o que até condiz com as tuas simpatias políticas.
Segundo, acho que o protesto da inconstitucionalidade dos partidos políticos se direccionava directamente à inconstitucionalidade da lei.
Infelizmente, mesmo levando a questão a Tribunal Constitucional, os partidos pequenos não vão conseguir grandes objectivos. Por muito que gozem da protecção do artigo 114º número 2 ("É reconhecido às minorias o direito de oposição democrática, nos termos da Constituição e da lei.") este é passível de ser interpretado de várias formas, e a lei não o contradiz.
Sinceramente, eu acho um pouco injustificável a questão dos subsídios dados aos partidos políticos como razão maior do conteúdo da lei.
Se uma das obrigações do Estado não for propiciar e facilitar aos cidadãos a expressão das suas convicções políticas, então não sei qual é. Sinceramente, acho que esta é uma questão que fica a cargo não da vontade constitucional mas sim dos poucos casos em que a vontade do poder político se pode decidir tendo apenas em conta o seu perfil ideológico e o seu carácter moral. Como eu não aprecio nem a actual ideologia do Partido Socialista nem muito menos o seu carácter moral, (e Henrique deixa-me com as tuas teorias sobre moralidade e amoralidade que eu já não te posso ouvir) abstenho-me de mais comentários.
Uma decisão destas passa sorrateiramente por entre os dedos dos cidadãos por causa do total desprezo do português pela res publica, ou melhor, o assunto público, tudo porque falar em latim dá-me umas ganas do caraças.
Um país de 11 milhões de habitantes não tem a temer a representação de 5mil na sua assembleia legislativa. Nem muito mais de 10 mil habitantes. Deve no entanto respeitar a sua existência enquanto organização política empenhada na defesa dos seus interesses. Mesmo que o seu objectivo não seja a obtenção do poder! Porque eu não acho nada que um partido deva apenas almejar o poder político.
Alguns partidos devem funcionar como elementos de activa luta e protesto, e garantes até de uma camada populacional demasiado pequena para assegurar representação política, mas que ainda assim merece ser ouvida, sob pena de não estarmos a ser democracia, mas sim outra coisa qualquer que se nos assemelha como mais propícia à nossa bolsa e mais fácil de lidar.
Eu considero isso como uma prerrogativa essencial de um Estado de Direito Democrático Social, e não concordo minimamente com a desculpa da establilidade governamental para, num país ideologicamente unitário haja o medo de que pequenos partidos perfurem a sacra integralidade do Parlamento ou que provoquem rombos desmesuráveis no orçamento.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
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3 comentários:
A meu ver, esta questão (decisão do TC) não tem muito por onde se pegar. Resume-se a dois vectores:
Constitucionalmente: é constitucional, é legal. Enquadra-se no quadro jurídico-constitucional de um Estado de Direito.
Democraticamente: põe em causa, de facto, o conceito de democracia activa e participativa. O que me interessa se um partido tem 100, 5000 ou 20000 filiados? Desde que eu me reveja nos seus ideais e objectivos, devo ter o direito de poder colaborar com ele e, maxime votar nele. Ou será que o conceito de democracia e participação cívica e política passa agora por critérios quantitativos?!
Um abraço
mas não serão os critérios quantitativos por vezes necessários? quer dizer, se cada um de nós achar que tem boas ideias e decide criar um partido político, isto poderia resultar em algo bastante bizarro ao nível da política nacional. além disso, todos sabemos que a participação cívica não é necessariamente feita através de um partido político.
Quanto à não exclusividade partidária no que toca à participação cívica na democracia, estou totalmente de acordo contigo.
Já no resto, nem por isso. Bizarro ou não, isso não é critério. Também acho que homens como o Menezes ou o Portas são bizarros, quanto mais para estarem no Parlamento, e não é por isso que eles não estão e não abrem a boca para dizer alarvidades. É certo que seria complicado do ponto de vista institucional e burocrático (logo em Portugal que burocracia é fantasma!)se cada um decidisse criar o seu partido. Nem deve ser assim. Evidente. Mas não foi isso que eu quis dizer. Só penso ser castrador e perigoso estabelecer limites de forma tão rígida à democracia. Até porque a tendência é a de caminharmos para um círculo (ou circo) partidário cada vez mais pequeno e restrito a certos interesses e orientações económicas. Porque se hoje são 5000, amanhã podem ser 15000...
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